terça-feira, 7 de abril de 2009

Ampla vai trocar relógios de 30 mil

Problema em chips obriga empresa a fazer medição convencional em imóveis

Helvio Lessa e Marcos Galvão

Rio - Clima de vitória para moradores da Baixada e de São Gonçalo abastecidos de energia pela Ampla. Após análise do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), a empresa vai usar em 30 mil residências e pequenos estabelecimentos comerciais os antigos relógios, tradicionais medidores de energia, que começaram a ser substituídos por chips (medidores eletrônicos) pela Ampla em 2005.

Foto: Alessandro Costa / Agência O DIA

Relatório inicial feito pelo Inmetro e concluído em dezembro do ano passado apontou irregularidades em grande parte dos medidores eletrônicos instalados em sistemas polifásicos (mais de uma fase de energia). A concessionária iniciou há dois meses consertos e reparos em relógios que estavam danificados, mas informou que os chips continuarão a servir de parâmetro para as medições. Os que não estavam em condição de uso foram substituídos e aferidos pela Ampla, servindo de base para a leitura das contas.
Em Saracuruna, centenas de casas e lojas com relógios trifásicos tiveram os medidores substituídos por novos. “Se a conta diminuir no próximo mês, vai ser uma prova de que eles estavam errados”, disse o motorista Anderson Monteiro, 27 anos. Rosângela Pinheiro Lopes, 35, espera pagar menos com o novo relógio. Ela teve de cortar o uso de alguns eletrodomésticos para economizar energia. “A conta passou de R$ 160 para R$ 240 com esse chip”, disse.

Edson Gomes de Oliveira, diretor de um jardim de infância em Saracuruna, é um dos comerciantes cuja aferição será feita através do relógio convencional. “Passei a economizar e a ligar menos o ar-condicionado para os alunos, preferindo o ventilador. Se a conta diminuir, com a nova medição, vou poder oferecer o conforto novamente”, disse.
Há dois anos, os chips foram motivo de inúmeros protestos, como o padeiro Alex Xander Alves, 36 anos, morador de Saracuruna, em Caxias, que apontou erro no medidor de energia de seu estabelecimento e comunicou o fato à Ampla. A manifestação causou uma onda de indignação e motivou a série de reportagens ‘Choque na conta de luz’, de O DIA, finalista do Prêmio Esso de 2007.

PEDIDO DE PUNIÇÃO

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instaurada no ano passado na Assembleia Legislativa e recomendou ao Ministério Público (MP) a punição da Ampla por crime de extorsão contra os consumidores. O MP ainda não se pronunciou sobre o caso. O relatório da CPI da Ampla na Alerj servirá de base para os vereadores de Duque de Caxias. Ontem, durante audiência pública, que discutiu o aumento nas contas, após a implantação dos chips, foi pedida a abertura de uma CPI municipal. Haverá mais duas audiências nos dias 18 e 25.

Ontem, o deputado estadual Paulo Ramos (PDT), ex-relator da CPI e responsável pelo acompanhamento do caso, disse que pedirá aos moradores que reúnam cerca de 50 mil contas de luz. “Vamos analisar e confrontar todos esses valores. As discrepâncias nas contas de energia continuam. Há casas com poucos cômodos e com valores que chegam a R$ 400. Ou seja, pouco adiantaram as medidas tomadas pela Ampla e pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), reguladora da concessionária”, disse Paulo Ramos. Ele afirmou que convocou os demais deputados que fazem parte da comissão de acompanhamento para irem ao Inmetro, no dia 16 de abril, para discutir o assunto.

Consumidor quer valor pago a mais

O padeiro Alex Xander Alves, 36 anos, de Saracuruna, comemorou ontem a determinação do Inmetro para que a Ampla voltasse a fazer medição através do relógio, mesmo que provisoriamente, substituindo o medidor eletrônico. Em 2007, um laudo do Inmetro apontou erro no medidor com chip da Ampla, que registrava, segundo o documento, um consumo de 58,9% acima do gasto médio anterior da padaria.

“É uma vitória do povo e uma resposta a tudo que nos fizeram. Quando reclamamos do aumento fora do comum, fomos acusados de furto de energia. Por isso entrei com uma ação por danos morais e de restituição dos valores pagos a mais”, afirmou Alex Xander.

O DIA ONLINE

Nenhum comentário: