quarta-feira, 27 de maio de 2009

Alargar calçada de rua no Méier era prioridade

Documento da Secretaria de Urbanismo enviado para a de Obras apontava risco em via onde menino de 4 anos morreu

Rio - Consideradas prioritárias pela Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU), as obras de alargamento das calçadas da Rua Hermengarda, no Méier, onde o pequeno Kaikke Rodrigues da Silva, 4 anos, morreu atropelado por um ônibus segunda-feira, nunca saíram do papel. Elaborado pela Gerência de Fiscalização e Licenciamento da área — órgão ligado à SMU —, o relatório que aponta a necessidade das mudanças foi encaminhado à Secretaria Municipal de Obras (SMO). O motorista Wagner Sendra da Silva foi indiciado por homicídio culposo (sem intenção de matar) e vai responder em liberdade.

William, Larissa e a filha, Fernanda, se espremem em 50 cm na Rua da Passagem, em Botafogo. Foto: Alessandro Costa / Agência O DIA

De acordo com o documento, as calçadas que deveriam ter seis metros de largura tem menos de dois. No local exato do acidente a largura da calçada é de 1,34 m. Apesar de confirmar o conteúdo do relatório, a SMU não informou a data em que o documento foi elaborado e enviado à Secretaria de Obras.
Ontem O DIA percorreu diversas ruas da cidade e constatou que a falta de espaço nas calçadas e o consequente risco de acidentes é um problema que aflige moradores de todo o Rio. Na rua onde o menino morreu, obstáculos como postes e veículos estacionados sobre as calçadas dificultam ainda mais a vida dos pedestres. “É muito estreito, tenho que desviar de muitas coisas e ter atenção para não ser atropelado”, contou o balconista Antônio Eudes, 26 anos, impressionado com a largura da calçada onde a tragédia aconteceu. No Centro, o problema se repete. “Somos obrigados a andar pela pista. Perigoso a gente sabe que é, mas ninguém aguenta ficar levando empurrões o tempo todo”, disse a aposentada Anilza de Oliveira, 71 anos, que esperava ônibus em plena pista da Av. Passos.

Nas ruas da Zona Sul, os pedestres também dividem as calçadas estreitas com o perigo. Na Rua da Passagem, em Botafogo, por exemplo, o espaço para quem anda a pé não passa de 50 centímetros entre o muro de um colégio e a via, na altura do número 528. Pior: o piso irregular em vários trechos deixa as pessoas expostas a quedas. “A gente tem que trazer nossa filha à escola. Quando os ônibus passam, sentimos até o ar se deslocando. Dá medo”, diz o engenheiro William Roehrs, 24.

>>Envie fotos de calçadas estreitas e que colocam o pedestre em risco

Especialista em estruturas, o conselheiro do Crea Antônio Eulálio reforça as críticas. E faz um alerta: “A falta de espaço nas calçadas está colocando a vida dos pedestres em risco. A prefeitura tem que agir”.

De acordo com o sociólogo João Carlos Farias, coordenador de acessibilidade do Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos dos Deficientes (IBDD) apenas uma em cada 10 ruas do Rio estariam dentro dos padrões definidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). “A maioria das calçadas está em condições precárias e fora das condições mínimas de segurança. Se para as pessoas que não têm deficiência já é difícil andar nas calçadas, imagina para cegos e cadeirantes”.

Questionado sobre o problema das calçadas, o prefeito Eduardo Paes disse que a questão não é um problema simples de resolver. “Nem sempre temos como alargá-las porque não há espaço sobrando nas ruas”.

O corpo de Kaikke foi enterrado ontem no Cemitério do Catumbi.

MOTORISTA E COBRADOR

O motorista Wagner Sendra da Silva disse na 23ª DP (Méier) que só soube do atropelamento 45 minutos depois. “Ele contou que já estava na rodoviária quando recebeu aviso do setor de acidentes da empresa. O motorista que vinha atrás dele viu o atropelamento e ligou para a viação. Ele já estava com o ônibus cheio quando a empresa o mandou voltar”, contou o delegado Paulo Guimarães.
Felipe de Moura Rego, 35, motorista da Redentor que testemunhou o acidente, entrou em choque. Na delegacia, Wagner, que tem cinco filhos, um também chamado Kaíke, contou que a mãe caminhava com o filho pela calçada e se desequilibrou. “Segundo ele, ela caiu e apoiou as mãos no chão. O motorista acredita que ela tenha esbarrado no menino, que foi parar na rua. Ele viu a mãe tentando puxar o filho de volta”, ressaltou Paulo. No dia do acidente, Josicleide Rodrigues da Silva, 30, não mencionou qualquer tropeção.
Nenhum passageiro do ônibus 266 (Cidade de Deus-Rodoviária) foi à delegacia. Wagner depôs acompanhado por advogados da empresa. Além de dirigir o ‘micrão’ (ônibus de tamanho médio), ele também era responsável pela cobrança das passagens. Ele dirige há quatro anos e está na Redentor há 11 meses. Ontem, o delegado esteve no local e constatou a dificuldade de pedestres para se locomover. A perícia constatou que não há indícios de que o garoto tenha sido atingido pela lateral ou pela parte da frente do ônibus. Vestígios mostram que a criança foi atropelada pela roda traseira direita do coletivo.

Calçadas minúsculas são risco para pedestre

Na Avenida Marechal Rondon, no Méier, há trechos onde só cabe um pé de cada vez. “Quando volto da escola com o meu sobrinho, tenho que passar espremida pelo muro. Ou ficar aguardando que as pessoas cedam a vez para passarmos. A impressão é que os ônibus vão encostar em nós”, disse a professora Raquel da Silva Rosa, 21.

Calçadas minúsculas que cortam as margens da Estrada do Magarça, em Campo Grande, também tiram o sono dos moradores. Em alguns pontos, elas simplesmente desaparecem, obrigando pedestres a caminhar por uma ciclovia cercada por mato e postes. “É um problema constante. Os carros invadem esse espaço e várias pessoas e ciclistas já foram atropelados. As crianças vêm caminhando pelo acostamento, é muito perigoso. Carros podem perder a direção e acabar matando alguém”, afirmou o biólogo Mauro Pereira, 28.

Reportagens de Carol Medeiros, Francisco Edson Alves, Mahomed Saigg e Vania Cunha

O DIA ONLINE

Um comentário:

Anônimo disse...

o onibus estava desalinhado,
com atraseira meio torta..esse seria talvez o motivo dessa trajedia..empresa inresponsavel.