sábado, 11 de abril de 2009

Barcas: pedido de intervenção

Letícia Vieira e Marcelo Dias - Extra

Segunda-feira é um dia decisivo para a Barcas S/A. O governador Sérgio Cabral vai discutir, em reunião de uma CPI da Assembleia Legislativa (Alerj), uma possível intervenção na concessão do transporte aquaviário na Baía de Guanabara. A proposta é do deputado Gilberto Palmares, presidente da CPI das Barcas. No encontro, o deputado quer discutir também os problemas recorrentes no atendimento aos usuários.

Um dos casos mais recentes ocorreu na última quarta-feira, quando, revoltados com atrasos, passageiros promoveram um quebra-quebra na estação Praça Quinze.

Para evitar esses transtornos, a concessionária afirma que deveria ser resolvido o desequilíbrio financeiro no contrato. Um dos pontos polêmicos na discussão da revisão quinquenal da concessão é a proposta defendida pela Barcas S/A de aumento da tarifa de vários trechos e de aportes financeiros do governo estadual.

Alteração no contrato

Uma saída apontada pelo presidente da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transporte (Agetransp), Antônio de Carvalho, responsável por fiscalizar a concessão, seria a alteração do contrato da Barcas S/A. Carvalho afirma que já encaminhou uma proposta ao governo do estado.

- O poder concedente tem que se sentar com a concessionária para discutir o contrato, porque o povo não tem culpa do que está acontecendo. Encaminhei uma sugestão de alteração à Secretaria estadual de Transportes - afirmou Carvalho, que descartou a possibilidade de um aumento de tarifa.

A Secretaria de Transportes informou que a decisão sobre o contrato da Barcas S/A só caberia à Agetransp.

Apesar do aumento ocasionado pela revisão quinquenal ser descartado, a Agetransp discutirá, no dia 29, o reajuste anual das tarifas das barcas, com base na inflação do período.

Reajuste da tarifa

De março de 2007 a março de 2008, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), que é uma das variáveis utilizados no cálculo de aumento da tarifa, subiu 6,27%. Assim, a passagem Rio-Niterói passaria de R$ 2,50 para 2,65, a partir de maio. O reajuste anual dependerá da Agetransp.

'Estamos no caos'

Depois de presidir a Ponte S/A nos anos 90 e rodar o mundo em concessionárias rodoviárias e aeroportos, o engenheiro Flávio Almada içou âncora para comandar o maior desafio do sistema de transportes do estado: dar jeito na Barcas S/A. Dinheiro não tem. Nem embarcações suficientes (23). Recorrer ao BNDES, nem pensar. Para o bancão federal, a empresa é caso perdido. Sobrou então cobrar do governo uma suposta dívida de R$ 170 milhões por um alegado desequilíbrio financeiro. Ou usar a criatividade para alugar lanchas menores mundo afora e dar conta do problema de fazer 25 milhões de passageiros cruzarem, por ano, duas estações com a mesma área ocupada pelos sanitários do Aeroporto de Cumbica, em São Paulo - antes que um novo tumulto como o de quinta-feira descambe em tragédia.

Por que aconteceu o tumulto de quinta-feira na Praça XV?

Às sextas e vésperas de feriados, fazemos seis viagens por hora e mais uma ou duas extras. O pico ocorre das 18h30 às 20h30. A nossa capacidade máxima é de 10 mil vagas por hora. Das 18h30 às 19h16m, vieram 7 $passageiros e não tivemos como retirá-los. Em meia hora, posso tirar 5 mil, mas não 7 mil. A média do pico não passa de 8.900 pessoas, mas em dias assim vai a 12 mil e não temos barca para isso. Precisamos de mais três embarcações para ficarmos tranquilos.

Não faltou planejamento nestes 11 anos de operação?

O problema é barco. Nesta estação, passam 25 milhões de passageiros por ano. No Aeroporto Cumbica, são 17 mihões. A nossa área é um pouco menor do que a da soma dos sanitários de Cumbica. Não precisa pensar muito. Nós estamos no caos. Como embolar 10 mil pessoas numa área que equivale aos sanitários de lá?

Mas houve um empréstimo de R$ 172 milhões do BNDES para sete embarcações, construir e reformar estações...

Investimos R$ 250 milhões, com R$ 146 milhões do BNDES, que nos emprestou uma parte dessa linha de crédito mas negou o resto até que se prove que esse negócio para de pé, porque transporte de massa não se paga em nenhum lugar do mundo. É sempre o governo que investe na infraestrutura.

Quanto precisariam hoje?

O governo teria de aportar recursos. Ele nos deve R$ 126 milhões de desequilíbrio financeiro que, corrigidos, dariam uns R$ 170 milhões.

Mas o contrato de concessão na fala em investimentos...

Mas fala em equilíbrio. E o desequilíbrio está provado pela Coppe/UFRJ e pela Fundação Getúlio Vargas. Em vez de nos pagar, investiriam em três barcas e duas estações boas no Rio $em Niterói, mas sem se pensar pequeno de novo. Seriam para integrar com o metrô, com barcas a cada três minutos para 17 mil passageiros por hora.

As estações atuais aguentam quantos passageiros?

Você está brincando! Esta aqui não aguenta nada.

A Barcas é formada por empresas de ônibus e estaleiros. Não falta um expert em transporte marítimo?

Não há no mundo ocidental uma empresa com a nossa complexidade de transporte aquaviário. Uma delegação da China veio aqui para ver como operamos. Eles querem fazer isso lá! Pode procurar o papa do setor. Você não vai achar.

Por que as barcas só têm 14 integrações com os ônibus?

Não adianta integrar agora porque não dou conta e serei crucificado. O esforço maior é ligar o metrô à Praça XV, resolvendo o problema de trânsito em Niterói e descarregando a ponte. Mas faremos modificações nas estações pois não dá para pôr 25 milhões de pessoas numa caixa de sapatos, com rampas para cadeirantes, uma grande frente com as catracas e três salas de pré-embarque para 5.300 pessoas com ar-condicionado. Tudo para atender a mais de 10 mil pessoas por hora, mas será um pa$. E vamos alugar lanchas menores de outros países.

Como seria esse aluguel?

Seriam três lanchas rápidas para até 400 passageiros para Cocotá e os horários de pouca procura. Não temos dinheiro para construir, mas dá para alugar. E a entrega seria imediata. Imagino que teremos novidades boas em 60 dias. Mas os passageiros precisam adaptar sua vida nos feriados, saindo mais tarde ou mais cedo porque só temos estas barcas.

Haverá esquema especial para o próximo feriado?

Não vamos nos enganar. Investimos R$ 250 milhões e fizemos uma porrada de barcas novas. O governo deu uma solução bacana para os trens e o metrô. Agora é a nossa vez. Enquanto a Barcas não aumentar a sua capacidade, são 10 mil lugares no rush e ponto. E não adianta chiar. Estou ao lado do passageiro. Construí a minha reputação em cima dos transportes. Estou pê da vida com o que aconteceu. E sei que há um $remoto de dar outra dessa. Se vier todo mundo junto, estou ferrado. Os vândalos invadiram a estação e ficamos 36 minutos sem as barcas encostarem para 4 mil pessoas não pularem nelas e ninguém morrer. Melhor deixar o pau comer na praça e ninguém se machucar.

Extra Online

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