quarta-feira, 9 de abril de 2008

Polícia diz que já reconstituiu 70% do crime que levou à morte de Isabella

SPTV, Diário de S.Paulo, O Globo Online

Nardoni no Sam's Club com a família - Reprodução de TV

SÃO PAULO - A delegada assistente do 9º Distrito Policial (Carandiru) Renata Helena Pontes afirmou que 70% do crime que levou à morte a menina Isabella de Oliveira Nardoni, 5 anos, já foi reconstituído pela polícia. Os 30% restantes, segundo ela, não devem revelar nenhuma surpresa. Até agora, os únicos suspeitos do crime são o pai de Isabella, Alexandre Nardoni, 29 anos, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, 24. Os dois tiveram prisão temporária decretada, mas não foram indiciados no inquérito.

- O que posso revelar é que dentro da cena do crime já dá para visualizar 70% do que aconteceu no dia do crime - disse a delegada, se referindo não apenas ao cenário do crime, como também à dinâmica dos fatos, ou seja, a ação do(s) criminoso(s) e da vítima.

A delegada não quis comentar sobre um possível indiciamento do casal e disse que, para a polícia, chegar à conclusão do inquérito ainda faltam algumas peças e trabalhos da perícia.

De acordo com a delegada, até o momento foram ouvidas no inquérito 36 pessoas e outros 19 depoimentos estão marcados para os próximos dias.

Nesta quarta-feira, uma médica que atendeu Isabella prestou depoimento no 9º DP. Ela disse que a criança aparentava ter tido uma parada cardíaca recente.

O delegado Calixto Calil Filho, que preside o inquérito, afirmou nesta quarta-feira ao chegar ao 9º DP confirmou que a polícia já tem conhecido de 'boa parte' de como ocorreu o crime, mas não falou sobre percentuais. De acordo com ele, o caso Isabella é grave é exige investigação profunda.

- Muitas vezes, essas coisas surpreendem a gente. Quando a gente chega a quase 100%, às vezes aparece um fato novo e a gente tem de voltar a investigação e começar tudo de novo - afirmou o delegado, afirmando, porém, que não apareceram fatos novos na apuração do crime, à exceção das imagens que mostram o casal num supermercado de Guarulhos

O promotor Francisco Cembranelli voltou a afirmar que a versão de que uma terceira pessoa entrou no apartamento do casal é fantasiosa, mas ressaltou que, mesmo assim, ela está sendo investigada.

DNA deve comprovar que sangue é da menina, dizem peritos

Peritos do Instituto de Criminalística iniciaram nesta terça-feira os testes de DNA que comprovarão se o sangue encontrado no apartamento.

As amostras de sangue de Isabella chegaram ao IC na noite de segunda-feira e, na terça, as do pai e da madrasta. Os resultados devem ficar pronto até o fim da semana. Algumas amostras ainda terão de ser refeitas porque a seqüência de cromossomos é insuficiente para dar positivo. Porém, eles não têm dúvidas de que as manchas no corredor do prédio, no hall, no quarto, no lençol, no parapeito da janela, na tela de proteção e nas paredes são da menina.

Isabella estava com ferimento na testa e, em um dos quartos, a perícia achou um fragmento de osso.

Segundo o diretor de laboratórios forenses, balística, química, física e análise instrumental do IC, Osvaldo Negrini, o material estava sendo preservado enquanto o Instituto Médico Legal (IML) realizava outros exames.

Pegada em lençol

Os peritos vão comparar os chinelos usados por Nardoni, pai de Isabella, com a pegada de calçado de uma pessoa adulta encontrada no lençol no quarto dos dois filhos - Pietro e Cauã - de onde a menina foi jogada. Os peritos disseram que a pegada foi feita pelo calçado de um adulto. Quando o pai de Isabella foi à delegacia para prestar depoimento, na noite do crime, ele usava sapatos de camurça marrom. Antes, ele estava de chinelo.

Isabella poucas horas antes de morrer - Reprodução de TV

Imagens gravadas por câmeras do Sam's Club de Guarulhos, onde Nardoni e Anna Carolina passaram com as três crianças cinco horas antes da morte de Isabella, mostram que o pai da menina, aparentemente, não trocou de roupa até o momento em que desceu do prédio para ver o corpo da menina no térreo do prédio. Ele está vestido com uma camiseta branca com estampa nas costas, usa uma bermuda e chinelos, assim como nas imagens gravadas no edifício após o crime.

As imagens da família mostram Isabella e o irmão Pietro no carrinho de compras, quando eles chegam no supermercado às 18h33. Logo atrás, Anna Carolina Jatobá aparece com o filho menor no colo. Mais tarde, Alexandre aparece no balcão de atendimento, onde os clientes fazem crediários e pegam notas fiscais de produtos eletrônicos. Enquanto isso, Isabella pega na mão da madrasta e o meio-irmão da menina se junta a ela. Em seguida Ana Carolina sai com as três crianças. Alexandre ainda fica fazendo o pagamento. Mais tarde, todos descem juntos a esteira rolante com o pai empurrando o carrinho rumo ao estacionamento do piso debaixo. Alexandre beija a mulher (veja as imagens no G-1) .

A perícia já tem como certo que não havia sangue nas roupas achadas no apartamento vizinho do de Alexandre, que pertence à irmã dele. As peças seriam de um pedreiro.

Em relação aos vestígios encontrados no Ford Ka da família, descobertos com luminol, a perícia quer repetir os testes. Inicialmente, foi descartado que fossem de sangue, mas como as amostras eram muito pequenas, não puderam ser usados reagentes químicos no teste porque o núcleo da célula poderia ser destruído. Então, os peritos optaram por processá-las junto com o DNA.

