segunda-feira, 13 de julho de 2009

Menina morre ao cair do 5º andar

Criança de 5 anos havia sido deixada dormindo na cama pela mãe. Ela e o marido acabaram presos por abandono

Élcio Braga, Pedro Landim e Pâmela Oliveira

Rio - ‘Sempre tive todo cuidado com minhas filhas. Em frações de segundos, aconteceu tudo aquilo: Rita estava estirada no chão, com o travesseiro e o edredom de um lado e lençol do outro. A dor é muito grande. Não matei minha filha”. O depoimento desesperado é de Fátima Rodrigues Edivirges Sena, 50 anos, que perdeu a filha caçula, Rita de Cássia Rodrigues de Sena, 5 anos, na noite de sábado. A menina caiu do 5º andar — altura equivalente a 25 m — do apartamento onde morava, no Condomínio Vivenda de Tomás Coelho, na Zona Norte, 19 minutos depois de ter sido deixada sozinha pela mãe. Fátima e Gilson Rodrigues de Sena, 51, foram presos em flagrante por abandono de incapaz e estão sujeitos a pena de até 16 anos de prisão.

Imagens do circuito interno mostram que os pais não impediram a morte por segundos: eles entraram no elevador de volta à casa 31 segundos antes de a filha cair. Segundo a polícia, eles entraram em casa um minuto depois da queda.

Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia

Pai e mãe da menina presos por abandono: desespero e dor na delegacia | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia

“Não temos dúvida de que houve crime de abandono de incapaz. Eles deixaram uma criança de 5 anos num apartamento com tela de proteção rasgada. Como pode os pais deixarem uma criança de 5 anos sozinha? Tenho um filho de 5 anos e isso é inconcebível”, disse a delegada Adriana Belém, da 25º DP (Engenho Novo).
A menina caiu às 23h23 por uma tela de proteção que estava rasgada na janela da área de serviço. Junto ao corpo, seus pertences: mochila da Barbie com roupas, cadernos e brinquedos, lençol, travesseiro, edredom, chupeta e tesoura.

Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia

Tela da área de serviço era a única que estava furada. Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia

Além dos objetos atirados pela criança, a polícia apreendeu no apartamento um revólver 38, de propriedade do pai, que foi agente penitenciário, mas não tem porte de arma.
Ao chegar ao apartamento e não encontrar a filha, Fátima voltou à festa junina onde estava, nervosa. Ela teria sugerido que o DJ anunciasse o sequestro da menina. Vizinhos circularam em busca de algum suspeito e viram o corpo. “A criança respirava e a barriga mexia. A ambulância demorou a chegar. Depois de mais de 20 minutos, senti a pulsação muito fraca”, disse um morador.
A criança chegou a ser levada para o Hospital Salgado Filho, no Méier, aonde já chegou sem vida. O delegado Marco Aurélio de Castro espera resultado da perícia quarta-feira: “Não sei se a criança estava brincando. Acredito que tenha forçado a tela, que, danificada, não suportou o peso”.
Vizinhos elogiam zelo da mãe com as duas filhas
Na delegacia, os pais exibiam o desespero. Mal tinham forças para se defender. “Ela (Rita) colocou uma camisola linda que minha mãe deu. Parecia uma princesa. Ainda pinguei remédio no nariz dela”, relatou a professora Fátima Rodrigues Sena, sobre os últimos instantes com a filha. Vizinhos retratam uma mãe zelosa, sempre junto a Rita e a Camila, 14 anos. “Era muito atenciosa”, confirma Roseli Ribeiro, dona do bar do condomínio.
Todas as janelas do apartamento possuem redes de proteção. Havia, porém, defeito numa delas. “A empregada encostou o ferro na tela da área de serviço e abriu buraco”, contou a mãe, que ainda acreditava na hipótese de alguém ter jogado a filha. Com os olhos vermelhos e inchados, Gilson chorava. “Ela era uma menina maravilhosa”, disse o contador, transferido para a Polinter.

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