quarta-feira, 24 de junho de 2009

Expulsão à vista para policiais que fizeram pega

PMs que cederam viatura para acrobacias são presos e motorista está identificado

POR MARIA MAZZEI, RIO DE JANEIRO

Rio - O Comandante do 3º Comando de Policiamento de Área (CPA), coronel Paulo César Lopes, determinou ontem a prisão de um soldado e um cabo, lotados no 15º BPM (Duque de Caxias), apontados como os responsáveis pela viatura da Polícia Militar que participou de um pega no sítio Eva Nunes, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, na noite de domingo. Como O DIA noticiou ontem, o carro da corporação, um Gol com giroscópio, foi filmado fazendo acrobacias, como cavalos de pau e derrapagens. De acordo com Lopes, os policiais teriam ‘emprestado’ o veículo para um amigo — que não é policial — fazer as acrobacias e ficaram no local para assistir a ‘festa’.

“Pelo rastreamento do GPS foi possível levantar o posicionamento da viatura e chegar aos policiais. Eles estavam de serviço e deveriam fazer o patrulhamento na região. Mas saíram da rota e entregaram um carro oficial da PM nas mãos de amigos para realizarem atos de vandalismo. Estão presos administrativamente por 72 horas, vão ficar afastados do serviço, responder a processo disciplinar e serão expulsos da corporação ao final da investigação”, afirmou Lopes.
Durante o ‘pega’, os policiais cobriram com plásticos pretos a placa e numeração que identifica a viatura. Ontem, depois da divulgação das imagens mostradas por O DIA, o veículo foi levado para a garagem do Grupo Júlio Simões — que faz a manutenção de carros da corporação. Para Lopes, os PMs tentaram esconder o carro, sob a alegação de que o veículo já apresentava problemas mecânicos desde domingo.

Coronel Lopes: “Eles estavam de serviço e deveriam fazer o patrulhamento na região”. Foto: Carlo Wrede / Agência O DIA

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, recomendou à PM “medidas enérgicas e uma resposta rápida à sociedade”. Em nota, a corporação classificou como “lamentável” o episódio, e determinou que o comandante do 15º BPM, tenente-coronel Luís Antônio Corso, instaurasse sindicância para apurar o caso. Ontem, policiais do Serviço Reservado do batalhão foram ao sítio onde, aos domingos, é realizado o evento ‘Domingueira Radical’.

No local, foram apreendidos cinco veículos roubados, sete com documentação irregular e um reboque. Outro carro roubado foi encontrado na casa do homem suspeito de ter se exibido com a viatura durante o ‘pega’. O corregedor da PM, coronel Mauro Assad, solicitou as imagens mostradas no DIA Online para ajudar na identificação dos dois homens que estavam dentro da patrulha.

O deputado Wagner Montes, presidente da Comissão de Segurança da Alerj, disse ter ficado chocado com as imagens. “Quando vi o vídeo, torci para que não fosse verdade, que fosse uma viatura clonada. Sempre defendi a maioria dos policiais, que trabalha a troco de um salário miserável. Quando dois policiais cometem esse ato irresponsável, têm que ser punidos porque deveriam estar defendendo a população”, afirmou o deputado.

PMs ficaram três horas no sítio

O rastreamento da viatura da PM, através do Sistema de Posicionamento Global ou GPS, foi fundamental para provar o crime. Todos os carros oficiais da corporação têm o mecanismo, capaz de detectar desvios da rota programada com margem de erro de até cinco metros. O GPS registra também o momento em que o carro está em um determinado local. E foi possível saber quando a viatura entrou e saiu do sítio onde o pega acontecia. Pelo levantamento, os PMs permaneceram no local por pelo menos três horas.

De acordo com o coronel Almeida Netto, superintendente do Centro de Controle do Secretaria de Segurança, as informações ficam registradas em um banco de dados. Para localizar a viatura do 15º BPM, ele pesquisou no sistema o endereço do sítio. Imediatamente, a ferramenta emitiu uma imagem triangular e o ponto de localização do veículo. O sinal do rastreamento foi capturado através das antenas que estavam perto de veículo no dia do evento.

Além do banco de dados informatizado, para uma viatura sair de um batalhão, antes o policial que vai conduzí-la precisa receber autorização e deixar determinadas informações registradas. O PM deve preencher uma ficha com os dados, como a matrícula, e pegar a chave do carro com o despachante de plantão.

Em seguida, o documento é carimbado e assinado pelo oficial de dia. Através do rádio da viatura, o policial comunica a saída para o PM da sala de operações do batalhão e informa a matrícula e os dados do carro, como numeração e o setor de patrulhamento determinado.

Automaticamente, todos esses dados são registrados no computador da sala. A partir daí, qualquer movimentação da viatura precisa ser comunicada ao policial da sala de operações, que tem, inclusive, informações da posição da viatura via GPS registradas no sistema.

AS INFRAÇÕES DOS PMs

ABANDONO DE SERVIÇO
Por terem abandonado o patrulhamento e seguido para o sítio, uma área para a qual não foram destinados.
PREVARICAÇÃO
Crime praticado por funcionário público contra a administração em geral. Consiste em retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo indevidademete, contra o que a lei regulamenta, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. O agente público também pode responder por esse crime, pelo uso indevido das ferramentas públicas de trabalho, como carros, telefones, internet e documentos.
TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR
Para as instituições militares, esse tipo de crime é cometido quando o indivíduo pratica qualquer ato que fere os princípios da ética, dos deveres e das obrigações militares.

DANO AO PATRIMÔNIO
Vão responder caso fique provado que a viatura foi danificada após o pega.

O DIA ONLINE - RIO

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