sexta-feira, 31 de julho de 2009

Jornal britânico denuncia maus tratos a inglesas presas por golpe do seguro no Rio

Celas que parecem lixeiras, superlotadas e com detentas de alta periculosidade

POR MARCIO REIS, RIO DE JANEIRO

Rio - O jornal britânico 'The Guardian' publicou, nesta sexta-feira, uma denúncia de maus tratos contra as advogadas inglesas Shanti Andrews e Rebecca Turner, enquanto estiveram presas na carceragem de Mesquita, após comunicação de falso roubo de malas em Copacabana, Zona Sul do Rio.
De acordo com a publicação, as advogadas estariam presas em uma cela pequena, superlotada, que mais se parece com uma lixeira. Além disso, elas estariam junto com acusadas de assassinato, tráfico de drogas, assaltos e membros do Comando Vermelho. No total, 150 detentas ocupariam o mesmo espaço.

Foto: Reprodução Internet

Na foto, as acusadas durante festa a fantasia, em Londres

O 'Guardian' afirma que o único objetivo de Shanti Andrews e Rebecca Turner era desembarcar no Rio para curtir o sol, a praia e o samba. Em vez disso, acabaram presas em uma carceragem longe do centro da cidade e em condições terríveis.
Shanti Andrews e Rebecca Turner, graduadas em direito pela famosa Universidade de Sussex, estiveram na semana passada na Delegacia Especial de Apoio ao Turista (DEAT) para registrar o roubo de suas bagagens - o conteúdo, de acordo com o jornal, seria de um Ipod Touch, uma câmera digital da marca Cannon e um laptop -, no valor total de mil libras esterlinas (aproximadamente R$ 4 mil).
Advogado das inglesas reforça acusações do jornal
Os agentes desconfiaram das turistas, pois as mesmas portavam seus passaportes, e foram até o albergue onde elas estavam hospedadas, em Copacabana, Zona Sul. No local os policiais encontraram os pertences das turistas comprovando que elas não haviam sido roubadas, mas que pretendiam dar o golpe do seguro das bagagens.
"Está é uma outra forma de financiar sua viagem. Ficamos por uma hora na delegacia fazendo o falso registro de roubo em troca de 700 a 800 euros (cerca de R$ 2,6 mil) do seguro. Este valor já dá para pagar as passagens", disse um turista europeu, que não quis se identificar, admitindo que já praticou o golpe e fez o registro na mesma delegacia em que as inglesas foram atendidas.
O advogado das inglesas, Eduardo Tonini, reforçou as acusações feitas pelo jornal.
"Elas estão sendo tratadas como toda e qualquer detenta brasileira. Elas não comem, dormem juntas no chão, por falta de espaço e estão com presas de alta periculosidade. Esta é a terrível realidade do sistema prisional brasileiro", disse Eduardo entrevistado enquanto comprava pastas de dente, lâminas de barbear descartáveis, papel higiênico, barras de chocolate e um bolo de côco. 
O Guardian afirma que procurou as advogadas para entrevistas, mas, em vez disso, foi informado por uma detenta, identificada como "Tia Claudia", que afirmou estar tomando conta das mulheres. Tia Claudia estava dentro de uma minúscula cela com inscrições da sigla do Comando Vermelho nas paredes.
A publicação cita o carcereiro Carlos Pereira Araújo como defensor do sistema prisional, mas descreve o local de trabalho do servidor como sujo, com fios à mostra, uma máquina de escrever velha e pedaços de máquinas de cópias quebradas há muito tempo.
"A comida aqui é ótima. Arroz, feijão e um pedaço de carne. Aqui é um luxo", disse o carcereiro admitindo, em seguida, que realmente as pessoas dormem no chão.
Pelas leis brasileiras, prisioneiros com diploma universitário têm o direito de "acomodações especiais" em celas e longe de prisioneiros comuns. Entretanto, de acordo com autoridades citadas pelo 'Guardian', as provas de que as duas são formadas em direito ainda não foram obtidas e, por isso, são mantidas nestas condições.
Nesta sexta-feira, as inglesas foram transferidas para o presídio Nelson Hungria, em Bangu, Zona Oeste do Rio. Na última quarta-feira, o Ministério Público denunciou as duas turistas e se manifestou em favor da manuntenção da prisão. Segundo o juiz Juan Luiz Souza Vazquez "As denunciadas são cidadãs do Reino Unido da Grã-Bretanha, não possuindo endereço certo onde poderiam ser intimadas para comparecimento aos atos processuais", explicou.
O advogado das inglesas insiste em declarar a inocência de suas clientes.

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