quarta-feira, 24 de junho de 2009

Perícia comprova que policiais alteraram provas de engenheira desaparecida

Para-brisas foram quebrados para esconder buracos de tiros.
Segundo laudos, Patrícia estava no carro quando ele foi alvejado e caiu.

 

Alícia Uchôa Do G1, no Rio

Foto: Reprodução

As fotos da perícia mostram, à esquerda, marcas de tiros no capô do carro e, à direita, insulfilm retorcido e vidro aglomerado (Foto: Reprodução)

Pouco mais de um ano depois do desaparecimento da engenheira Patrícia Amieiro Franco, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) concluíram que policiais militares alteraram a cena do ocorrido para tentar esconder a verdade.
“Para nós se trata de um caso de homicídio”, resumiu o delegado Ricardo Barbosa, que presidiu o inquérito na Delegacia de Homicídios. O carro de patrícia foi encontrado dentro do Canal de Marapendi, mas sem vestígios de seu corpo.
Apesar de o documento indiciar seis policiais militares por ocultação de cadáver e homicídio, apenas quatro foram denunciados pelo Ministério Público. “Ainda não há provas suficientes contra eles. Mas isso não está arquivado e, surgindo novas provas, também poderão ser denunciados”, explicou o promotor Homero Freitas.

Segundo ele, as investigações concluíram que os dois policiais se assustaram com a saída de Patrícia em alta velocidade no túnel na chegada à Barra e atiraram para tentar fazê-la parar. “Acho que houve uma surpresa e eles atiraram assumindo o risco de matar”, completou o promotor.

Foto: Reprodução

O cinto retorcido, segundo a perícia, indica que  Patricia ainda estava no carro no momento do impacto; no alto à direita, o confronto balístico e, em baixo, a pedra encontrada no carro (Foto: Reprodução)

O que a perícia encontrou

Algumas questões inquietaram a perícia técnica durante todos esses meses. O carro foi encontrado dentro d’água, com os para-brisas quebrados, mas com o cinto de segurança afivelado e o banco do motorista reclinado. Dentro do carro, havia uma pedra com cerca de 8 kg e não foram achados vestígios de sangue.
“Havia um enrrugamento no cinto e a tecla que o prende na cintura estava avariada e não destravava, o que mostra que tinha uma pessoa ao volante no momento do impacto”, explicou o chefe do ICCE, Sérgio Henriques.

“O banco estava completamente deitado e uma pessoa deitada não teria visão para dirigir esse carro. Só que depois de uma das avarias, não foi possível colocá-lo na posição normal. Ele foi reclinado por uma ação manual”, completou, indicando que a ação foi feita para a retirada do corpo da engenheira.

Pedra e para-brisa

A polícia concluiu ainda que a pedra encontrada no interior do carro era do canal e foi arremessada sobre o parabrisa na tentativa de ocultar a perfuração da bala que o atingiu.

“Essa foi uma das contradições. Primeiro eles disseram que o arremesso foi no para-brisa, depois, no vidro lateral do carona. Mas não dá para imaginar que uma pessoa, para prestar socorro, iria jogar uma pedra de 8 kg sobre a outra”, questionou o delegado.
O vidro traseiro, segundo a perícia, também foi destruído. “O insulfilm estava completamente retorcido e ao lado de fragmentos de vidros no local, como se tivessem sido sacudido. Isso nunca vai ser encontrado num local de acidente de trânsito, em que o insulfilm ficaria inteiro e os pedaços espalhados”, afirmou o chefe do ICCE.

Armas e contradições

Ao longo das investigações, os policiais se contradisseram em várias partes de seus depoimentos. A perícia recolheu seis fragmentos de balas. “A partir desse momento, fomos ver se as seis armas tinham coincidências inconclusivas. A única que apresentava isso era do policial que estava na cabeceira da ponte no dia do ocorrido”, explicou Sérgio Henriques.
Segundo ele, é certo de que pelo menos três disparos foram feitos: dois atingiram o capô do carro e um terceiro entrou pelo para-brisa, na altura do volante, e saiu no vidro traseiro. As balas seriam dos calibres de pistolas .40 e .380, usadas pela Policia Militar. “Só não conseguimos ser mais conclusivos porque o projétil se fragmentou”, disse o delegado Ricardo Barbosa.

Foto: Reprodução / Ag. O Globo

Patrícia desaparececu há cerca de um ano, quando seu carro foi encontrado acidentado e vazio num canal na Barra da Tijuca (Foto: Reprodução / Ag. O Globo)

Pai tem esperança de filha viva

O pai e um dos irmãos de Patrícia assistiram nesta quarta-feira (24) à apresentação do laudo do ICCE à imprensa. “Espero que ela esteja viva, mas se tiver morta, que a gente possa enterrar”, disse o pai da engenheira, Antonio Celso Franco.
“É um pessoal despreparado. E o pior é que ainda sumiram com a minha filha. Cadê minha filha? Quero que eles nunca mais saiam da cadeia”, desabafou ele. Também muito abalado, Adriano Franco resumiu, entre lágrimas, o sentimento da família: “Essa conclusão não traz alívio, só aumenta a raiva”.

Números

Pouco antes de chegar à Barra, o carro de Patrícia foi multado, na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, na Zona Sul da cidade, por excesso de velocidade. Ela estaria a 84 km/h, onde o limite máximo é de 80 km/h. Com base nesse registro, a polícia calcula que ela teria sido assassinada por volta das 5h30, cerca de 10 minutos depois da multa.
Dez peritos participaram dos laudos periciais. O inquérito policial acumulou mais de 3 mil páginas, só o laudo pericial tem mais de cem.

G1 > Edição Rio de Janeiro

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