segunda-feira, 14 de abril de 2008

Uma vida feita em retalhos que começa a ser remendada

Camilo Coelho e Simone Gondim - EXTRA

Damião Cristiano de Souza Oliveira , 35 anos, 'laranja' da empresa de Maria Alice Tapajós - Foto: Fabiano Rocha / EXTRA

RIO - A vida do técnico em telecomunicações Damião Cristiano de Souza Oliveira, de 35 anos, virou de cabeça para baixo em 2001. Ao recadastrar seu CPF, ele descobriu que o documento estava cancelado. Apesar de ter apresentado, em anos anteriores, a Declaração de Isento, ele deveria prestar contas à Receita Federal. O motivo? Para o Fisco, Damião seria um empresário fraudador, cheio de dívidas e sócio da estilista e socialite Maria Alice Tapajós Gomes no ramo de confecções.

A história, publicada esta semana pela revista "Isto É", mostra como um simples morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi transformado em laranja.

Com o CPF suspenso, Damião foi obrigado a fechar sua conta bancária e acabou demitido da empresa onde trabalhava como prestador de serviços para a Telemar. Ele chegou a passar dois anos desempregado, vivendo de bicos como camelô e vendedor de picolés .

- Por causa do problema de CPF, eu não podia ter conta salário em banco e isso me atrapalhava na hora de conseguir um emprego. Passei em um concurso para a Cedae, mas perdi a vaga porque estava com o nome sujo - contou Damião.

Sem documentos

A origem do calvário do técnico em telecomunicações está em 1992, quando ele perdeu, dentro de um ônibus, a carteira de identidade, o CPF e o título de eleitor. Mesmo tendo registrado o caso na 52 DP (Nova Iguaçu) e tirado a segunda via dos documentos, Damião viu seus dados utilizados, anos depois, no contrato social das empresas de Maria Alice Tapajós Gomes, com uma assinatura falsa e um endereço em Bonsucesso.

- Eu ia à Receita Federal, explicava a situação e ninguém acreditava. Também demorei a receber as cobranças da Justiça, já que meu endereço nos contratos é falso. Cheguei a ser julgado à revelia em 2003, pois o aviso do processo não foi mandado para a minha casa, em Nova Iguaçu - lembrou Damião.

Caso ficou quatro anos na delegacia

A investigação do caso já estava no cartório da Delegacia de Defraudações há quatro anos e veio à tona no dia 13 de março deste ano, quando a promotora Dora Beatriz Wilson da Costa denunciou Maria Alice Tapajós, José Mário Tournillon Ramos, marido dela, e os filhos José Francisco Tapajós de Oliveira e Antonia Tapajós de Oliveira Ramos. A comerciária Patrícia da Rocha Carvalho também foi indiciada pelos crimes de falsidade ideológica, formação de quadrilha e concurso material, crimes que, somados, podem resultar em até quatro anos de prisão para cada um dos acusados.

Segundo a promotora do caso, a família Tapajós usava os laranjas para manter as empresas sem dívidas.

- A Alice não é ingênua. Ela colocava laranjas para ficar com as dívidas das empresas e abria outra. Quando contraía novos débitos, fazia tudo de novo. O contador também foi arrolado e vamos ver de onde partiu a idéia - disse a promotora.

A denúncia foi aceita pela juíza Natascha Maculan Adum, da 32 Vara Criminal, e resultou no processo de número 2008.001.060664-0. No dia 24 de março deste ano, a juíza recebeu a denúncia e agendou para o próximo dia 11 de junho, às 14h, o interrogatório dos envolvidos.

Vítima aparece como sócio de cinco firmas

A identidade de Damião Oliveira foi usada nas empresas Go West Confecções Ltda, Ramos e Abranches Comércio de Vestuários Ltda, JMR Comércio de Roupas Ltda, JMA Comércio de Roupas Ltda e MAT Comércio de Roupas Ltda, todas com endereços fictícios. Os contratos tinham assinaturas falsas de Damião e João Denílson Farias Rosa, que seria outro laranja.

Segundo a revista "Isto É", a polícia já teria pedido ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) perícias contábeis e de grafotécnica, a fim de comprovar as fraudes e a falsificação das assinaturas. A primeira empresa aberta pela empresária foi a Alice Tapajós Confecções. Em 17 de março de 1998, Maria Alice teria deixado a empresa MAT Comércio de Roupas, colocando Damião e João Denílson como proprietários.

Carreira internacional

A estilista Alice Tapajós começou a ganhar projeção no dia 14 de novembro de 1974, quando abriu o primeiro ateliê. Sucesso dos anos 70, ela ficou conhecida por criar um estilo descontraído, com glamour.

De ternos bem cortados, passando por charmosos vestidos, aos renovados chemisiers, Alice já expôs em 1989 no Metropolitan Theater, em Nova York, nos Estados Unidos, e chegou a representar a marca Donna Karan no Rio, de 1994 a 1998.

O EXTRA telefonou ontem durante todo o dia para Maria Alice, mas ninguém atendeu às ligações.

 

FONTE :

http://extra.globo.com/rio/materias/2008/04/13/uma_vida_feita_em_retalhos_que_comeca_ser_remendada-426824395.asp

Nenhum comentário: