Djalma Oliveira, Extra
RIO - Com a alma ferida e a vida virada de ponta-cabeça, mas determinado a ir até o fim em busca de justiça. É assim que o autônomo Pedro (nome fictício), de 49 anos, se sente após a agressão sofrida pelo filho João (nome fictício), de 14, na última sexta-feira, na favela Gogó da Ema, em Belford Roxo . O jovem diz ter sido vítima de alguém que deveria protegê-lo: o cabo da PM Alessandro Azevedo Bruno, que participava de uma operação no local. Poucos dias depois do episódio, que resultou na repreensão do policial diante da tropa, após a denúncia feita por Pedro ao comandante do 3º Comando de Policiamento de Área (3º CPA), coronel Paulo César Lopes,pai e filho tentam reconstruir a vida, tendo o medo como constante companhia.
- As crianças (João tem dois irmãos menores) não podem ver um carro da polícia que ficam assustadas. No sábado, vizinhos me contaram que um carro da polícia ficou parado olhando para a minha casa - disse Pedro, que já não estava na favela, Onde viveu por 19 anos.
Além do temor de continuar morando no cenário da agressão, a residência estaria aos pedaços. Segundo Pedro, o cabo Alessandro Bruno destruiu móveis e uma televisão. Para voltarem a ter tranquilidade, a família vai deixar Belford Roxo.
- Só peguei dois colchonetes, dois cobertores e algumas roupas. Estou pagando um aluguel de R$ 220. E sem dinheiro até para o ônibus, tendo que receber ajuda dos parentes - disse Pedro, que está desempregado e ganhava cerca de R$ 300 por mês fazendo trabalhos temporários como pedreiro e num lava-jato que montou na garagem de sua casa no Gogó da Ema.
Planos para voltar
Apesar do trauma, Pedro sonha um dia poder voltar com a família à comunidade:
- Gostamos de morar lá. Nem vou vender a casa. Mas só voltaremos depois que o policial for preso e expulso da PM. Só assim voltaremos a ter paz. Eu ainda confio na corporação, mas o que vai ser da minha família enquanto o homem que agrediu o meu filho estiver na rua?
Pedro pretende processar o governo do estado pelos sofrimentos físico e psicológico causados pela agressão do policial militar ao filho.
Pai quer processar o governo do estado
- Vou procurar um advogado, isso não pode ficar impune. Estamos traumatizados. Desde sexta-feira que não conseguimos dormir direito. Deixei as irmãs dele com a mãe. Não vou conseguir perdoar esse policial. A mãe dele quer que eu esqueça, mas eu vou até o fim - afirmou o pai.
Maior controle sobre os policiais
O coronel Paulo César Lopes, que deu voz de prisão ao cabo Alessandro Bruno, defendeu um maior controle sobre os policiais:
Polícia sem controle é bando. E bando comete crime. Cada comandante tem que seguir as normas. É só aplicar o que está escrito, sem dar contornos pessoais às regras. É preciso agir com rigor, mas sem abusos - disse ele, que espera que o episódio ajude a mudar a visão da população em relação à PM.
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