domingo, 7 de junho de 2009

Diario de Pernambuco

Enquanto a Marinha e a Aeronáutica se esforçam para encontrar os destroços do Airbus A330-200 da Air France - desaparecido desde o último domingo - em terra, especialistas em voo e meteorologia tentam encontrar razões para explicar o que pode ter ocasionado o acidente com a aeronave. O que se sabe é que seu último contato se deu na Zona de Convergência Intertropical, localizada na região Equatorial (veja quadro). No local, sabe-se que é comum a formação de nuvens do tipo cumulonimbus, cujo interior é formado por raios, chuvas, gelo e granizo e podem chegar a até 20 km de altura. Tudo isso somado pode ter causado alguma avaria na aeronave, acredita-se, que fez com que os pilotos perdessem o controle do avião. Mesmo que a hipótese não seja confirmada, surgem inúmeras dúvidas a respeito desta Zona - rota inevitável para os voos que atravessam o Atlântico. Quais os riscos que ela representa e o que a levou a ficar tão intensa? Será que as mudanças climáticas têm alguma influência neste fenômeno?

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Marcelo Seluchi - chefe da divisão de operações do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) - diz que a Zona de Convergência Intertropical oscila do Hemisfério Norte ao Sul e tende a se acomodar nas regiões mais quentes. Neste ano, ela ficou mais ao sul do que o normal, em decorrência do aumento da temperatura das águas do Atlântico entre 1° e 2° Celsius ao Sul do Equador. "Por esta razão, ela passou mais tempo ao sul do que passa normalmente, ocasionando, inclusive, as chuvas fortes que vimos em regiões do Norte e Nordeste do país", esclarece Marcelo, do Cptec, centro ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Para ele, este aquecimento da água é natural. Já para o meteorologista, oceanógrafo, piloto e instrutor de pilotagem de avião do Aeroclube de Pernambuco, José Oribe, as mudanças climáticas podem estar associadas com o aumento da temperatura do oceano. Segundo ele, neste período, as águas do Atlântico - na região onde possivelmente caiu o avião - atingem uma média de 28° e 32° Celsius. "Mais quente entre 2 e 3 graus do que a média dos últimos 60 anos", diz ele. "A explicação para isso pode ser a ação do homem na natureza, através da emissão de carbono lançado na atmosfera", alerta.
Segundo ele, os meses de maio, junho e julho são os que registram as temperaturas mais elevadas e, por isso, as nuvens cumulonimbus podem ser formadas com mais intensidade. Ao contrário dos meses de dezembro a abril, quando as temperaturas oscilam entre 26° e 27°. "Mas isso não significa dizer que há uma época mais apropriada para fazer voos. As aeronaves hoje são produzidas para enfrentar vários tipos de adversidades climáticas", diz.
Estudos - O coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) - também ligado ao Inpe - Osmar Pinto Júnior, diz que neste momento não há evidências científicas que possam indicar que a temperatura no Atlântico está ficando mais elevada.
No entanto, segundo Pinto Júnior, as águas do oceano sofrem com o fenômeno chamado de Polo Atlântico, que faz a temperatura das águas variar para cima ou para baixo. "Nas últimas décadas, contudo, observamos que as temperaturas estão ficando mais elevadas. A questão é saber se há uma tendência de piora e se a duração que as águas ficam quentes está ficando maior", explica. "Buscamos estas evidências o quanto antes, pois se estiverem ligadas ao aquecimento global, quanto mais cedo descobrirmos, mais cedo poderemos agir", complementa Pinto Júnior.

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