domingo, 6 de abril de 2008

Carro da PM dá carona para o perigo

Policiais adaptam as novas viaturas por conta própria para superar falhas de segurança

Thiago Prado

Rio - Adquiridos pelo governo do estado em fevereiro, os novos carros da Polícia Militar já viraram alvo de críticas e até de piadas da tropa. Nas viaturas, foram instalados porta-fuzis atrás do banco do motorista e do carona, impedindo a regulagem dos assentos. Policiais reclamam que isso pode levar à inusitada situação de um bandido — jogado na parte de trás do veículo — conseguir pegar as armas da equipe que o prendeu. Além disso, o kit-gás — que fica no porta-malas — por enquanto só está ocupando espaço: os 632 Gols e Blazers da empresa Julio Simões continuam rodando movidos a gasolina comum.

“Quando eu entro nesse carro para dirigir é horrível. Não dá para ajustar o banco e saio todo dolorido”, afirma um PM de 1,90m, lotado em um batalhão da Zona Sul. “Só pode ser brincadeira. Eles não querem que a forração das portas fique danificada e fazem isso”, ironiza outro soldado, referindo-se à prática policial de colocar fuzis apontados para o lado de fora da janela. Alguns batalhões — como o 23º BPM (Leblon) — já estão permitindo a retirada dos porta-fuzis da poltrona traseira.

LESÕES NO TRABALHO

Segundo a professora da Universidade Candido Mendes e diretora do Instituto Brasileiro de Combate ao Crime, Jaqueline Muniz, a reclamação dos policiais é importante, já que são muitos os casos na PM de lesões no trânsito. “A preocupação dos policiais procede e mostra até uma certa maturidade para discutir os problemas da corporação. Quando a logística não atende o policial de maneira satisfatória, há uma clara limitação do trabalho” , afirma.

A Secretaria de Segurança não quis comentar a questão do porta-fuzil instalado no banco de trás. Sobre o kit-gás, afirmou que continuam os estudos para o início do abastecimento das viaturas a partir de convênio com postos de combustíveis.

Promessas não cumpridas para a frota

Quando a nova frota foi entregue no dia 15 de fevereiro, o governo prometeu uma economia de R$ 1 milhão por mês com o uso do gás como combustível. A manutenção terceirizada dos carros ainda possibilitaria a utilização nas ruas de cerca de 300 homens que trabalhavam dentro das oficinas. A primeira promessa ficou no papel e a segunda começou a ser cumprida pelo menos na capital, já que a Baixada Fluminense continua usando os carros antigos da PM.

Mesmo com a garantia de que seriam colocadas mais viaturas na Zona Norte, a distribuição dos veículos continua a não obedecer os critérios de tamanho do território, população e criminalidade. Levantamento feito por O DIA na semana passada mostrou, por exemplo, que o batalhão de Botafogo (2º BPM) tem 30 carros para rodar em 15 quilômetros quadrados, enquanto o 15º BPM (Duque de Caxias) tem 29 viaturas para circular em 468,3 Km². A discrepância também pode ser comparada com outros números: o bairro da Zona Sul teve, no ano passado, 23 homicídios para uma população de 212.347 habitantes. Já o município teve 501 assassinatos para 883.204 moradores.

Na cerimônia de entrega dos novos carros, o governador Sérgio Cabral ainda afirmou que pretendia estender a experiência de terceirização da frota da Polícia Civil e as ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

Pelo contrato de R$ 68 milhões, a Julio Simões é responsável por trocar todas as viaturas que baterem ou forem quebradas em no máximo 24 horas. Os 578 Gols 1.6 e 54 Blazers 2.4 ainda são equipados com localizadores por satélite (GPS).

Um comentário:

Anônimo disse...

Eles colocaram os porta-fuzil atrás dos bancos porque nunca ouvem o praça.