segunda-feira, 13 de julho de 2009

Novo comandante do Bope: 'Meu coração nunca deixou de ser caveira'

A farda de capitão guardada há 14 anos será o uniforme que o novo comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), tenente-coronel Paulo Henrique Azevedo de Moraes, de 43 anos, vai usar nesta terça-feira, às 10h. "Já experimentei e coube certinho", revela.

Foto: Fabio Gonçalvez / Agência O Dia

Nesse horário, o oficial vai receber o comando do batalhão de elite da Polícia Militar, formada por 397 homens. Acostumado a usar terno e gravata nos últimos 12 anos, quando 'comandou' na Diretoria Geral de Segurança do Tribunal de Justiça do Rio (TJ) uma tropa de 600 agentes - destes, 80 PMs - que trabalham em todos fóruns do estado, o 'caveira' está pronto para cumprir a sua nova missão.

O coração nunca deixou de ser caveira. O espírito do Bope é de grupo. Um faz a segurança do outro", orgulha-se.

Em sua antiga sala no TJ havia um quadro com 35 símbolos de batalhões, entre eles a cultuada caveira, do Bope.

Primeiro colocado da turma de cinco oficiais do Rio de 1990 - outros quatro formados eram de Santa Catarina -, o caveira garante que não ficou surpreso com o convite do comandante-geral da PM, Mário Sérgio de Brito Duarte.

Somos poucos, há apenas dois tenentes-coronéis à disposição", explica o oficial que tem 24 anos de polícia. O afastamento da corporação desde 1997 ficou longe de ser transformado em empecilho.

Fiquei longe das unidades, mas não do serviço de polícia. Só fórum central recebemos em média 120 presos por dia. Quinta-feira, tivemos 153 presos" argumenta.

No TJ, Paulo Henrique era o 'anjo da guarda' dos juízes. Uma de suas atribuições ao longo de sua trajetória foi investigar e montar estratégias para 50 magistrados que receberam ameaças de morte.

A estratégia de segurança dos fóruns do Rio é referência para o País", avalia.

O oficial carrega no currículo cursos de instrutor de tiros, segurança de autoridades, ciências contábeis, políticas públicas de segurança e pós graduação em estratégia, os últimos três feitos na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Entrevista exclusiva

Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia

Na sexta-feira, o novo comandante do Bope concedeu com exclusividade a O DIA entrevista no seu último dia de trabalho no Tribunal de Justiça, como chefe de gabinete da Diretoria Geral de Segurança.

1. Qual a marca que o senhor pretende implantar à frente do BOPE?

O Bope tem algumas marcas. Por exemplo, novas tecnologias são testadas no batalhão, como foi o caso do caveirão. Então, inovação, tecnologia e formação fazem parte do trabalho permanente desenvolvido na unidade. Ontem (quinta-feira) tivemos uma reunião e será mantido o subcomandante, major René Alonso.

2. O senhor é a favor de recrutar mulheres?

Não fecho a porta. No edital não fala que é só candidatos do sexo masculino. Hoje, o Bope tem psicóloga e pedagogas. Mas é preciso discutir qual é o objetivo da mulher na tropa. Se for só marketing, não. Se for comprovado que é útil.....você tem que estudar e pensar sempre no futuro.

3. E como lidar com os desvios de conduta?

Isso é muito simples. Não tem mistério. O comandante deve estar atento. O negócio é vigilância e aplicação das normas. O Bope vai funcionar junto com a engrenagem e as estratégias do comando geral. Se o Bope é um sucesso é porque faz parte da PM. Um grande aprendizado é entender que as coisas não podem estar isoladas. O Homem de Preto está atrelado a um grupo, um faz a segurança dos outros. Eles estão quase sempre aquartelados juntos. Você trata o policial como um filho. Isso é comandar. Tratar o subordinado com carinho e também ser duro, sem ser desrespeitoso. Acho também que o policial tem que ter apoio psicológico. Afinal, os policiais enfrentam uma guerra nos morros da cidade.

4. O Bope hoje está na Cidade de Deus para pacificar. Há outras comunidades que o batalhão poderá entrar?

O Bope só é chamado em situações de crise. Há uma lista de comunidades feita pelo governo do estado. A demanda será suprida a medida que forem sendo montadas as estratégias. Por exemplo, o cargo de comandante da unidade, no caso o Bope, é traçar estratégias, administrar e estar sempre disposto a pensar e buscar o algo a mais.

5. O que o senhor achou do filme 'Tropa de Elite'. Foi um sucesso de bilheteria e expôs um dia-dia da tropa que parte da população não conhecia?

O filme jogou luzes sobre o batalhão. O colocou na vitrine. Mas, é preciso pensar as coisas além do espetáculo. Faço uma avaliação do filme em partes. Há muitos pontos positivos, como a demonstração dos problemas sociais, como o uso de entorpecentes não só por pobres, mas por ricos. Mas acho ruim a propagação da violência no filme. Hoje também muitas coisas são diferentes, pois o filme conta coisas que aconteceram há 13 ou 14 atrás.

O Dia Online

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