sábado, 1 de março de 2008

Gangue ameaça vítima de golpe na Alerj

Gangue ameaça vítima de golpe na Alerj Dona-de-casa chegou a pedir desculpas ao suspeito. Jane Cozzolino também é suspeita de fazer contratações ilegais

Mahomed Saigg e Alfredo Junqueira - Rio
- Golpistas que enganaram mulheres pobres transformando-as em funcionárias fantasmas da Assembléia Legislativa do Rio estão agora ameaçando suas vítimas. Equipe de reportagem de O DIA flagrou homem identificado como Lourival coagindo a dona-de-casa Rosangela Maria de Castro da Penha, 47 anos, em Duque de Caxias. Ela confirmou que foi ele quem a levou à Alerj para ser nomeada no gabinete do deputado Tucalo Dias (PSC), sem que ela soubesse. Integrante do Conselho de Ética, o parlamentar passou a ser o sexto a responder procedimento disciplinar no órgão, depois que O DIA revelou ontem que ele teve seis fantasmas em seu gabinete. Levantamento no Diário Oficial do Poder Legislativo revela que a deputada Jane Cozzolino (PTC) também nomeou fantasmas em seu gabinete. Com isso, já são sete deputados envolvidos no esquema de fraudes com auxílio-educação — ou 10% do total de parlamentares da Alerj.Moradora do Jardim Leal, comunidade humilde de Caxias, Rosangela contava a O DIA, ontem, como foi abordada pelos aliciadores, quando o Gol preto placa LKI-5547, do Rio, passou em frente à sua casa. Ela reconheceu: “São eles. É o Lourival, o rapaz que pegou os documentos comigo”.DESCULPAS AO ACILIADORA equipe do jornal, então, se afastou da casa. Em poucos minutos, o veículo voltou e parou. Os ocupantes pediram Rosangela se aproximasse e cobraram explicações sobre a presença de jornalistas em sua residência, enquanto a dona-de-casa pedia muitas desculpas ao homem que ela havia identificado como Lourival. Após alguns instantes, a equipe de reportagem se aproximou dos ocupantes do veículo para perguntar o que estava sendo exigido da moradora. Imediatamente o motorista arrancou com o carro, sem responder. Rosangela, ainda mais assustada, voltou correndo para dentro de casa e não quis mais falar.Na entrevista concedida antes da coação, a dona-de-casa disse que foi procurada em novembro com a mesma proposta feita às outras vítimas: inscrição em programa federal de transferência de renda pelo fato de ter muitos dependentes. “Fiquei até feliz com o presidente Lula e entreguei meus documentos e de meus filhos toda feliz”. Rosangela tem 10 filhos, com idades entre sete meses e 27 anos. Como não tinha recursos para fazer o registro de nascimentos dos últimos três filhos, os aliciadores se propuseram a pagar as despesas para conseguir as certidões.R$ 4.500 DE AUXÍLIORosangela foi nomeada para um cargo em comissão nível 9, no gabinete de Tucalo (PSC). Com o golpe, os fraudadores iriam faturar R$ 578 por mês do salário e cerca de R$ 4.500 que ela teria direito de auxílio-educação, desde que os 10 filhos estivessem matriculados em escolas particulares. Para Rosangela, os bandidos prometeram R$ 350, que seriam o benefício do programa federal.Também foi localizada a doméstica Catia Maria Ribeiro dos Santos. Residente de Gramacho, também em Caxias, ela é prima de Rosangela e também tem 10 filhos.No fim da tarde de ontem, o Ministério Público Estadual começou a ouvir os deputados envolvidos. A deputada Renata do Posto (PTB) depôs por três horas ao procurador Antônio José Campos Moreira, assessor de Feitos Originários Criminais do procurador-geral de Justiça, Marfan Martins Vieira. O MPE não divulgou detalhes sobre o depoimento, que, de acordo com a instituição, serviu para “colheita de dados”, mas a procuradoria adiantou que “outros deputados” serão