sábado, 27 de junho de 2009

Delegado diz que vai indiciar tia e prima de menina austríaca por tortura

Depoimento de médico corroborou a convicção do delegado.
Fotos tiradas no hospital mostram que Sophie sofria agressão contínua.

Alba Valéria Mendonça Do G1, no Rio

Foto: Alba Valéria Mendonça

O médico Marcelo Godoy compara as marcas do copro de Sophie com casos de maus tratos relatados na literatura médica (Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)

O depoimento do pediatra e médico legista Marcelo Godoy, prestado nesta sexta-feira (26), foi fundamental para o delegado Aguinaldo Ribeiro, da 36ª DP (Santa Cruz) ter convicção de que a menina austríaca Sophie Zanger, de 4 anos, morta no último dia 19, foi vítima de tortura.
A criança, segundo o médico, apresentava manchas de vários tipos, principalmente por pernas e braços, que caracterizam lesões provocadas em datas diferentes. Algumas, segundo Godoy, podendo ter sido feitas há até três semanas.
Sophie, que estava sob a guarda provisória da tia Giovana dos Santos, teve como causa da morte traumatismo craniano provocado por ação contundente, que pode ter sido provocada por queda ou pancada. A tia da menina disse que ela bateu com a cabeça ao cair no banho, no último dia 12. Sophie ficou internada em coma durante uma semana, antes de falecer.
A menina de 4 anos estava pesando 14 kg e, segundo os médicos, apresentava marcas e manchas roxas pelo corpo, além de sinais de desnutrição e desidratação.
“Pelos depoimentos de vizinhos e médicos, tenho a convicção de que a menina foi vítima de tortura. Não tenho mais dúvidas de que ela sofria maus tratos constantes”, disse o delegado, que pretende concluir o inquérito até a próxima terça-feira (30). Ele vai indiciar a tia Giovana e a filha dela, Lílian dos Santos, de 21 anos, por tortura com agravante de morte. 

Godoy fotografou Sophie

No dia da queda, a menina foi atendida inicialmente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Santa Cruz. Como Sophie estava inconsciente, foi levada inicialmente para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, no subúrbio, onde foi atendida por Godoy, que estava de plantão na pediatria.
Godoy contou que, como o hospital, não tem neurocirurgia, não examinou a menina detalhadamente. Mas que ficou tão impressionado com as lesões que Sophie apresentava pelo corpo que, enquanto aguardava a transferência da paciente para o Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, na Baixada Fluminense, tirou algumas fotos.

“Como ela estava com a cabeça enfaixada, não tive como ver o ferimento. Ela estava num estado de coma muito delicado. A tomografia mostrou um sangramento muito grande no lado da cabeça. Mas o que mais chamava a atenção era a quantidade de equimoses (manchas), típicas de ações contundentes, o que não deixa dúvidas de que essas criança era vítima de maus tratos constantes. Ela também tinha marcas de cicatrização de escoriações pelos braços que datam de aproximadamente três semanas”, disse Godoy.
Na delegacia, o legista comparou as lesões apresentadas por Sophie com as que ilustram livros de medicina. As marcas que estavam na barriga da menina, de acordo com a literatura médica, são semelhantes a marcas de pontas de dedos, como se ela tivesse sofrido tapas ou agarrões.

Laudo mostra marcas de agressão

O laudo cadavérico da menina mostra marcas e manchas provocadas em diferentes datas, como uma cicatriz cirúrgica antiga na cabeça. Ela tinha marcas nos ombros pernas, coxas e glúteos, segundo o delegado.

Depoimento de vizinhos

Em depoimento prestado na quinta-feira (25) na 36ª DP, o casal Márcio Alves de Souza e Edilaine Barbosa, vizinhos de Giovana dos Santos, tia da menina Sophie Zanger, contaram que costumavam ouvir choro de criança quase todas as noites.
Segundo o casal, que tem um filho de 1 ano e 7 meses, não se tratava de um choro de criança “manhosa”. Eles relataram também que algumas vezes ouviram barulhos parecidos com móveis sendo arrastados e batidas de porta.
“Quase toda noite ouvíamos choro de criança. Às vezes ela chamava pela mãe. Como tenho um filho pequeno, sabia que não era um choro de criança quando está enjoada. Era um choro parecido um pouco com desespero”, disse Edilaine, ao deixar a delegacia. 

Pai vai a Brasília

O pai de Sophie, o empresário austríaco Sasha Zanger esteve na última terça-feira (23), em Brasília. Acompanhado do embaixador da Áustria, ele teve um encontro com o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior.
Sasha pediu apoio para agilizar os processos de liberação do corpo da menina para ser enterrado na Áustria, e também para conseguir a guarda do filho de 12 anos – que está sob a guarda provisória da avó de criação Anayá Rocha. O empresário também pediu ajuda para resolver um processo aberto pela mãe das crianças, abrasileira Maristela dos Santos – que sofre de problemas psiquiátricos – de cárcere privado.
Em 2008, alguns meses depois de Maristela ter fugido para o Brasil trazendo os filhos do casal sem o consentimento de Sasha, ela foi localizada por um detetive contratado pelo empresário. O casal entrou em acordo e, às vésperas de voltar para a Áustria, Maristela teria rasgado as passagens e fugido para a casa de sua mãe de criação Anayá Rocha, acusando Sasha de tê-la mantido junto com as crianças em cárcere privado.

G1 > Edição Rio de Janeiro

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