sexta-feira, 17 de julho de 2009

RJ tem maior índice de mortalidade de grávidas do Sudeste

Em cada 100 mil nascidos vivos média de 76 mães morrem a cada ano.
Mulher com braço rabiscado que perdeu bebê é exemplo de precariedade.

Aluizio Freire Do G1, no Rio

Foto: Reprodução/Tv Globo

Manoela teve o braço rabiscado e perdeu o bebê: exemplo da falta de solidariedade (Foto: Reprodução/TV Globo)

O grito de três mulheres grávidas, que acusaram um médico de descaso por ter escrito em seus braços o nome da maternidade que elas deveriam procurar, trouxe à tona uma realidade preocupante. O  Rio de Janeiro é o estado que possui um dos maiores índices de mortalidade de grávidas no Brasil.
Um levantamento feito pela Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores do Rio revela que, em cada grupo de 100 mil nascidos vivos, uma média de 76 mães morrem a cada ano, deixando o estado como o primeiro do ranking na região Sudeste.

O número é quase quatro vezes maior do que o tolerável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Entre as causas apontadas pelo relatório, as mortes são provocadas, em sua maioria, por hemorragias, descuidos com a diabetes, hipertensão arterial, falta de sangue em CTIs (Centro de Tratamento Intensivo) e de acompanhamento médico para realizações de consultas periódicas, o chamado pré-natal.

Sistema de saúde precário

“O quadro é muito preocupante, como é o da tuberculose no Brasil. É um sinalizador do mau funcionamento do sistema de saúde. Acho que toda gestante deve ter direito de saber onde será seu parto e ter direito a um acompanhamento”, afirma a pesquisadora Lígia Bahia, do Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ela observa “uma falta de laços de solidariedade” entre os profissionais e as pessoas que necessitam de atendimento dos serviços públicos. “É o professor que foge do aluno e o médico que foge do paciente”, exemplifica, citando como referência o caso de Manoela dos Santos, que acusou o médico do Hospital municipal Miguel Couto de escrever em seu braço e de outras duas grávidas a indicação da maternidade que deveriam procurar, inclusive o número do ônibus. Manoela perdeu o bebê. 

Ação contra prefeitura e médico

O advogado Michel Asseff, que defende Manoela, entrou com uma ação judicial, nesta segunda-feira (13), contra a Prefeitura do Rio, por perdas e danos, e também uma representação contra o médico José Roberto Tisi Ferraz no Conselho Regional de Medicina (CRM). “Ele violou os dispositivos da carta ética dos médicos”, diz o advogado.
Maria José Freitas, uma das grávidas que também teve o braço rabiscado pelo médico, não se conforma com o atendimento que recebeu no Miguel Couto. “Foi um absurdo o que fizeram com a gente. Esse tipo de atitude é, no mínimo, falta de profissionalismo. Uma mulher grávida, nessas condições, deveria ter um pouco mais de atenção”, protesta a moradora da Rocinha, que recebeu alta no dia 5 de julho da Maternidade Fernando Magalhães.
O vereador Carlos Eduardo, presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores do Rio, que acompanha denúncias feitas pelas gestantes ou famílias de mulheres que perderam bebês ou morreram durante o parto, considera a situação “gravíssima”.
“É muito dinheiro para pouca gestão. É como se os filhos dessas mães, a maioria moradoras de comunidades carentes, não tivessem o direito de nascer. É uma coisa escandalosa. Esse índice de mortalidade de grávidas é o pior indicador de justiça social”, conclui.

G1 > Edição Rio de Janeiro

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