sexta-feira, 28 de março de 2008

Infectologista: mais 3 centros confirmam dengue tipo 4

 

A infectologista Maria Paula Mourão, doutora em doenças tropicais, afirmou hoje que o estudo realizado por cientistas da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT) teve seus resultados confirmados por outros três centros de pesquisa que eram parceiras no estudo, como Universidade Federal do Amazonas, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Universidade de Porto Rico. O relatório aponta a presença da dengue tipo 4 em Manaus e foi contestado em nota pelo Ministério da Saúde.

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"Eles usaram a mesma metodologia de nossa pesquisa, mas cada um em seu laboratório, e chegaram ao mesmo resultado", afirmou, sobre o estudo realizado entre 2005 e 2007 que ganhou repercussão depois de publicado em revista científica internacional.

Maria Paula informou que o artigo divulgado na Emerging Infectious Diseases é resultado da análise de 128 amostras de sangue de pacientes que procuraram a instituição com sintomas de febre aguda, tiveram diagnóstico negativo para os exames de malária e foram submetidos aos exames de dengue.

Nas análises, os vírus da dengue foram isolados a fim de serem identificados quanto a sua tipagem. "De todas as amostras analisadas, três delas deram resultado positivo para dengue tipo 4", contou, ao lembrar que o último caso desse tipo de dengue foi registrado no país há 26 anos, em Roraima.

A pesquisa foi concluída em agosto do ano passado e os resultados, informados às Secretarias de Saúde de Manaus e do Amazonas e ao Ministério da Saúde.

Entre outubro e novembro, técnicos do ministério coletaram em Manaus cerca de 50 novas amostras, incluindo sangue de pacientes adultos e de crianças com quadro clínico com suspeita de dengue, para avaliação em laboratórios de referência nacional, como o Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA) e na Fiocruz, no Rio de Janeiro (RJ).

"O objetivo era ver se havia outra indicação de dengue tipo 4", disse Maria Paula, que alegou não ter recebido o retorno disso. Ela afirmou, no entanto, que a descoberta de um novo tipo de dengue no Brasil representa apenas que a população brasileira tem mais uma chance de se expor à doença.

"Não existe qualquer relação de gravidade entre o tipo de vírus de dengue e a apresentação clínica da doença. Se os indivíduos não forem picados por mosquitos infectados, não vão adquirir vírus nenhum e nem a doença. O que faz a diferença é a situação de defesa do indivíduo. Se ele já foi exposto outras vezes a infecções por dengue, tem mais chances de ter a doença grave", ressaltou.

Para a infectologista, a entrada do vírus no País independe das ações integradas de saúde, já que "os vírus se transportam através das pessoas, ou seja, pessoas picadas por mosquitos infectados poderão levar a doença por onde forem. O que depende das ações de saúde é o controle do mosquito transmissor".

No Amazonas, neste ano, segundo a Secretaria de Estado da Saúde, registrou, até quinta-feira, 1.221 casos suspeitos de dengue clássica e 55 confirmados de dengue hemorrágica (três mortes).

Sobre a nota em que o Ministério da Saúde contesta os resultados da pesquisa, dizendo que, no Brasil, somente os vírus de 1 a 3 circulam em território nacional e que, portanto, não há evidencia concreta de que o vírus tipo 4 esteja presente no País, Maria Paula Mourão ressaltou que a divergência entre a Fundação de Vigilância em Saúde do Estado e o ministério se deve a um erro no acondicionamento das amostras durante o transporte até o Rio de Janeiro.

"Não temos dúvidas de nossos resultados, mas o ministério sim. Os resultados no Rio de Janeiro ficaram comprometidos porque as amostras não foram submetidas às baixas temperaturas que deveriam para serem analisadas", concluiu.

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