quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Pai joga filho e em seguida se atira de prédio em SP, diz polícia

Leonardo Guandeline, O Globo

O gerente de vendas ligou para a mãe e chefe antes de jogar o filho do prédio e se atirar em seguida - Reprodução/TV Globo

SÃO PAULO - A Polícia Militar confirmou que eram pai e filho o homem e o menino que morreram após caírem de um prédio localizado na Rua Correia de Lemos, na Chácara Inglesa, no bairro da Saúde, na Zona Sul de São Paulo, na manhã desta quarta-feira. O homem foi identificado como Cássio Rodrigues, de 30 anos, consultor de vendas, e a criança era Pedro Branco Couto Rodrigues, de 2 anos e 9 meses. A queda aconteceu do solarium do bloco A do condomínio, que fica acima do 18º andar. A polícia investiga o caso e trabalha com a hipótese de homicídio seguido de suicídio - o pai jogou o filho e pulou em seguida - já que uma testemunha, colega de Cássio, confirmou ter ouvido um barulho e, logo depois, ter visto o consultor de vendas em queda livre. Após 4 anos juntos, Cássio estava separado da mãe da criança, a médica Kátia Regina Dias Couto, desde março deste ano, e não morava com a ex-companheira e o filho.

O consultor de vendas havia telefonado para a mãe, Regina Imaculada de Souza, de 50 anos, por volta de 8h30m, duas horas antes da queda, com tom de despedida. Instantes depois ligou para o chefe. Segundo boletim de ocorrência feito no 16º Distrito Policial de Vila Clementino, para a mãe, Regina Imaculada de Souza, de 50 anos, Cássio ligou chorando e pedindo desculpas "por algo que eventualmente ele tivesse feito e causado sofrimento a ela". Para o chefe, Arthur de Ávila Rezende, telefonou, também chorando, pedindo para que ele agradecesse ao dono do escritório onde trabalhava por tudo que tinha feito por ele.

Após receber a ligação, o chefe e um colega de trabalho, identificado como Ronaldo Aparecido Bazan, foram até casa dos pais de Cássio, localizada no município de São Caetano do Sul, no ABC paulista, onde o consultor estava morando desde a separação da mulher. Chegando lá, Cássio não estava e o grupo, incluindo a mãe dele, foi até o prédio onde a criança morava com a mãe, na Saúde. Ao chegarem no edifício, a mãe de Cássio e os colegas de trabalho foram recebidos pela babá da criança, Neidiane de Souza, de 17 anos, dizendo que Cássio havia sumido com o menino.

O grupo então começou a procurar pai e filho no condomínio. Segundo o boletim de ocorrência, o colega de trabalho Ronaldo Bazan ouviu um barulho muito forte no jardim do prédio. Era a criança que havia caído. O colega ainda viu Cássio em queda livre, em seguida. Segundo a polícia, antes de cair no jardim, o menino chegou a tocar na cerca elétrica do prédio. O pai caiu sobre o jardim.

Pedro tinha apenas 2 anos e 9 meses - Reprodução/TV Globo

Segundo a mãe de Cássio, o filho bebia até o ano passado, quando parou a pedido da mãe da criança. Ainda de acordo com o boletim de ocorrência, Regina Imaculada disse que o filho lamentava a separação e que "os amores da vida dele eram a mulher e o filho". Após a separação, mesmo tendo entrado para uma igreja, Cássio andava depressivo, segundo a mãe contou aos policiais. Ainda de acordo com o boletim, o casal havia tido uma briga em março deste ano, que culminou na saída dele do apartamento onde o casal vivia. Essa discussão, seguida de agressão física, foi testemunhada e apartada por um investigador de polícia vizinho do apartamento.

De acordo com a Polícia Militar, a perícia técnica encontrou no apartamento de número 52, do 5º andar do bloco B, onde o menino morava com a mãe, veneno de rato, o popular chumbinho. A substância estava na pia da cozinha do imóvel. Segundo o tenente PM Leandro Verardino, ao lado do chumbinho, foram encontrados dois copos.

- A perícia informou que foi encontrado veneno de rato na pia da cozinha do apartamento. No entanto, somente os peritos vão saber dizer se o produto foi ingerido pelas vítimas - diz o tenente.

Segundo André Nadas, morador do condomínio, o acidente por volta das 10h30m. A queda ocorreu no prédio que dá frente para a rua. De acordo com a PM, pai e filho morreram antes da chegada do socorro médico. Cássio, segundo apuraram os policiais, chegou ao local por volta das 10h e teria trazido o veneno de rato. Ele subiu até o apartamento onde Neidiane de Souza estava com a criança e teria dito à babá que levaria o filho para um banho de sol.

Ambos saíram em seguida e o pai teria batido a porta do apartamento, provocando reação de estranheza em Neidiane, que estava na lavanderia do apartamento. Apesar de estar separado da mulher há pelo menos um ano e não morar no condomínio, o homem tinha livre acesso ao edifício, segundo vizinhos. Segundo o boletim de ocorrência, o pai costumava visitar o filho quando a mãe saía para trabalhar em um hospital também na zona sul da capital paulista.

A babá disse aos policiais que não viu se o pai ingeriu o chumbinho ou deu o veneno para a criança. A mulher ficou no apartamento quando o pai levou a criança para o solarium até a chegada dos colegas e da mãe de Cássio.

- Eu saí para levar minha filha para a escola e quando voltei vi algo como um pacote grande caindo e um estrondo muito forte. Parecia que tinham jogado um televisor gigante do prédio, mas não deu para identificar o que era por causa do sol. Quando entrei, vi os corpos no jardim. O menino tinha ferimentos no rosto e o pai, que não tinha muitos ferimentos, já parecia morto - disse Nadas.

Nadas disse que conhecia as vítimas apenas de vista e não sabia de qualquer desavença entre o casal.

No carro de Cássio, um Pálio, policiais encontraram um notebook e um pen drive. Ambos os equipamentos, junto de um celular encontrado no bolso do consultor de vendas e R$ 32 reais que estavam na carteira de Cássio foram apreendidos. O material será periciado.

Caso semelhante

O mesmo distrito policial que investiga o crime na Chácara Inglesa também apurou um caso semelhante este ano. No dia 22 de abril, o advogado e professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e o filho dele foram encontrados mortos em um apartamento na Avenida Senador Casemiro da Rocha, em Vila Clementino, bairro de classe média alta, na zona sul de São Paulo.

Os corpos de Renato Ventura Ribeiro, de 39 anos, e do filho, de 5 anos, foram achados por uma faxineira. Segundo a polícia, ambos estavam baleados na cabeça. O advogado estava com uma arma na mão.

Para a polícia, Ribeiro se matou depois de assassinar o filho, porque perdera na Justiça, dez dias antes, o pedido de guarda do menino. A criança morava com a mãe, a advogada Fabiane Húngaro Menina.

Extra Online

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