domingo, 21 de junho de 2009

Viúva de Nadinho deixará o Rio por medo da milícia

Adriana Cruz e o filho de 12 anos já preparam mudança para a Paraíba depois do assassinato do ex-vereador no Condomínio Rio 2

João Antônio Barros e Thiago Prado

Rio - A viúva do ex-vereador Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho, decidiu fazer o que sempre quis desde o fim do ano passado. Apavorada com a milícia de Rio das Pedras — seu marido, assassinado dia 10, foi um dos chefes —, Adriana Fernandes da Cruz, o filho de 12 anos e o resto da família do ex-parlamentar estão de malas prontas para a Paraíba. Para trás, deixam a comunidade que Nadinho sonhava ver votando maciçamente em seu nome como em 2004, ano em que se elegeu para a Câmara Municipal.

Foto: Paulo Araújo / Agência O DIA

Nadinho e Adriana na época em que trabalhavam juntos na Câmara

Adriana recebeu O DIA no local onde Nadinho foi executado: o edifício Residence Provence, no Condomínio Rio 2, na Barra da Tijuca. O casal foi morar no prédio desde a morte do inspetor Félix Tostes, então chefe do grupo paramilitar de Rio das Pedras, em fevereiro de 2007. Nadinho era réu na Justiça pelo crime e, desde então, a relação com os milicianos da região estremeceu. O ex-vereador chegou a ser alvo de um atentado em novembro do ano passado e quase não saía de casa com receio de morrer.

“Hoje tenho medo de tudo, não consigo nem dormir. Meu filho não vai mais para a escola. Faltam apenas alguns detalhes burocráticos e voltaremos para a Paraíba”, conta Adriana, que vivia com Nadinho há 16 anos. Na memória da viúva ainda está o barulho das dezenas de disparos feitos enquanto preparava o almoço para a família: “Era muito tiro. Quando ouvi, sabia que tinha acontecido alguma coisa com ele”, relata, com lágrimas nos olhos.

Na semana passada, a viúva de Nadinho prestou depoimento na Delegacia de Homicídios e preferiu não responsabilizar ninguém pelo homicídio do marido. Ao contrário da viúva de Félix, Maria do Socorro Barbosa — que denunciou todos os integrantes da milícia de Rio das Pedras na Polícia Civil —, ela garante que não tem como ajudar na solução do caso.

“Ele (Nadinho) não trazia seus ‘problemas’ para casa”, conta. Mesmo assim, Adriana sempre esteve ao lado do marido em sua trajetória. Ela trabalhou no gabinete do ex-parlamentar na Câmara dos Vereadores entre 2004 e 2008. No ano passado, chegou a registrar candidatura para a Casa pelo PSDC. Na época, havia a possibilidade de Nadinho ser impedido de se eleger devido às acusações de envolvimento com milícias. No fim das contas, Adriana saiu do páreo e o marido não conseguiu votos suficientes para a reeleição.

Risco de perder todos os imóveis em Rio das Pedras

A família de Nadinho teme que a milícia tome os imóveis do ex-vereador na favela. Segundo Adriana, a cobrança de aluguéis na comunidade e a modelação de artesanato eram os atuais rendimentos do casal. Conforme investigações da polícia, o faturamento com atividades clandestinas dos paramilitares cessou com a morte de Félix.
De acordo com declaração entregue ao Tribunal Superior Eleitoral ano passado, a viúva de Nadinho tem R$ 171.500 em bens para seguir com a vida, incluindo duas casas em Campina Grande (PB). Já o ex-parlamentar, segundo a Justiça Eleitoral, teria deixado R$ 95.700 de herança em bens.

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