Donos da Prosilha, onde lipos eram realizadas sem autorização, registram furto de computadores. Polícia desconfia de simulação
Carol Medeiros e Natalia von Korsh
Rio - Computadores da clínica Prosilha, que poderiam ser usados pela polícia como prova de que eram realizadas ali cirurgias de lipoaspiração ilegais, desapareceram no fim de semana. Segundo Sérgio Gonzalez, diretor da unidade na Ilha do Governador e marido da pediatra Sheila Gonzalez, que realizava as lipos, três computadores e três televisões foram furtados do local, que está fechado desde quarta-feira para atendimentos. Delegada da 37ª DP (Ilha do Governador) — onde foi registrado o caso e que está apurando também a denúncia de mulheres que acusam Sheila de lesão corporal e exercício ilegal da profissão —, Leila Goulart trabalha com a hipótese de simulação do assalto.
Sheila, na sala de cirurgia com paciente recém-operada, tem até amanhã para depor na 37ª DP. Foto: Reprodução
Sérgio conta que chegou ontem à clínica por volta das 13h, quando encontrou o portão dos fundos arrombado. Homens teriam entrado no prédio pelo buraco do ar-condicionado. “A perícia vai ser estudada para sabermos se a dinâmica aconteceu como parece ou se foi fraudulenta. Quem roubou conhecia bem o local. Vamos investigar se foi mesmo assalto ou se ele foi simulado, se foi praticado por funcionário ou por ladrões comuns. É estranho que só os computadores da administração tenham sido levados”, afirmou a delegada.
Técnicos do Instituto Félix Pacheco estiveram ontem à noite na Prosilha para colher impressões digitais. Leila pediu prioridade à perícia, e o laudo deve ficar pronto até o fim da semana. Se for concluído que o roubo foi forjado, Sérgio e Sheila vão responder por fraude processual, denunciação caluniosa e comunicação falsa de crime, que pode dar mais de 10 anos de cadeia.
“Na semana passada já tinham roubado um ar-condicionado, agora foram as TVs e os computadores. A polícia insinuou que eu roubei minha própria clínica. Isso é absurdo. Já tive prejuízo demais com esse escândalo!”, desabafou Sérgio.
A delegada acompanhou a perícia na clínica ontem à tarde e aproveitou para intimar Sérgio e Sheila a depor. Desde a semana passada a polícia tem tentado sem sucesso localizar a médica para chamá-la para prestar esclarecimentos sobre as queixas de pacientes com relação às cirurgias estéticas realizadas pela pediatra e que deixaram marcas irreparáveis. Sheila tem até amanhã para comparecer à 37ª DP.
Exame de risco cirúrgico era ignorado
Procedimento essencial em qualquer cirurgia, o exame de risco cirúrgico era ignorado pela médica Sheila Gonzalez, segundo pacientes. Algumas lipos chegavam a ser marcadas e feitas no mesmo dia. Exames de sangue, HIV e pressão simplesmente não eram pedidos. “A Sheila falou que era rapidinho, não precisava de exame e podia ser feito na hora”, conta a enfermeira Simone Gonçalves, 36 anos. Moradora da Região dos Lagos, ela passou em frente à Prosilha no último dia 19, viu o anúncio de lipoaspiração na fachada, entrou, perguntou o preço, gostou e marcou o horário para a madrugada seguinte. “Agora estou toda deformada”, diz.
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