segunda-feira, 6 de julho de 2009

Delegado usa câmera escondida e desbarata quadrilha de policiais no interior de SP

Fantástico

SÃO PAULO - O delegado Roberto Fernandes, atualmente diretor da Polícia Civil de Presidente Prudente, no oeste de São Paulo, usou uma câmera de vídeo para desmascarar uma quadrilha de policiais corruptos. Quando trabalhava na região de Bauru, a 323 km de São Paulo, Fernandes tirou licença-prêmio, alugou um apartamento e durante seis meses investigou, por conta própria, irregularidades cometidas pelos colegas. São mais de nove horas de gravação.

Os vídeos deram início a uma investigação do Ministério Público que resultou na prisão de 33 pessoas, em março deste ano. Elas respondem ao processo em liberdade. Atualmente, há 52 acusados de envolvimento em crimes, como formação de quadrilha e corrupção. Na lista, estão dez policiais civis e um policial militar.

- As pessoas poderiam não admitir posteriormente aquelas informações que estavam sendo prestadas, razão pela qual eu tomei a cautela de gravar - conta Fernandes.

Num dos encontros, acontecidos no apartamento alugado, um homem dono de máquinas caça-níqueis conta que pagou propina durante dois anos para manter o negócio ilegal, sob ameaças.

Dono dos caça-níqueis: Eles matam a gente. Então, por isso que todo mundo fica quieto.

Roberto Fernandes: Quanto o senhor pagava por maquina?

Dono dos caça-níqueis: R$ 50

Roberto Fernandes: Para a polícia?

Dono de caça-níqueis: Para a polícia.

Segundo ele, havia em Bauru pelo menos 800 máquinas caça-níqueis, que rendiam por mês cerca de R$ 40 mil para investigadores e delegados.

Roberto Fernandes: Se o senhor não pagasse?

Dono de caça-níqueis: Eles iam lá e apreendiam as máquinas.

De acordo com as denúncias, com pagamento de propina, tudo o que era ilegal podia funcionar na região: jogos de azar, casas de prostituição e desmanches de carros roubados.

Nas gravações a que o Fantástico teve acesso com exclusividade, há o relato de um empresário. Ele revela que a corrupção policial foi responsável por um aumento nos negócios clandestinos da região.

- O pessoal tinha timidamente. Com os acertos, houve a explosão - diz o empresário.

Segundo o empresário, os policiais chegavam a exigir uma porcentagem fixa do faturamento.

Empresário: Criou-se uma regra; 33% pra dividir pra polícia.

As investigações apontam que as ordens do esquema de corrupção saíam de um prédio: a sede da Polícia Civil da região. Segundo o Ministério Público, o então diretor do departamento, o delegado Roberto Annibal, criou um grupo de policiais que tinha a função de arrecadar dinheiro do crime.

O delegado Roberto Fernandes, que filmou as conversas, soube das denúncias quando Roberto Annibal era chefe dele. Nas gravações, o nome do então diretor da Polícia Civil é citado várias vezes.

Roberto Fernandes: Você começou a ter problema a partir de quando?

Empresário: Problema quando esse bandido veio pra cá.

Roberto Fernandes: Quem?

Empresário: O Roberto Annibal. Ele e a gangue dele.

Annibal ocupou o principal cargo da Polícia Civil na região de Bauru de 2005 a maio de 2008. Em maio deste ano, ele se aposentou.

- Será analisada toda a conduta dele, pra ser punido exemplarmente - afirma o secretário de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto.

Procurado pelo Fantástico, Roberto Annibal preferiu não gravar entrevista. Desde que o caso se tornou público, ele alega inocência.

Um técnico em eletrônica foi quem instalou as microcâmeras e ajudou nas denúncias contra os policiais. Diz que investigadores e delegados desconfiaram que ele fazia isso e passaram a intimidá-lo.

- Ameaça de todos os tipos: cuidado com os seus filhos, cuidado com a sua vida - conta o técnico de eletrônica.

Em uma das vezes, ele foi procurado por um delegado, subordinado ao então diretor da polícia, Roberto Annibal. O técnico conta que ficou assustado porque o delegado deu a entender que participava de um grupo de extermínio

- Na Rua Noé Onofre Teixeira. Cercamos a casa, executamos o cara - conta o delegado.

Na rua, ninguém sabia de nada. O Fantástico procurou o delegado Silberto Martins. Segundo ele, a execução nunca aconteceu.

- Eu percebi que a pessoa ardilosamente estava fazendo uma gravação clandestina, por essa razão eu fiz essa bravata, que foi apurado e não houve o crime - afirma o delegado Silberto Martins.

Quando perguntado se esta era uma forma de intimação, ele diz que não. Por causa do vídeo, o delegado foi advertido pela Corregedoria da Polícia Civil.

Silberto Martins não faz parte do grupo de 11 policiais que foi denunciado por formação de quadrilha e corrupção. Segundo a Corregedoria, esse inquérito está em fase final e quatro acusados foram afastados dos cargos e estão em funções burocráticas.

Os promotores aguardam o resultado da quebra do sigilo bancário dos acusados. De acordo com o Ministério Público, há fortes indícios de enriquecimento ilícito e de lavagem de dinheiro.

- Isso é lamentável. A instituição da Policia Civil é uma instituição essencial ao combate da criminalidade - diz o promotor de Justiça Rafael Abujamra.

- Não é justo que a instituição pague pelo erro de alguns - afirma o delegado Roberto Fernandes.

Extra Online

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