segunda-feira, 20 de julho de 2009

'Não vou tolerar desonestidade e traição'

Quarta mulher a comandar um batalhão na atual gestão da PM, a tenente-coronel Ana Cláudia Siciliano promete encarar com rigor o desafio de ficar à frente do Regimento de Polícia Montada (RPMont), em Campo Grande. Mas sem perder a ternura.

Para chegar ao topo do batalhão de uma das áreas mais críticas da segurança pública, ela desbancou 10 concorrentes de peso - todos homens - na lista de preferências do comandante-geral da corporação.

"Siciliano é severa, sem ser injusta; rigorosa, sem ser excessiva; e presente, sem ser performática. É a minha grande aposta", definiu Mário Sérgio Duarte.

Nomeada, ela só assume o cargo na próxima sexta-feira. Mas, em entrevista ao Blog da Segurança, a tenente-coronel revelou um pouco do que vem pela frente.

BLOG DA SEGURANÇA: - Como a senhora pretende combater a ação da milícia e de policiais que se envolvem nesse crime?
CEL. SICILIANO: - Vamos combater o que tiver de errado. Não prometo milagres, mas vou fazer o possível. Não vou tolerar desonestidade nem traição.

- E como vai ser o tratamento com a tropa para evitar possíveis desvios de conduta?
- Sou rigorosa, exigente com o comportamento e a postura do policial. Mas também sou justa. Costumo ouví-los e tratá-los bem, para que tenham condições de repassar tal tratamento à população. O policial tem que ser fiel à causa que abraçou e, quem tem honestidade e dedicação, ganha muitos pontos na minha concepção.

- É difícil trocar a seleção de novos PMs pelo comando de uma área tão crítica?
- Sou PM em qualquer área. Vou de espírito aberto e tentar fazer um trabalho em conjunto com a população para que eles confiem na Polícia Militar e, em troca, nos ajudem a fazer um trabalho cada vez melhor.

- Quais os projetos que deram certo em suas gestões anteriores e que a senhora vai levar para o RPMont?

- Quero abrir o batalhão para a comunidade. Acredito que a polícia e a sociedade tem que caminhar juntos. Quero estabelecer uma relação de confiança com os moradores para que eles nos ajudem a combater as ilegalidades.

- A senhora vê motivação nos policiais que estão chegando à corporação?
- Quem entra hoje pensa no emprego, não no desafio de cuidar da segurança pública. Olho para trás e vejo que muitos valores sociais se perderam. Por isso, vi muitos abandonarem pelo caminho. É um emprego diferente, com muitas dificuldades, mas tem que estar disposto a se entregar para defender um bem maior.

- A senhora ficou quatro anos à frente do recrutamento e seleção de novos policiais. Como é a avaliação de quem entra ou não para a polícia?
- Eu sou bem exigente. As provas que fiz, geralmente, reprovaram 50% dos candidatos. Procuro selecionar a qualidade e não a quantidade. Os que passam, são os melhores até então. Mas isso não significa que nunca vão cometer erros.

- A senhora já chefiou outras unidades. Há preconceito contra mulheres no comando de tropas?
- Tudo é uma questão de postura profissional. A tropa reconhece competência, independente do sexo. O comandante-geral quer modernidade, aposta em coisas novas, mas acho que ele coloca pessoas que acredita estarem preparadas para encarar o desafio que é a segurança pública.

- E como fazer para separar a coronel da mãe de família?
- Não costumo levar os problemas domésticos para o quartel, mas, pelo cargo, o trabalho sempre acaba me acompanhando quando estou em casa. Mas procuro dar mais atenção à minha família nos momentos caseiros, preservar a nossa rotina. Meu marido também é tenente-coronel, mas sempre soubemos separar as coisas, não há disputa de quem manda mais.

O Dia Online

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