sexta-feira, 15 de maio de 2009

Incêndios frequentes põem bombeiros em alerta na Lapa

Falta de conservação de antigos sobrados é uma das causas.
Nas ruas, o risco é visível em fiação da rede elétrica exposta.

Aluizio Freire Do G1, no Rio

Os imóveis mais antigos da Lapa, tradicional bairro do Centro do Rio e famoso pelas construções históricas e por sua vida boêmia, são os mais atingidos pelos frequentes incêndios na região. Nos quatro primeiros meses deste ano o Corpo de Bombeiros já atendeu a 44 ocorrências na região, um terço dos chamados recebidos no ano passado. Em apenas uma semana, três sobrados pegaram fogo.

O fogo, em geral, é provocado pela deterioração da rede elétrica e falta de conservação dos prédios. Diante da reincidência de casos, o subprefeito do Centro, Marcus Vinícius Lima da Silva, se reuniu na quarta-feira (5) com o superintendente da Defesa Civil, coronel Sérgio Ângelo, para realizar uma operação conjunta na próxima semana. O objetivo é identificar imóveis degradados, verificar o estado das marquises e das fiações com risco de incêndio.

“Estamos fazendo um levantamento para traçar um roteiro e identificar os proprietários desses imóveis. Eles serão notificados sobre as condições e risco desses prédios”, afirma o subprefeito, admitindo que uma das questões mais graves de alguns imóveis no Centro é que muitos deles estão envolvidos em pendengas judiciais.

Ampliar Foto Foto: Fernando Quevedo - 01/04/2009 - Ag.O Globo Foto: Fernando Quevedo - 01/04/2009 - Ag.O Globo

Só este ano bombeiros atenderam a 44 ocorrências na Lapa (Foto: Fernando Quevedo - 01/04/2009 - Ag.O Globo)

“Hoje existe uma quantidade grande de imóveis, principalmente nesse perímetro do Centro, que são alvos de invasões, ocupações irregulares. Em alguns casos, os proprietários preferem abandonar e tentar a reintegração de posse na Justiça. Isso é um problema crônico nessa área”, disse Marcus Vinícius, acrescentando que os imóveis, depois de multados várias vezes, são levados a leilão.

Produtos inflamáveis

A ocupação ilegal de alguns estabelecimentos, usados como depósitos de camelôs que armazenam produtos inflamáveis, como plásticos, papelão e até botijões de gás, revela o perigo iminente.

Embora a Secretaria Especial de Ordem Pública tenha feito uma operação recentemente para retirar os ambulantes do local, em dias de shows na Lapa, principalmente nos fins de semana, as instalações clandestinas são refeitas com ‘gambiarras’ e emaranhados de fios expostos que são ligados de forma precária à rede elétrica.

Cenário de sujeira e do caos

Morador do Centro há 25 anos, Wilson Souza Tomé, presidente do bloco carnavalesco Boêmios da Lapa, lamenta que o bairro, que “atrai jovens de toda parte do Rio, e é um dos símbolos da efervescência cultural na cidade” ainda sofra com problemas de conservação e infraestrutura.

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Camelôs, ocupação irregular de prédios, muita sujeira e moradores de rua completam o cenário caótico da Lapa (Foto: Carlos Peixoto)

“Uma parte da Lapa, que foi tomada por empresários, que podem investir, está em boas condições, com os prédios reformados, bonitos. Mas existe um outro trecho, principalmente dos Arcos até o relógio da Glória, que está abandonado. É terra de ninguém. O risco de incêndio, a falta de conservação, o esgoto vazando dos bueiros... Tudo isso, só não vê quem não quer”, garante.

Fazendo o percurso sugerido por Wilson, percebe-se um antigo poste de ferro enferrujado que ainda sustenta uma fiação elétrica na Travessa do Mosqueira, a ocupação irregular das calçadas pelos ambulantes, ao lado da Sala Cecília Meireles, e o acúmulo de lixo ao longo da Rua da Lapa. 

De acordo com a subprefeitura, existe um decreto que incentiva os proprietários de imóveis preservados no Centro dando a isenção de IPTU. Segundo a Defesa Civil, foi criado o Programa de Recuperação de Imóveis (PRI), formado por um grupo de engenheiros, que realiza periodicamente vistoria em prédios situados em áreas do Centro.

O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Carlos Fernando Andrade, também se mostrou preocupado com as ameaças de sinistros aos monumentos tombados pelo órgão no Centro.

“Em reunião com o Corpo de Bombeiros, sugerimos que fossem feitas exigências específicas para preservar esses bens. Se, por exemplo, não houvesse uma escada adequada em um prédio, que o imóvel fosse compensado com tecnologia para prevenir riscos de incêndios. Já estamos incluindo esses cuidados em novos projetos de restauração”, disse.

G1 > Edição Rio de Janeiro

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