sexta-feira, 30 de maio de 2008

Imóvel de luxo motivou prisão em flagrante


Justiça autorizou PF a procurar sinal de enriquecimento ilícito de deputado

Rio - O luxo que cercava a vida de Álvaro Lins e sua família foi a prova que faltava para a Polícia Federal fechar o cerco contra o deputado estadual e ex-chefe de Polícia Civil. O apartamento 601, na Rua Cinco de Julho, em Copacabana, avaliado em R$ 1 milhão, foi comprado à vista por R$ 590 mil há dois anos e meio, quando Lins ainda era chefe de Polícia.

Os agentes chegaram ao imóvel por volta das 6h com mandado de busca e apreensão. Depois de ler o documento com atenção, Lins permitiu que a PF entrasse. Sentado no sofá com a mulher, Sissy Toledo de Macedo Bullos, e a filha do casal, ele ficou surpreso quando foi informado que estava sendo preso em flagrante. Às 9h10, o deputado estadual saía algemado pela PF.

A juíza federal Maria Helena Nunes, que concedeu a busca no imóvel, autorizou a prisão de Lins se no local os agentes encontrassem indícios de enriquecimento ilícito e de lavagem de dinheiro. Além de apartamento incompatível com sua renda de parlamentar, os policiais apreenderam vários documentos, entre eles contas pagas por Lins e que correspondem a despesas de outros imóveis. A PF vai analisar o material para mapear o patrimônio de Lins. Seu celular também foi apreendido.

O apartamento está em nome de Maria Canali Bullos, a avó de Sissy, uma senhora que ganha três salários mínimos de pensão e que até o ano passado era isenta na declaração de Imposto de Renda. Quando perguntado pelos agentes de quem era o imóvel, Lins respondeu que era a avó de sua mulher a proprietária, o que pareceu uma surpresa para a própria Sissy.

Durante as investigações, Lins tentou passar o apartamento para seu nome, mas desistiu da idéia ao saber que suas ações estavam sendo monitoradas pelo PF no Registro Geral de Imóveis. Pouco tempo depois, Vanda de Oliveira Bullos, sogra de Lins, recebeu procuração de Maria Bullos dando poderes para administrar o imóvel.

O apartamento de 200 m² é o único do sexto andar. Tem quatro quartos, sendo três suítes, elevador privativo, três garagens e foi decorado com requinte. Obras de artes, tapetes e televisores de plasma — uma de 52 polegadas fica na sala — compõem o cenário. A PF fará uma avaliação dos valores de mercado.

Gastos elevados deflagraram a investigação

A contagem regressiva para a prisão de Lins começou durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão 0041.000214-9/2006, expedido pela 4ª Vara Federal Criminal, na Operação Gladiador. No dia 15 de dezembro de 2006, a casa de Mário Franklin Leite Mustrange de Carvalho, o Marinho, então secretário particular de Lins, foi vasculhada pelos agentes e, entre os documentos apreendidos, estava uma planilha de gastos pessoais de Lins. Ali, começou a apuração da lavagem de dinheiro.
Relatório de inteligência foi encaminhado à Justiça. O documento revela que, na época, a despesa mensal de Lins já era incompatível com o salário que recebia como chefe de Polícia Civil, detalhando uma média de gastos de R$ 30 mil por mês. A PF mostrou que a renda mensal de Lins e de sua mulher, na época, Luciana Gouveia dos Santos, era de R$ 9.728,02. Lins recebia R$ 7.237,59 e ela, R$ 2.490,43. O somatório foi baseado nas declarações de Imposto de Renda referentes a 2004.

Bens incompatíveis com rendimentos

No documento reservado constam contas de luz e de telefone de apartamentos em Copacabana, Grajaú, Itaipava e de uma casa em Bangu (imóvel avaliado em R$ 250 mil, no nome dele), despesas com escolas e professora particular dos filhos, pensão, planos de saúde, Internet e pagamento de salários de empregados de uma residência em Itaipava.
No Imposto de Renda de 2006, Lins não declara bens e coloca sua ex-mulher, com quem era casado na época, e seus filhos como dependentes. No documento de 2005, entregue ao Tribunal Regional Eleitoral, ele declara dois apartamentos em Barra Mansa, de R$ 40 mil e R$ 25 mil; um jipe Ford azul de R$ 13 mil; e despesas com telefones de R$ 100.
Em 2006, Lins comprou o Toyota Fielder blindado, placa LTC 0896. O comprovante de depósito em dinheiro de R$ 113,8 mil em favor da Inter Japan Veículos Ltda. e um orçamento de serviços produzidos por Troiakar Oficinas Multimarcas Ltda estão no relatório da PF. Há uma anotação no corpo do orçamento em que consta “Desc. Especial p/ Dr. Álvaro Lins”. O veículo está em nome do sogro de Lins, Francis Bullos. Porém, segundo o levantamento, seria de Lins.

O presidente da Alerj, Jorge Picciani, designou funcionário da Casa para acompanhar o trabalho dos policiais no gabinete do deputado.

O advogado Harina Araújo acompanhou Lins até a sede da PF. “Não tive acesso ao inquérito. Desconheço qualquer acusação. Fui à casa do deputado, ele estava tranqüilo e sabe da sua inocência. Os agentes recolheram documento e o celular pessoal”, afirmou.

O DIA Online

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