quinta-feira, 14 de maio de 2009

Duas crianças foram atiradas para fora de ônibus incendiado durante tumulto em São Paulo

SPTV, O Globo, Diário de S.Paulo

Reprodução TV Globo

SÃO PAULO - Duas crianças e a mãe delas foram jogadas para fora do ônibus incendiado durante tumulto na favela Tiquatira, na Penha , zona leste de São Paulo , na noite desta quarta-feira. O confronto com a polícia teria ocorrido após a prisão de três traficantes. Dois deles foram resgatados de dentro de uma viatura policial pelos manifestantes. (veja fotos)

Mãe e filhas teriam sido empurradas pela janela por pessoas que participaram do tumulto e incendiado o veículo. S.L, que completa 1 anos nesta sexta-feira, teve traumatismo craniano e está internada em observação no Hospital do Tatuapé. A irmã de S.C.L, de 5 anos, e a mãe das crianças, Carina Lopes, de 24 anos, também tiveram ferimentos, foram medicadas e liberadas.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o tumulto começou por volta de 18h20m. A Polícia Militar foi chamada e recebida a pedradas. Os manifestantes bloquearam com pneus incendiados a Avenida Gabriela Mistral e da Marginal Tietê, na altura da alça de acesso da Penha, na zona leste.

Durante o confronto, motoristas parados no congestionamento foram roubados. Dezenas de criminosos enlouquecidos atacaram motoristas que tentavam, impotentes, fugir do congestionamento de mais de 13 quilômetros na Marginal Tietê, sentido Rodovia Presidente Dutra,durante o protesto realizado por na noite desta quarta feira por moradores da Favela Tiquatira, na zona leste de São Paulo, em represália à prisão de traficantes.

Dois ônibus e um caminhão que passavam pelo local foram incendiados. Os motoristas dos três veículos perderam todos os seus documentos, que foram incendiados.

Os motoristas, vítimas aterrorizadas, entregavam tudo aos bandidos. E ainda assistiam a cenas de vandalismo contra vários carros. A confusão ocorreu em pleno horário de pico e a Marginal ficou totalmente bloqueada por meia hora.

De mãos atadas. Não dava para fugir. Não dava para pedir ajuda - lembra, assustado, o engenheiro Altamir Campos de Oliveira, de 52 anos.

Ele percebeu que o tráfego parou de forma abrupta.

Estranhei quando os ônibus começaram a empurrar os veículos para a pista da esquerda da marginal. Depois vi os carros pegando fogo e uma multidão correndo nos corredores entre os carros - disse.

Altamir falou que os bandidos eram muitos. E jovens.

Um moleque quebrou o vidro do meu carro. Disse pra dar o que tinha. Me levaram R$ 490 e o celular. Um absurdo!

Donas de um salão de cabeleireiros, Lourdes Vieira Pavão, de 68 anos, e sua filha Esli, de 42, não conseguiam acreditar no que viam.

Eram dezenas de bandidos correndo entre os carros. Cada um roubava um veículo. Passaram por nós e um deles já mandou dar a bolsa. Depois ameaçou pegar a chave do carro se minha mãe não entregasse a dela também - contou Esli.

Eu entreguei. Tinha dinheiro, documentos e até minhas joias - lamentou Lourdes.

Segundo as vítimas, a PM havia fechado a marginal, obrigando os carros a pegarem o acesso à Avenida Tiquatira.

Fomos enviadas aos ladrões - disse Esli.

Moradores ficam tensos

Os moradores da Favela Tiquatira também ficaram apavorados com a manifestação.

Eu estava saindo para trabalhar quando ouvi a movimentação de carros e muitos gritos. Cheguei até a calçada e vi uma labareda em meio a uma nuvem de fumaça preta. Meus filhos começaram a chorar, e aí voltei para casa e me tranquei lá dentro com eles - conta um porteiro que se identificou apenas como José.

A doméstica Maria Trindade, de 32 anos, ficou desesperada quando desceu do ônibus no Viaduto do Imigrante Nordestino e viu toda aquela confusão.

Minha preocupação era com as crianças que estavam voltando da escola. Não conseguia falar com eles e nem atravessar a avenida. Por sorte, eles ficaram na casa de uma vizinha.

Os comerciantes da região ficaram com medo de saques, já que alguns trechos da Avenida Governador Carvalho Pinto ficaram sem energia elétrica.

A líder comunitária Tatiana Júlia de Araújo conta que tudo começou porque a PM foi abordar os três rapazes que jogavam bola.

Tinha um homem ao lado deles fumando maconha, mas os policiais pegaram os meninos e não mexeram com quem estava com as drogas. Aí ficou todo mundo revoltado.

Só em janeiro deste ano, os moradores da Favela Tiquatira interditaram a Marginal Tietê e entraram em confronto com a PM três vezes. Nos dias 5 e 6, reclamaram da Prefeitura pela falta de assistência às famílias que perderam barracos num incêndio. Dez dias depois, pediram melhores condições de moradia. Em 15 de agosto de 2008, um ônibus foi incendiado e sete foram depredados. O protesto ocorreu um dia após três jovens serem mortos perto da favela e dois dias depois de um ladrão morrer baleado durante um assalto a banco.

Extra Online

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