domingo, 20 de abril de 2008

Madrastas: equilíbrio na corda bamba

Ciúmes podem criar conflitos com enteados mas é possível conviver em bastante harmonia

Kamille Viola

Rio - “Sei que a palavra madrasta pesa ao ouvido dos outros, mas para a Isa sei que eu era a Tia Carol. Amo ela como amo os meus filhos”. Esse é trecho da carta atribuída a Anna Carolina Jatobá, madrasta de Isabella Nardoni e indiciada pelo assassinato da menina com o marido. O caso, que chocou o País, traz à tona questão antiga: a relação, muitas vezes complicada, entre mulheres e os filhos de seu marido.
“Tenho duas enteadas, uma de 12 e outra de 3 anos, e com a mais velha foi difícil no início”, conta a analista de sistemas Joana (nome fictício), 29 anos. “Ela sentia ciúme e eu também”, confessa. “Minha experiência clínica indica que as mulheres têm muito ciúme do amor do marido pelo filho”, explica a psicanalista Silvia Mangaravite. Segundo ela, o sentimento é mais intenso com as filhas mulheres. “Entra uma rivalidade feminina pelo amor do pai da criança”, acrescenta ela.
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Porém, nem sempre a relação com os filhos do marido é complicada. A dona-de-casa Cinéia Gomes de Andrade, 49, tem muito carinho por Vinícius, 9, filho de seu marido, o taxista Ruinaldo Azevedo de Andrade, 49. Vinícius é fruto de um relacionamento extraconjugal, mas ainda assim foi acolhido dentro de casa por Cinéia.
“Quando descobri, o Vinícius já estava com três anos. Fiz questão de conhecê-lo. A criança não tem culpa, não pediu para vir ao mundo”, analisa Cinéia, que é casada há 31 anos e tem uma filha de 28, Emmanuelle. O menino mora com a mãe em Saquarema, mas passa na casa do pai os fins de semana prolongados e as férias. “Ele vem para cá em dezembro e só volta para casa em fevereiro, quando começam as aulas”, conta a madrasta.
O adulto é quem começa
Para Silvia Mangaravite, quando há problema, ele normalmente parte de um adulto. “Ou a mãe inferniza, enche a cabeça da criança contra a mulher do pai, ou a própria madastra que rejeita, não aceita a criança”, explica. “A criança começar é menos freqüente, porque em geral ela está mais apta a receber amor e atenção”.
É possível haver relação sem conflitos. “A família hoje mudou, tem outras configurações. Não necessariamente ter uma madrasta vai ser ruim para a criança, causar traumas ou maus-tratos. Não temos que ‘psicologizar’ tudo”, afirma a psicóloga e mestre em Medicina Social Mariana Ferreira. Cinéia é a prova disso. “Tenho o Vinícius como filho”, jura.

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