terça-feira, 12 de maio de 2009

Farda da PM, objeto de desejo de 43.974

Apesar do perigo, carreira ainda fascina jovens que disputam quatro mil vagas

Élcio Braga e Vania Cunha

Rio - A Polícia Militar está na alça de mira dos jovens. São 43.974 candidatos que querem porque querem ingressar na instituição que completa 200 anos amanhã, dona de uma História de heroísmo, lutas, denúncias, tiros e muitos riscos. Em um mês, eles vão brigar por uma das 4 mil vagas abertas em concurso público. Nos cursinhos não se fala em outra coisa. Parece que todo mundo quer ser PM. E olha que a renda é inferior a dois salários mínimos e a custo de muita adrenalina.

Diego, Rafael e Eduardo (esq. para dir.) atuam desde janeiro no patrulhamento do Santa Marta. Foto: Paulo Araújo / Agência O DIA

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O sociólogo João Trajano de Lima Sento-Sé, da Uerj, vê duas razões que levam o jovem à PM. Para ele, a carreira é a chance de conquistar um emprego público e respeito, sobretudo nas camadas mais populares. “O trabalho da PM ainda exerce fascínio no jovem”, observa ele, que distribuiu questionário entre PMs e policiais civis sobre as condições de trabalho e o treinamento. A pesquisa será tabulada e os resultados, revelados no fim do ano.

Sento-Sé crê que a imagem da corporação possa melhorar: “Temos instituição muito desgastada com a população e objeto de graves denúncias. Por outro lado, focos minoritários reformadores tentam envolver a Polícia Militar com a área de pesquisa e a universidade. São focos tímidos, mas muito positivos”.

A penúria da carreira não mete medo. Coragem, aliás, é o que vão precisar. “As condições não são ideais. A gente ouve muita história de policiais morrendo. Entramos sabendo que vamos ganhar pouco. Mas está no sangue. Tenho parentes que trabalham na polícia e colecionam vitórias. Vou me espelhar neles”, conta Thiago Carlos Silva, 27 anos, que deixou a Aeronáutica, onde ganhava R$ 1,4 mil, para entrar na PM, onde crê ter mais chances de progredir. Ele aguarda resultado do psicotécnico para pôr o coturno. A empolgação de Thiago contagiou a mulher, Bárbara, que estuda para o próximo concurso.

Quem já está na corporação, como o soldado Raudimar da Cruz Andrade, diz que não tem motivo para se arrepender. “No início sentia medo, mas hoje me sinto realizado porque meu trabalho salva vidas, faz diferença na vida das pessoas. Isso me motiva enfrentar os riscos”, diz ele, há um ano e dois meses.

Os quatro meses de trabalho árduo nas vielas da Favela Santa Marta, em Botafogo, não diminuíram a satisfação de três soldados recém-formados em vestir a farda da PM. Todo dia, eles deixam as famílias na Região dos Lagos e Sul Fluminense para arriscar a vida. “A primeira vez que vesti a farda, foi o dia mais emocionante da minha vida”, garante o ex-guarda municipal Diego Veríssimo. “À medida que os obstáculos são superados, nossa satisfação sobe”, afirma Rafael Fernandes, que trocou o ensino de Educação Física pelo policiamento no morro. É o emprego que muitos jovens pediram a Deus. E, possivelmente, o que os farão continuar recorrendo aos céus.

Medo antes mesmo de entrar na corporação

Eles nem colocaram o pé na PM e já manifestam preocupação em ser reconhecidos. A maioria dos alunos de cursos preparatórios para ingressar na corporação prefere não aparecer em fotos. “Moro perto de comunidade”, alega uma estudante do Curso do Servidor.

Ex-soldado da Aeronáutica, William Ribeiro, 28 anos, foi o único em uma turma inteira que aceitou falar e mostrar o rosto sobre o sonho de pôr a farda azul. “A estabilidade no emprego é muito importante. Depois que saí da Aeronáutica, há quatro anos, não firmei em nenhum lugar”, conta ele, morador de Bonsucesso. Os pais temem que o único filho encare a violência da cidade. William, porém, vê sinais de uma nova polícia. “Há muitos investimentos e ações para melhorar a PM”, afirma ele, tecnólogo em Petróleo e Gás, que planeja trabalhar na área administrativa da PM.

“Se a PM continuar subindo degrau por degrau, vai conquistar o que precisa para ser a polícia ideal para a população”, acredita o soldado recém-formado Eduardo dos Santos, 23 anos, ex-dono de uma pequena pizzaria, que atua no Morro Santa Marta. De tão entusiasmado, ele já faz planos para o filho que ainda está a caminho. “Se ele quiser seguir os passos do pai, vou ficar orgulhoso e incentivar. Quem sabe a gente não sai juntos para patrulhar?”.

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