segunda-feira, 28 de abril de 2008

Simulação do crime complica pai e madrasta

Após as quase oito horas da reconstituição da morte de Isabella, polícia conclui que o casal se envolveu diretamente no assassinato

SÃO PAULO - Por quase oito horas, peritos, policiais e testemunhas reviveram ontem, em São Paulo, o assassinato da menina Isabella Nardoni, 5 anos, no dia 29 de março. Fotografaram, filmaram e cronometraram todas as etapas do crime — desde o momento em que o carro chega na garagem até a queda do corpo no jardim. No fim da tarde, descartaram que uma terceira pessoa tenha estado no apartamento, matado Isabella, limpado a cena do crime e fugido sem ser visto em apenas 11 minutos. Saíram convencidos de que o pai Alexandre Nardoni e a madrasta Anna Carolina Jatobá estão diretamente envolvidos no assassinato.

Uma nova prova apresentada ontem pela perícia reforça ainda mais a tese da polícia de que o pai jogou a filha de uma altura de 20 metros, do sexto andar do Edifício London, após a madrasta ter asfixiado a menina na sala do apartamento.

Um policial usando uma camisa como a de Alexandre simulou três situações no laboratório do Instituto de Criminalística. Na primeira, o dublê se aproxima da rede de proteção para olhar através dela; na segunda, se encosta sobre o parapeito; e na última, pressiona o corpo sobre a rede, segurando uma boneca de 21 quilos, mesmo peso de Isabella. As marcas deixadas nessa terceira hipótese foram a mais compatível com as que detectadas na camisa de Alexandre.

A reconstituição prevista para as 9h começou com 40 minutos de atraso. Dez peritos refizeram o trajeto da garagem até o apartamento, carregando no colo a boneca. A intenção era confrontar com os laudos que constataram sangue no corredor e nos cômodos.

No lugar do casal, que se recusou a participar da simulação, foram usados dublês — policiais com o mesmo biotipo dos dois. Peritos retiraram a rede do quarto de Isabella e a colocaram no quarto dos irmãos por onde ela foi arremessada. O agente que se passou por Alexandre subiu na cama e cortou com faca e tesoura a rede. Em seguida, o momento mais dramático da reconstituição: a boneca forense, comprada por R$ 2 mil, com as mesmas roupas que Isabela usava no dia do crime, foi colocada para fora da janela.

O dublê segurou a boneca pelas duas mãos com o rosto virado de frente para ele. Em seguida, o policial solta a mão esquerda do manequim, que deixa marcas na parede. Logo depois, o policial larga a outra mão. A boneca cai, mas fica suspensa por uma corda. Nesse momento, policiais, jornalistas e autoridades que assistiam de baixo se emocionam.
A movimentação dos peritos mexeu com a rotina dos moradores da Rua Santa Leocádia, que da janela dos prédios vizinhos acompanhavam passo a passo da reconstituição.

À tarde, peritos colocaram a boneca sobre o jardim, orientados pelo porteiro e o vizinho — os primeiros a ver a menina após a queda e chamar por socorro. Dos prédios vizinhos, especialistas fizeram medições de áudio para confrontar com declarações de testemunhas que afirmaram ter ouvido discussão do casal e gritos de uma criança.

A reconstituição terminou às 17h15. O material produzido, como fotos e filmagens, será anexado hoje ao relatório do inquérito. O resultado será encaminhado amanhã ao Ministério Público, que deverá pedir a prisão preventiva do casal na denúncia à Justiça.

Nenhum comentário: