quinta-feira, 7 de maio de 2009

Delegado indicia médica de clínica de lipo por lesão corporal

Decisão é da 16ª DP (Barra). Pediatra também responderá a outro inquérito na Delegacia de Saúde Pública

Carol Medeiros e Natalia von Korsch

Rio - A médica Sheila Maria da Silva Pinto Gonzalez, acusada por várias pacientes de deformar seus corpos em cirurgias de lipoaspiração sem os mínimos cuidados, vai responder a inquérito por lesão corporal. A investigação da polícia foi motivada por série de reportagens que O DIA publica desde segunda-feira.

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Giovana mostra o corpo com queimaduras e deformações após a lipo. Foto: Paulo Alvadia / Agência O DIA

A Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde Pública instaurou ontem inquérito contra a clínica pediátrica da médica, a Prosilha, na Ilha do Governador, por infração ao Código de Defesa do Consumidor. Já o delegado da 16ª DP (Barra), Carlos Augusto Nogueira, indiciou a pediatra por crime de lesão corporal culposa. A clínica médica e estética Beleza Pura, cuja unidade da Barra indicou pacientes para Sheila na Ilha, informou que não trabalha mais com ela.

Para o delegado Robson Costa, a Prosilha pode ter executado serviços de alta periculosidade, contrariando determinação das autoridades, crime previsto no Código de Defesa do Consumidor: “Se for constatado que ali há cirurgia plástica sem autorização, em ambiente inapropriado, com profissionais não qualificados e sem obedecer a normas de higiene, ela pode ser interditada”.

Também vítima da médica, a comerciante Giovana Zott, 32 anos, foi parar no hospital com infecção generalizada após lipo feita por Sheila na Prosilha. Segundo ela, a médica dizia que os nódulos, queimaduras e a deformação na barriga eram normais. “Só percebi a gravidade ao ler as matérias no jornal. Essa mulher não tem condição de exercer essa função. Até remédio proibido ela vende, é um absurdo”, conta Giovana, mostrando um frasco de moderador de apetite manipulado vendido na Prosilha. “Um mês após a cirurgia, fui a Búzios e não fiquei um dia na praia de tanta vergonha. Todos olhavam para mim”.

Com base no relato das pacientes que tiveram complicações após ser operadas por Sheila, Costa vai ouvir a médica, que pode ser indiciada também pela Delegacia de Saúde Pública e, se considerada culpada, pegar até dois anos de detenção. A pena é aplicada independentemente da condenação de lesão corporal, que prevê um ano de detenção por cada vítima.

O advogado de Sheila, Roberto Barros, informou que a médica ainda não recebeu a intimação. Ontem, a Prosilha estava fechada e um aviso no portão informava que havia mudado de endereço. O novo local de atendimento não foi fornecido e, pelo telefone deixado para informações, não foi possível falar com ninguém.

Pediatra se identificava como cirurgiã plástica

Apesar de o advogado da clínica Prosilha, Roberto Barros, ter divulgado em nota que a médica Sheila Gonzalez é pediatra, especializada em Cirurgia Estética, ela se identificava para os pacientes como cirurgiã plástica. Nos receituários que a médica fornecia após cirurgias de lipoaspiração realizadas na Prosilha — cadastrada no Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) como clínica médica infantil —, o local era identificado como Clínica de Medicina Estética e Cirurgia Plástica Sheyla M. Gonzalez.
Porém, nos remédios que a própria médica vendia, seu nome era grafado de forma diferente, como consta no cadastro do Cremerj: Sheila Maria Gonzalez. Entre as drogas vendidas, constavam receitas para inibição de apetite, remédios para emagrecer e até arnica — cujo uso é permitido e aconselhado no próprio frasco apenas externamente — para ingestão.

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