domingo, 19 de abril de 2009

Por trás das grades, milícia forma nova facção

Presos por ligação com paramilitares agravam superlotação de carceragens da Polinter

Marco Antônio Canosa, Paula Sarapu e Vania Cunha

Rio - A concentração de presos por envolvimento com milícias nas carceragens da Polinter criou um novo problema para a Polícia Civil. Como não podem dividir espaço nas celas com criminosos ligados às quadrilhas do tráfico de drogas, os cerca de 150 acusados de integrar grupos paramilitares que aguardam julgamento deram origem a uma quarta facção nas unidades prisionais. O surgimento de mais um grupo por trás das grades é o capítulo recente de uma série de problemas que transforma as cinco delegacias da Polinter em barris de pólvora para o estado.
O diretor das unidades, delegado Marcus Neves, admite que boa parte de suas dores de cabeça está diretamente ligada aos milicianos presos. “Tenho mais problemas com a milícia do que com o Comando Vermelho, por exemplo. Assim que abre vaga no sistema, libero primeiro os presos ligados à milícia. Por causa da amizade com policiais ou por terem combatido o crime um dia, eles acham que merecem regalias. Não posso deixar que a corrupção que cometem nas ruas ganhe espaço dentro das celas”, afirmou Neves.
A nova facção das cadeias surgiu há quase dois anos, quando as investigações de delegacias distritais e da especializada Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) começou a desarticular grupos em áreas como Jacarepaguá, São Gonçalo, Campo Grande e Baixada. Dos 150 presos da milícia, só chefões estão em penitenciárias de segurança máxima. Os PMs envolvidos cumprem pena no Batalhão Especial Criminal (BEP), enquanto outros 40 estão divididos entre as unidades de Jacarepaguá, Pavuna e Neves, em São Gonçalo.
Mesmo em número menor do que os punidos por tráfico, a facção da milícia mostra a sua força no universo carcerário quando ‘exige’ uma subdivisão: os integrantes da Liga da Justiça, por exemplo, não podem ser colocados na mesma cela que os rivais de Campo Grande. “Eles não costumam se desentender, mas separamos por precaução. É uma realidade que não pode ser ignorada”, afirma Neves.
Sexta-feira, as celas do Grajaú e de Neves, em São Gonçalo, foram vistoriadas pelos defensores, que constataram mais irregularidades. “Não há respeito aos mínimos direitos à dignidade”, relatou o assessor criminal da Defensoria, Denis Sampaio, que defende a desativação do local: “São cadeias que fomentam a violência, a corrupção e a doença”.

Defensoria quer fechar unidade

As condições precárias dos 2.500 presos nas unidades da Polinter chamaram a atenção de autoridades. A carceragem do Grajaú tinha 407 detentos até sexta-feira. A Defensoria Pública e o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária pediram, em Ação Civil Pública, a interdição da unidade. A Justiça determinou que ficassem lá apenas 150 presos, com multa diária de R$ 10 mil se o estado não acatasse a ordem. A medida inclui instalação de água potável, colchões e uma reforma imediata.

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