sábado, 19 de abril de 2008

‘Ela’ quer voltar para a tropa

Sargento enfermeiro tira licença, muda de sexo e, agora, quer continuar a carreira no Exército

Ananda Rope

Foto: ReproduçãoBRASÍLIA - O sargento do Exército Fabiano de Barros Portela, 26 anos, decidiu bater de frente com boa parte dos colegas de farda e fez cirurgia para mudar de sexo. Afastado de suas atividades, tenta voltar como Fabiane para seu serviço, na ala de enfermagem do 17º Batalhão Logístico de Juiz de Fora (MG), subordinado ao Comando Militar do Leste, que cobre Rio, Minas e Espírito Santo. “Como ex-transexual e, agora, sendo mulher completa — só faltando o reconhecimento judicial — acredito que nada me impede de atuar na enfermagem como outras mulheres”, defende.

Segundo o Exército, Fabiane foi avaliada por junta médica que diagnosticou seu caso como transtorno dos hábitos e dos impulsos e transtorno da identidade sexual, classificadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como transexualismo e tratada pela psiquiatria como doença. Um oficial que teve contato com Fabiane revelou a O DIA que o caso é “atípico” e que o afastamento “do militar visa a preservar a ele e a seus colegas de constrangimentos”.

Além de lutar de todas as formas para ser reconhecida pelo Exército como mulher para retornar ao quadro da Força, Fabiane briga ainda para não ser reformada (considerada inapta ao serviço militar). Essa medida encerraria sua carreira militar, garantindo a ela apenas os vencimentos de terceiro-sargento (R$ 1.996 mensais).

PIONEIRISMO AMERICANO

O primeiro paciente a ser submetido a uma cirurgia de mudança de sexo em todo mundo foi um militar. O soldado norte-americano George Jorgensen trocou de sexo, em 1952, adotando o nome de Christine Jorgensen.

No Brasil, a primeira cirurgia do tipo ocorreu em 1971, quando Waldir Nogueiro foi operado pelo cirurgião Roberto Farina. O caso não foi bem recebido. O médico foi processado criminalmente e pelo Conselho Federal de Medicina, foi preso e amargou a cassação do direito de exercício da medicina.

Entre os casos mais famosos de mudança de sexo está o da modelo Roberta Close, que na década de 1980, quando ainda era Luís Roberto Gambine Moreira, submeteu-se à cirurgia transgenital no exterior, casou-se e somente em 2005, 15 anos depois, pôde atualizar os documentos com o novo nome.

Denominado como transtorno de personalidade da identidade sexual, o transexualismo é definindo como um desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto. Este desejo se acompanha, em geral, de um sentimento de mal-estar ou de inadaptação por referência a seu próprio sexo.

Feliz em trabalhar no quartel

O sargento Fabiane começou a servir ao Exército em 1999, com 18 anos de idade. Fez o curso na Escola de Sargentos das Armas (EsSA), em Três Corações, no Sul de Minas. “Entrei no Exército buscando uma formação profissional e porque, assim, teria oportunidade de trabalhar na área que eu mais gosto, que é enfermagem”, diz.
Em 2003, Fabiane entrou em processo de depressão e pediu licença. “Descobri que era transexual e resisti ao máximo. Por resistir tanto, entrei em depressão. Até que não agüentei mais e no dia 27 de março (deste ano) fiz a operação em Jundiaí (SP)”, contou o sargento.
No ano passado, antes de entrar no período de afastamento, Fabiane foi convocada pelo Exército para fazer um exame de perícia médica e diz ter sido obrigada a assinar pareceres médicos nos quais o comando militar se baseou para afastá-la.
O sargento não deixou por menos e fez um boletim de ocorrência contra a Força em posto da Polícia Militar mineira, que seguiu para a Delegacia de Mulheres. Também apresentou denúncia aos ministérios públicos Militar e Estadual de Minas.
Moradora em um bairro de classe média baixa de Juiz de Fora (MG), onde dividia casa com a mãe, Fabiane ficou assustada quando seu caso ganhou repercussão. A mãe ficou nervosa com o assédio e pediu para o sargento sair de casa. O restante da família também não está sendo acolhedor. Os parentes ‘culpam’ o tratamento psicológico, que teria estimulado a troca de sexo.

Militar da FAB também virou mulher aos 47

Cabo da Aeronáutica, Maria Luiza da Silva, 47 anos, foi o primeiro transexual a conseguir uma identidade militar feminina no Brasil. Agora o militar também luta para ser admitida no quadro da Força Aérea Brasileira.
Após oito anos, Maria conseguiu o reconhecimento e hoje carrega na bolsa a identidade militar, que demorou nove meses para ficar pronta. Sem a mesma sorte, sargento Fabiane ainda circula por Minas com a identidade masculina de Fabiano.
Desde 2000, quando se preparava para a cirurgia de mudança de sexo, a cabo foi reformada. De acordo com um laudo, era incapaz para os serviços militares. Para o advogado que a defende, Luis Maximiliano Telesca, presidente do Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), o novo documento militar é uma conquista sem precedentes.

SARGENTO CÁSSIA ELLER

Também em Brasília, outros dois sargentos do Exército também brigam contra preconceito. O segundo-sargento de Montanha Laci Marinho de Araújo montou em 2000 um show com o título ‘Eu queria ser Cássia Eller’ e, desde que passou fazer sucesso, ele e seu divulgador, o também segundo-sargento de Infantaria Fernando Alcântara de Figueiredo reclamam de serem vítimas de preconceito dos superiores. “Fazem isso como se fosse degradante o fato de ser homossexual”, comentou Fernando, que com Laci briga na Justiça para evitar a mudança para outro estado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fato é que o Fabiano tem um sério problema psicológico e fato também é que o Exército não tem culpa dele ser assim, como ele mesmo cansa de postar no seu blog, ele já se sentia assim desde criança. No fundo quem conheceu o Fabiano um pouco só que seja, sabe que o que ele quer é se aposentar. Quando na ativa ele sempre foi um péssimo profissional. Foi justo o seu licenciamento. Eu pergunto, será que se ele trabalhasse num supermercado ele deveria ser aposentado por trocar de sexo? Ele sabia da regra do jogo quando entrou em campo. Srs e Sras, procurem saber quem realmente foi e é o Sargento Portela, podem ter certeza ele não é nenhum santo como ele se pinta e a mídia simplesmente reproduz.