domingo, 31 de maio de 2009

Pela primeira vez, duas mulheres ingressam na tropa de elite da Guarda Municipal do Rio

POR MARIA LUISA BARROS, RIO DE JANEIRO

Rio - Lábios pintados com batom clarinho e um discreto rímel nos olhos são o máximo de vaidade permitida a Elizângela e Andreia. As duas mulheres superaram a barreira do preconceito e conquistaram pela primeira vez na História da Guarda Municipal do Rio um lugar no seleto Grupamento de Ações Especiais, o GAE, a ‘tropa de elite’ da corporação, antes exclusiva dos homens.

 Foto: André Luiz Mello / Agência O DIA

No duro treinamento do Grupamento de Ações Especiais, Elizângela e Andreia jamais ‘pediram para sair’ e surpreenderam no rapel de 13 metros

Com uma rotina pesada de exercícios físicos e rígida disciplina, que incluiu testes de sobrevivência na mata e operações simuladas com gás de pimenta, elas foram aprovadas no curso de ações táticas do GAE que formou 92 homens. À custa de muita determinação e vários choros contidos. “Nos treinamentos há muita pressão psicológica. Dá vontade de chorar. Várias vezes, as lágrimas vinham e eu tinha que engolir”, lembra Andreia Pereira Rodrigues, 35 anos, que, entre outras tarefas árduas, teve que subir o pico da Tijuca para simular um acidente na floresta. Mãe de Isabela, 13, e de Carlos, 7 anos, teve o apoio incondicional do marido, o inspetor Carlos Cristo, que é o comandante do GAE. “Tive que me superar em dobro. Por ser mulher e por ser esposa do comandante”, diz Andreia, casada há 10 anos e há 11 na Guarda.

Como ela, a agente Elizângela Rodrigues Sobrinho, 37 anos, mãe de Estephany, 19, acostumou-se ao armamento pesado que compõe o uniforme do grupamento — o mesmo para homens e mulheres. Assim como eles, Andreia e Elizângela estão preparadas para ficar mais de 10 horas caminhando com dois quilos de escudo nos braços e mais três quilos de roupas e capacetes. Nos treinamentos, a mesma carga física acompanha eles e elas. “As duas aguentaram firme. Ficaram esgotadas, mas em nenhum momento pediram para sair. Nas operações mais tensas, venceram o medo. No rapel, quando tiveram que descer 13 metros, achamos que elas fossem desistir, mas nos surpreenderam”, contou o subinspetor, José Caires. O grupamento é o mais especializado da Guarda. Quando tudo dá errado, o GAE é acionado para acabar com os confrontos urbanos. Nos últimos anos, o grupamento entrou em cena para enfrentar ambulantes no Centro.

Com fôlego para dupla e dura jornada

Os hematomas no corpo e as bolhas nos pés após treinamentos intensivos não desanimam as mulheres do GAE. “Um dia eu estava exausta e tinha que rastejar na lama. Só pensava no dia seguinte, no trabalho que teria para lavar o uniforme”, conta Elizângela.
Para Andreia, mais difícil que respirar os gases de pimenta e lacrimogêneo é se desdobrar na dupla jornada. “A gente dava voltas na Quinta da Boa Vista nos treinos. Minha unha do pé quase caiu. À noite, chegava em casa e ainda tinha que fazer janta, cuidar dos filhos, e no dia seguinte começar tudo de novo”, comemora Andreia.

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