RIO - "Me leva para ficar com o meu pai". Esta foi a última frase dita pela estudante Letícia Martins Coutinho Carvalhido, de 13 anos, antes de ser levada para o Hospital Getúlio Vargas, onde morreria horas mais tarde. Letícia - atingida por uma bala perdida na barriga quando saía, anteontem, de uma loja na Avenida Vicente de Carvalho, na Vila da Penha - referia-se ao professor Bruno Manuel Pereira Carvalho, morto há seis anos, vítima de um coágulo no cérebro. Os dois eram muito unidos e a garota falava, constantemente, em reencontrar o pai.
- Letícia, a mãe e a irmã demoraram muito para superar a morte do Bruno. Agora, que já conseguiam levar uma vida normal, acontece isso. A família foi novamente dilacerada - disse José Leonardo Coutinho, tio da jovem.
Mudança para Maricá
A morte de Bruno mudou as vidas de Letícia, da irmã Eduarda, de 18 anos, e da mãe das duas, Maria Verônica Martins Coutinho, de 37. Preocupada em criar as filhas num bairro violento como a Tijuca, onde viviam, Verônica mudou-se para Maricá há dois anos. Lá, as três superaram a perda e Letícia voltou a ser a garota de riso fácil, conhecida como a "alma da festa".
E, justamente por gostar tanto de festas, Letícia - chamada carinhosamente de Lelê - ganharia amanhã uma comemoração surpresa pelos 13 anos, completados no dia em que morreu. O tema seria a personagem Pucca e aconteceria na casa de uma tia, na Vila da Penha. Apesar de já ser uma adolescente, Lelê ainda brincava com bonecas.
- Ela era uma criançona. Nunca namorou, nunca beijou na boca. Ainda brincava de Barbie e adorava bichinhos de pelúcia. Não tinha maldade alguma - contou a prima Priscila Coutinho.
A mãe de Letícia, que sofre de pressão alta e teve que ser sedada durante todo o dia, não foi ao enterro, no cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita. Segundo sua irmã, Elizabeth Martins, de 52 anos, Maria Verônica quer lembrar da filha viva e sorridente.
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