POR PAULA SARAPU, RIO DE JANEIRO
Para tentar identificar o assassino do coronel PM Francisco Spargoli, baleado na nuca ao tentar impedir um assalto numa casa lotérica no Barreto, em Niterói, a polícia vai pedir a quebra do sigilo telefônico dos dois celulares que um dos bandidos deixou cair na ação. Segundo o delegado substituto da 76ª DP (Centro), os assaltantes seriam da Favela do Salgueiro, em São Gonçalo. Nesta terça-feira, dois suspeitos foram detidos, por informações do Disque-Denúncia, e liberados depois.
O coronel Francisco Spargoli
Os proprietários da lotérica prestaram depoimento e disseram que não são capazes de fazer retrato falado do outro assaltante que invadiu a loja. Eles contaram que um dos bandidos chegou a fazer dois disparos porque, nervosa, a dona da lotérica não conseguiu abrir a porta e a maçaneta saiu na mão dela. A polícia também aguarda a análise das imagens do circuito de câmeras de outra loja da Rua Doutor Carlos Maximiniano, onde fica a lotérica.
“Vamos esperar as imagens, que vão ajudar a identificar os outros marginais. Parece que a câmera gravou a ação na rua, mostrando quem atirou contra o coronel. Ele tentou impedir que os dois bandidos roubassem a loja, mas um terceiro, que estava na cobertura, atirou nele”, afirmou o delegado Anestor Magalhães, da 76ª DP (Centro).
O único identificado foi Sérgio Vargas, 23 anos, que acabou morrendo na troca de tiros. Investigadores contaram que ele deixou o Exército há pouco tempo e trabalhava como cobrador em uma empresa de ônibus de São Gonçalo, indicado pelo pai, que é motorista. “Ele comprou uma moto, mas não conseguiu pagar e seu nome foi parar no SPC. Ele morava com o pai e a irmã e ultimamente dizia que estava precisando de dinheiro para pagar as dívidas da moto. Era a primeira vez dele na criminalidade. A família, evangélica, nem acreditou”, disse um policial.Coronel assassinado ao tentar prender ladrões
Coronel reformado da Polícia Militar, Francisco Spargoli da Rocha, 62 anos, ex-subsecretário de Unidades Prisionais da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), foi morto com tiros na nuca, ontem de manhã, ao tentar prender assaltantes que haviam roubado uma lotérica no bairro São Lourenço, em Niterói. O oficial perseguia dois ladrões sem perceber que outros dois davam cobertura. Um deles o baleou pelas costas.Mesmo ferido, Spargoli correu 100 metros atrás dos ladrões e acertou um tiro na cabeça de um deles, Sérgio Maurício de Oliveira Vargas, 23 anos, que morreu no Hospital Azevedo Lima, no Fonseca.
Por volta de 7h40, Spargoli estava em uma banca de jornal na Rua Carlos Maximiniano — a poucos metros de sua casa — quando dois homens armados renderam os donos da Loteria São Lourenço. Para não pôr o casal em risco, o coronel esperou a dupla deixar o local e deu voz de prisão. Houve confronto, e o oficial foi atingido por dois tiros na nuca, disparados por um dos ladrões que davam cobertura em um Xsara Picasso prata e em uma moto.
O dono da lotérica contou que os bandidos agiram com violência. “Eles me jogaram no chão e faziam ameaças. Houve tiroteio. Olhei meu corpo para ver se não tinha sido baleado”.
Segundo o delegado Anestor Magalhães, da 76ª DP (Centro de Niterói), o ladrão baleado foi resgatado pelo comparsa de moto, mas caiu 800 metros depois na Rua General Castrioto, no Barreto, onde foi encontrado por PMs.
“Eles deram coronhadas no proprietário. Disseram que se o casal denunciasse o roubo dos R$ 3.600 matariam eles e a família. Sabiam onde eles moravam e os nomes dos filhos”, disse Anestor. Segundo ele, o criminoso morto era do Morro do Salgueiro, em São Gonçalo.
Para o comandante da PM, Gilson Pitta, Spargoli morreu numa ação de bandidos covardes: “Ele foi meu instrutor na área de inteligência e morreu agindo como um PM”. Metade da carreira de Spargoli foi dedicada à segurança nas cadeias — ele dirigiu diversos presídios e ocupou cargos-chave na administração penitenciária. “Mas o Estado o perdeu quando ele foi exonerado da Seap”, lamentou o subcomandante do 3º BPM, Hugo Freire.
A 76ª DP obteve imagens do circuito de segurança de uma loja que mostra o momento do confronto. Com a gravação e um celular apreendido com o bando, a polícia espera identificar os outros criminosos, que seriam de São Gonçalo.Denúncias das falhas no sistema
O coronel Spargoli foi subsecretário-adjunto da Seap até 20 de outubro, quando foi exonerado quatro dias após a execução do diretor de Bangu 3, tenente-coronel José Roberto Lourenço.
Após deixar a Seap, em audiência pública na Alerj, o oficial desmentiu o secretário César Rubens Monteiro ao contar que Lourenço não abrira mão de sua sua escota. Spargoli apontou ainda falhas no sistema de segurança do Complexo Penitenciário de Bangu, que teriam possibilitado a fuga do miliciano Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, também em outubro.
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