Bom relacionamento

Um dos advogados de Alexandre Nardoni, Rogério Neres, disse que as imagens gravadas pelas câmeras do Sam's Club mostram a "relação harmoniosa e tranqüila" do consultor jurídico e de sua mulher. Ele afirmou que o vídeo também apresenta com clareza a "boa relação" do pai com a filha Isabella e da madrasta com a menina, que morreu no dia 29.

'Ninguém entrou', diz porteiro

Para Alexandre Nardoni, alguém entrou em seu apartamento e atirou Isabella pela janela.

Em entrevista ao Jornal Hoje, o porteiro do prédio, que estava de plantão no dia do crime, afirmou que apenas duas pessoas entraram no condomínio depois das 18h.

- Não entrou ninguém, tenho certeza. No acesso onde fico dá para eu ver a portaria. De 18h às 24h não entrou ninguém suspeito - disse ele.

Sinais de asfixia e esganadura

Na parede do prédio foram detectadas pelos peritos marcas da mão de Isabella. Segundo eles, a menina foi jogada de cabeça para baixo. Ela tinha ainda ferimentos na testa e um dos pulsos foi quebrado. Estes ferimentos, segundo os peritos, podem ter sido provocados antes da queda. No corpo da criança havia ainda manchas no pescoço e na nuca e sinais típicos de asfixia. Quando foi jogada, Isabella estaria desmaiada.

Peritos disseram à polícia que o estado de letargia (uma espécie de sono profundo decorrente de afecção do sistema nervoso central e de difícil e prolongada recuperação) provocado por asfixia pode durar até 20 minutos. Para quem não tem conhecimento técnico, poderia parecer que Isabella, antes de ser jogada do apartamento, estivesse morta.

Rede cortada com faca e tesoura

O Instituto de Criminalística (IC) revela que o buraco na tela foi feito por dois instrumentos: uma tesoura e uma faca, já apreendidas. Para policiais envolvidos na investigação, isso pode demonstrar que houve pressa para se desfazer do corpo.

Aparentemente, Nardoni estava com a mesma roupa que foi visto depois do assassinato de Isabella - Reprodução de TV

Antes de chegar ao gramado do edifício London, Isabella bateu no parapeito e também com as costas em um arbusto. Segundo o IC, há marcas de sangue na fachada do prédio, abaixo do parapeito do sexto andar, como se as mãos da menina, soltas, arrastassem na parede.

Nesta quarta-feira, o Instituto Médico Legal (IML) terá o resultado dos exames que vão apontar as causas da morte de Isabella. Já o Instituto de Criminalística deve concluir os primeiros laudos na sexta-feira.

Provas contra casal são frágeis, diz advogado de defesa

O Tribunal de Justiça analisa o pedido de habeas corpus para Nardoni e Anna Carolina. Se aceito, o casal poderá aguardar as investigações em liberdade.

- A defesa entende que alguns pontos não vieram ao inquérito policial e são essenciais. As provas são frágeis - afirma o advogado Marco Polo Levorin, um dos advogados que defendem o casal.

Nardoni e Anna Carolina continuam como únicos suspeitos pela morte de Isabella, mas ainda não foram indiciados no inquérito que apura a morte da menina. Os dois estão presos desde a última quinta-feira. Ele no 77 Distrito Policial (DP), em Santa Cecília; ela no 89º DP, no Morumbi.

Na quarta, a polícia e o Ministério Público firmaram um acordo para que detalhes da investigação sejam mantidos em sigilo.

Para Levorin, o casal não vai comprometer a investigação se estiver em liberdade. O promotor Francisco Cembranelli afirmou na sexta, na entrevista que motivou a decisão do juiz de liberar o sigilo, que a prisão temporária é necessária para preservar provas e, além disso, eles poderiam entrar em contato com testemunhas , como funcionários do prédio.

O que diz o pai

Nardoni afirmou à polícia que alguém entrou em seu apartamento e jogou sua filha para baixo.

Isabella, em foto no Orkut

De acordo com a polícia, a porta do apartamento não foi arrombada e nada foi levado. A um policial militar chamado para atender a ocorrência da queda de Isabella, Nardoni teria dito que chegou a ver o agressor dentro do apartamento, de costas. O advogado dele disse que ele não viu ninguém no apartamento e informou que Anna Carolina Jatobá havia perdido chave do imóvel, para o qual mudaram em fevereiro passado.

As possíveis testemunhas

Moradores do prédio e da vizinhança estão sendo ouvidos. Já foram colhidos depoimentos pelo menos 17 pessoas. A polícia pretende ainda tomar depoimento das pessoas que prestavam serviços nos apartamentos naquele dia. O advogado de Nardoni diz que ele teria nomes de pessoas suspeitas para apresentar à polícia , que poderiam ser seus inimigos. Disse ainda que teria discutido com um pedreiro que prestou serviço para ele. A polícia tomou o depoimento do pedreiro e ele foi liberado.

Uma testemunha teria dito que viu a família Nardoni subir junta ao apartamento, o que contraria a versão de Nardoni. Outras duas disseram ter ouvido a voz de uma criança gritanto "Pára, pai" . Esta frase foi reintepretada pelo advogado Ricardo Martins, que afirmou que a criança estaria gritando "pára" ao agressor e, ao mesmo tempo, chamando pelo pai.

Opine: Você acha que a polícia está divulgando mais informações do que deveria sobre o caso?

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