chamados a se explicar na investigação.Conselho de Ética pede o afastamento de TucaloPresidente do Conselho de Ética, o deputado Paulo Melo (PMDB) afirmou ontem que determinou a anexação do caso do deputado Tucalo (PSC) ao processo já aberto envolvendo outros cinco parlamentares. Segundo Melo, Tucalo terá de se afastar imediatamente do conselho, do qual é membro suplente: “Fiz um documento pedindo que ele se afaste do conselho. Caso ele não o faça, o órgão, que está reunido em caráter permanente, vai afastá-lo”.Em nota oficial, Tucalo refutou a idéia de se afastar, “uma vez que, em nenhum momento, quebrou o decoro parlamentar”. Na nota, Tucalo diz que foi procurado em janeiro por Renato Sivuca Ferreira, o Sivuquinha. A pedido dele, “nomeou as seis funcionárias nos dias 25 de janeiro e primeiro de fevereiro”. Ao constatar que as funcionárias não haviam comparecido ao local de trabalho, cobrou de Sivuquinha e foi informado de que elas não poderiam ir trabalhar. Tucalo, ainda segundo a nota, solicitou então, no dia 19, a exoneração das seis pessoas nomeadas.“Nenhuma das seis pessoas recebeu qualquer recurso público a qualquer título”, afirmou na nota.Ele diz que “foi vítima da ação de uma quadrilha que atua no interior do Legislativo estadual, contra quem pedirá à Corregedoria da Casa providências, assim como solicitará à Secretaria de Segurança e ao Ministério Público”.FRAUDE: MAIS UM GABINETEO número de deputados envolvidos no esquema de fraudes com auxílio-educação na Alerj não pára de crescer. O DIA localizou ontem mais três pessoas beneficiárias do programa Bolsa Família que estavam lotadas no gabinete da deputada Jane Cozzolino (PTC), até o início do mês. Merylene dos Santos, 35 anos, e Patricia Neves Rezende, 29, moram no distrito de Mauá, em Magé — base eleitoral da parlamentar. Adelma Farias da Silva morava no local até novembro, quando mudou para Garanhuns (PE). As três foram exoneradas do gabinete da deputada no dia 11. Merylene e Adelma ocupavam cargo comissionado nível 9, com salários de R$ 578. Já Patrícia ocupava um cargo nível 8, cujo salário é R$ 1.150. O lucro maior da fraude, no entanto, também viria dos desvios nos auxílios-educação. Todas as vítimas tinham quatro ou mais filhos e recebiam R$ 350 por mês. Segundo elas, dois homens as procuraram oferecendo benefícios pagos por um vereador da cidade, ligado aos Cozzolinos. Merylene disse que recebeu R$ 350 mensais ano passado. Viúva de um PM morto em combate e sobrevivendo com pensão de dois salários mínimos (R$ 894,50), ela mora numa casa de alvenaria de 20m² com quatro filhos. “Não acredito que também fui vítima desse golpe. Não podiam ter feito isso comigo. Abusaram da minha inocência”, reclamou. Ela está desempregada há três meses.Jane não foi localizada. Este é mais um problema que a parlamentar deverá ter que resolver com a Justiça. Ela já é investigada pelo MP por ter supostamente recebido R$ 110 mil de integrantes da quadrilha identificada na Operação Uniforme Fantasma e por ter declarado na tribuna da Alerj que pagou R$ 8 mil de propina a um ex-policial para transferir seu irmão, o ex-prefeito de Magé Charles Cozzolino, da Polinter para a Delegacia Anti-Sequestro (DAS), no Leblon.

Um comentário:

Anônimo disse...

parabens ao amigo André Augusto pelo site muito bem elaborado.
Quanto às fraudes na Alerj espero que todos os envolvidos sejam punidos com o rigor da lei, pois estamos cansados de ver escandalos como esses terminarem em pizza, como foi até agora o mensalão onde a maioria dos culpados foi absolvida por deputados corporativistas e corruptos
Dr. Luiz Augusto (advogado - Nilópolis/ RJ)