sábado, 22 de março de 2008

O DESABAFO DE UMA VIUVA DE UM PM ASSASSINADO!!!

A dois meses de completar 35 anos de idade, o cabo da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro José Carlos Gonzaga do Nascimento, lotado no 25º BPM (Cabo Frio), faleceu após reagir a um assalto. Para alguns… só mais um… Para outros… só menos um…
Para a dona de casa Marise Secunho de Oliveira, 46 anos, sua esposa há 14 anos, uma dor sem fim. A perda do marido não representa apenas chorar de saudades, sentir falta de um companheiro e amigo, ficar sem parte de sua vida, ter que se adaptar a uma nova realidade… mas também ter que lutar contra toda a burocracia e desprezo de uma corporação, de um Governo e de uma sociedade.
Publico aqui a carta que recebi dela. E espero, de coração, que seu sofrimento toque a consciência de alguma pessoa que possa ajudá-la. E que a ajude.
O cabo PM Nascimento serviu e protegeu a todos nós durante 9 anos. Que agora alguém possa servir e proteger a sua família.
“Numa tarde de 30 de novembro, meu marido passou por mim de viatura na rua onde patrulhava e acenou para mim. Eram exatamente 14h26. Ele me ligou e disse: “amor, vamos pra serra amanhã de manhã descansar, pois me sinto cansado. Vou fazer a última prova hoje, mas amanhã cedo saíremos. Prepare o isopor com gelo, compre carne e vamos subir com nossa filha”. Eu disse: “tudo bem”. Eu estava atravessando um problema de saúde sério e ele perguntou: “você tá melhor?” Eu respondi: “sim”. E ele: “pois então vamos”.
Bom, estava em casa por volta de mais ou menos 21h quando recebi o telefonema de uma amiga (esposa de polícia também). Ela disse: “Marise, você tá sentada?” Eu respondi: “sim”. Daí ela me falou: “seu marido sofreu um acidente e está no hospital de Tamoios”. Daí eu não consegui nem andar. Pedi ajuda a pessoas conhecidas para me levar lá. Eu e nossa filha de 11 anos.
Ela disse que ele tava bem. Quando chegou ao hospital, que é de péssima qualidade e sem recurso algum, ele tinha acabado de falecer. Daí entrei, entramos em pânico. Minha filha mais velha, que não é dele, foi na frente por trabalhar na saúde e me segurou.
Lá já estavam vários policiais e oficiais. Acredito eu que a coisa aconteceu mais cedo. Não deixei que me sedassem com calmantes. Preferi ficar lúcida. No momento, eles me contaram uma história sem nexo. Disseram que ele havia parado pra comprar perfume. Daí nós, eu e minha filha, por conhecermos ele, dissemos: “ele nunca compra isso. Ainda mais no meio do mato. Nós usamos Boticário. Conta outra que essa não colou”.
Mas eles insistiram nisso. Bom, você deve imaginar como fiquei apavorada e com medo. Daí pra frente começou o inferno. Enterramos ele no sábado, dia 1º, e no domingo a P-2 bateu no meu portão pedindo cópia do óbito. Então pedi identificação deles e falei: “tô estranhando essa visita nesse momento. Pra quê vocês querem isso? Não podem esperar até segunda-feira?”
Eles não souberam explicar. Então, eu os convidei a se retirar. Na segunda, eles me chamaram para depor na P-2 para falar de uma suposta moto a qual meu marido pilotava no momento do acidente. Eu disse que desconhecia a origem, pois quando ele ia para a faculdade da minha casa, ele utilizava transporte da Prefeitura da cidade onde moramos. E mostrei a carteira de transporte gratuito. Então eles me disseram que o assunto tava encerrado.
Para minha surpresa, voltando do Rio - quando a viatura deles me trazia da DIP e IPERJ (absurdo! Fui lá pra pegar relação de documentos para dar entrada. Acho que eles deveriam ter vindo aqui e me dar. Mas tudo bem) - recebi o telefonema de um sargento Furtado, da P-2, me intimando novamente a depor. Eu disse que já havia feito isso. Mesmo assim, ele disse que era necessário para encerrar o caso. Eu e meu cunhado, irmão dele. Então, fomos.
Chegando lá, bastante fragilizada, eu disse: “por que isso? Eu não tô bem”. Daí eles voltaram a falar da referida moto. Continuei a dizer que desconhecia a origem, uma vez que ele tinha vários amigos e poderia ter pegado emprestado, pois era habilitado. Ele me disse que havia uma denúncia de que ele utilizava essa moto para trabalhar. Voltei a insistir que desconhecia a origem e que o que possuíamos era um automóvel que compramos financiado em 60 vezes. E mostrei o documento. E cabia ao denunciante o ônus da prova.
Para minha surpresa, eles falaram que meu cunhado assinou um documento retirando a moto do DPO. E ele disse: “nem pilotar eu sei. Eu estava sedado e retirei apenas uma mochila com seus pertences (farda)”.
Eu questionei: “se houve uma moto, não deveria ter saído do local. Ou seja, deveria ser periciada com os demais pertences que portava no ato do acidente”. A PMERJ tirou do local e queria que eu assumisse a origem da moto. Continuei firme e pedi: “pelo amor de Deus, mesmo se eu assumir essa porcaria, vai aparecer?”
Aí os três disseram: “então não poderemos dar o ato de serviço”.
Bom, houve uma sucessão de erros que eles queriam que eu assumisse a autoria (tenho cópia do depoimento). Ou seja: eles erraram por tirar provas do local, socorrer pessoa baleada em condições precárias (total despreparo) dentro de uma viatura deles mesmos que mal abria a porta. Pois ele estava vivo, mas com uma bala no pescoço. Não chamaram o resgate e demoraram a socorrer. Daí, a hemorragia foi agravando. E levaram para um posto de Tamoios sem recursos, vindo assim meu amor a falecer, após três paradas seguidas de hemorragia.
Sofri muito com tudo isso. Depois fui à delegacia de Cabo Frio e peguei o RO e laudo cadavérico e vi que ele tinha um tiro pelas costas, na altura do abdômen. Então não entendi por que ele parou!
Não satisfeita, fui até o local e as pessoas me disseram que ele foi abordado por dois bandidos. Quando ele vinha passando, eles estavam praticando assalto no ponto do ônibus e disseram: “vamos meter aquele da moto”. E então atiraram nele para o parar.
Mesmo ferido, ele parou e reagiu, vindo a matar o carona. Mas o piloto também estava armado e revidou, atirando em seu rosto e pescoço, e fugindo em seguida.
Como eu não tava lá, não sei exatamente o ocorrido, mas tem como saber, se a delegacia abrir uma investigação, pois houve testemunha ocular.
Bom, daí o coronel Adílson, do 25º BPM, mandou me chamar para dizer que não poderia dar o ato de serviço por transgressão de disciplina, por ele estar portando uma moto com restrições.
Daí eu disse: “tudo bem, mas ele saiu com autorização e retornou ao serviço, vindo a sofrer um acidente em sua rota. Não entendo, pois ele não tava envolvido em nenhuma parada errada. E sim voltando da faculdade pro seu posto”.
Ele disse: “isso não importa”. Achei absurdo, mas manda quem pode e obedece quem tem juízo. No entanto, no meu entender, meu marido era um policial do bem. Nunca houve em sua ficha nenhuma mancha. O coronel disse: “eu sei que era um bom policial”.
Foi aí que começou o inferno. Todos se afastaram de mim e quando eu tentava buscar ajuda, ninguém nunca estava… “saiu”, “não tá mais aqui”,…
Decidi agir sozinha.
Dei entrada em toda papelada com xerox autenticada, mesmo sem recursos.
Esqueci de mencionar: o coronel me chamou também para dizer que um empresário chamado Fuad resolveu doar 24 promissórias no valor de dois salários mínimos para minha filha. Eu agradeci, pois toda ajuda é bem-vinda. Mas ele disse que eu tinha que receber na festa deles de final de ano.
Eu disse: “pôxa… festa? Eu não tô com clima de festa. Tô sensibilizada”. Mais fui assim mesmo. Ao chegar lá, o senhor Fuad já não estava, e o coronel pediu pra eu esperar que eles iriam me entregar no palco. Então eu agradeci e disse que não dava, que não queria que ninguém fizesse política com a nossa imagem. Então, ele me entregou.
Daí procurei saber e descobri que meu marido foi sorteado com uma bolsa na faculdade gratuita e um dos donos da Estácio era ele, o Fuad. Daí pensei: “se era um direito dele, tinha que vir pra filha em forma de espécie ou ensino”.
Ele disse que a doação foi espontânea do Fuad, e não do BPM. Mesmo não concordando, aceitei.
Continuei minha trajetória e dei entrada no DIP e seguro, tudo em nome de nossa filha, pois vivia em união estável e sei que pra militar isso não funciona.
Até agora não recebi nada, mas vamos ao que interessa.
Fui informada por eles que teria direito ao salário e todos os benefícios, já depositados, até o mês de janeiro. Então fui alertada por um amigo dele de que o banco Itaú havia feito uma retirada errada da conta dele e ele havia dado entrada em uma contestação.
Preocupada, liguei pro banco Itaú de Cabo Frio e falei com a gerente da conta dele. Ela me disse que o banco estaria ressarcindo na segunda-feira. Daí eu informei do falecimento e perguntei se o cartão havia sido clonado, pois iria entrar salário de novembro e 13º, além dos salários de dezembro e janeiro, até sair a pensão provisória.
Ela disse que o ressarcimento só seria feito com a assinatura dele. Fui mal criada e disse: “você quer que eu leve o cadáver até aí?”
Disse que eu tinha a senha dele, mas ela falou que eu teria que ter um alvará do juiz. Eu falei: “minha filha, estamos em final de ano. Tá tudo em recesso. Defensoria tá parada. A gente precisa comer”.
Mesmo assim ela bloqueou a senha e movimentou a conta pós morte (Lins, especial, cheque pré,…). Entendo que se bloqueou pra mim também deveria bloquear para outras finalidades. Mas mesmo assim ela tirou toda a grana e quando o QG me deu autorização, o banco alegou falta de fundos. Ou seja: pegaram a grana e deixaram a família desamparada.
Voltei a falar com o QG e eles disseram para eu entrar na Justiça. Eu disse: “como, gente? Sem recursos? Minha filha precisa estudar. Não posso ficar no Rio. Mesmo porque não tenho nem a passagem”. Eles disseram que não podiam fazer nada.
A Prefeitura da cidade onde moro ta me levando, dentro das possibilidades deles, para fazer justificativa judicial em Sulacap e tô juntando documentos e provas para tal.
Busquei ajuda com uma advogada que foi dele que disse que me ajudaria e depois “roeu a corda” por ter que gastar para vir aqui. Então entrei em desespero. Como vou fazer pra pegar a grana do banco e pedir de volta o ato de serviço? Foi quando você leu meu apelo.
Roberta, minha situação ficou muito difícil. Fui ver no banco, na conta da filha, não tem nada. Como vivo?? Falei com Wagner Montes, mas também tem que ir ao Rio. Mas, como, sem grana?”

Esta entrada foi publicada em março 1, 2008 às 6:17 pm e é arquivado abaixo Uncategorized. Você pode seguir qualquer respostas para esta entrada através de RSS 2.0 feed. Você pode deixe uma resposta, ou trackback do seu próprio site.
7 Respostas para “O desabafo de uma viúva de PM”


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