quarta-feira, 1 de julho de 2009

Família acusa PM de matar inocente no Vidigal

Parentes de ex-porteiro vão entrar com ação contra o estado. Eles afirmam que rapaz foi retirado de casa, espancado e executado

POR VANIA CUNHA, RIO DE JANEIRO

Rio - A família do ex-porteiro Carlos Andrese Souza da Silva, de 25 anos, pretende processar o estado. Os parentes acusam policiais militares de terem executado o rapaz, sexta-feira, durante operação do 23º BPM (Leblon) no Morro do Vidigal, na qual o soldado Elias Silva Júnior morreu baleado durante o confronto com traficantes. Vizinhos da vítima promoveram um protesto silencioso ontem no Vidigal, segurando cartazes com a foto do jovem.

Foto: Vania Cunha / Agência O DIA

Tio de Carlos, Lourival diz que PMs destruíram documentos

Segundo moradores, Carlos teria sido morto com dois tiros no peito, por volta das 5h40, minutos depois de o policial que dirigia um Gol branco ser baleado. Ainda segundo relato de vizinhos do rapaz, ele teria sido retirado pelos PMs de sua casa, na localidade Arvrão. O presidente da associação de moradores, José Valdir Corrêa Cavalcante, disse que chegou ao local minutos depois que o rapaz foi morto.
“O policial tinha acabado de atirar. Os moradores disseram que ele foi agredido com chutes e socos. Outro rapaz, que é funcionário da associação, também foi levado para morrer, mas consegui interceder”, contou Valdir, ressaltando que policiais do Bope teriam cometido abusos na comunidade, como agressões e furto de R$ 2.200. O comandante da unidade, tenente-coronel Alberto Pinheiro Neto, negou as acusações e disse que nenhum episódio foi relatado ao batalhão.

SUSTENTANDO A FAMÍLIA
Tio da vítima, o porteiro Lourival Pedro dos Santos contou que o sobrinho trabalhou até fevereiro como porteiro de um edifício na Praia do Flamengo. “Ele ficou nesse emprego por quatro anos. Sustentava a mãe e dois irmãos menores, que moram na Paraíba. Ele juntou o dinheiro da demissão para reformar sua casa porque iria trazer a noiva para o Rio. Era um rapaz responsável, trabalhador e sossegado”, disse ele, que vai procurar a OAB.
Segundo Lourival, os documentos de Carlos teriam sido danificados propositalmente. “Destruíram a identidade e arrancaram a foto da carteira de trabalho. A polícia bota a farda e acha que pode tudo. Quero limpar o nome dele”, afirmou.
A morte foi registrada na 15ª DP (Gávea) como auto de resistência de “homem não identificado, que usava camisa do Grêmio e bermuda preta”, a mesma roupa que usava quando foi fotografado por um morador ao ser retirado de casa.
Rosto sem semelhança com acusado
Policiais disseram ter recebido informações de que o morto seria o traficante conhecido como Zoião. Mas o acusado que consta no banco de dados da delegacia com esse apelido chama-se Douglas da Conceição, 18 anos. Ele tem várias passagens, mas nenhuma semelhança com Carlos.
O comandante do 23º BPM, tenente-coronel Lima Castro, disse que os fatos ocorridos na operação foram relatados à delegacia, a quem compete a investigação. Ontem, cerca de 40 homens do 23º BPM e do Bope reforçaram o patrulhamento na comunidade, temendo que a manifestação provocasse confusão.

O DIA ONLINE - RIO

Nenhum comentário: