quinta-feira, 29 de maio de 2008

Arma da covardia no trânsito tem 1,8 kg

 

Mahomed Saigg

Foto: André Az / Agência O DiaRio - Policiais da 19ª DP (Tijuca) apresentaram ontem a barra de ferro que foi usada pelo motorista Itamar Campos Paiva, 45 anos, na agressão ao gerente de compras André Luiz Reuter Lima, 44. O objeto, que mede cerca de 55 centímetros e pesa 1,855 quilo, havia sido jogado num matagal, nos fundos da casa do zelador-de-santo — chefe-substituto de terreiro de candomblé — Adeílson de Souza Rezende, 44 anos, o ‘Nego’, na Favela do Muquiço, em Guadalupe.

Itamar é amigo de Adeílson há sete anos, a quem recorria para cuidar de sua vida espiritual. “Como ele tem muitos problemas com a polícia e com a Justiça, sempre me procurava para que fizéssemos oferendas aos orixás para que o livrasse deles”, explicou Nego. Conforme O DIA mostrou ontem, Itamar foi expulso da PM por comportamento agressivo, tem quatro passagens pela polícia e responde a mais de 10 processos civis nas Justiças do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

RISOS APÓS O CRIME

Adeílson contou em depoimento que Itamar o procurou por volta das 23h do dia 23, horas após a agressão. “Ele chegou rindo, brincando comigo, como sempre”, descreveu, acrescentando que lhe foi pedido que guardasse o objeto de ferro maciço. No dia seguinte, soube pelos jornais da violência, desconfiou que a barra fosse a arma do crime e jogou-a em um matagal, com medo de também ser incriminado.

“Nunca imaginei que ele fosse capaz de cometer um ato covarde como esse. Não conhecia esse lado do Itamar, que sempre me pareceu ser muito pacato. Ele cometeu um erro grave e agora terá que pagar por isso. Estou com muito dó dessa família, principalmente dos filhos desse moço (André), que devem estar sofrendo demais”, ressaltou Adeílson, que tem um filho de 13 anos, mesma idade que um dos de André, que também foi testemunha da agressão.

O delegado Walter Alves de Oliveira encaminhou o objeto ontem para o Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), onde será periciado. “O próximo passo é ouvir os filhos de André, para que possamos confirmar qual foi o papel da mulher de Itamar — Celiana Pereira dos Santos — na agressão. Se confirmarem que ela incentivou o ato, será indiciada por ameaça”, adiantou o delegado, que pretende fazer a reconstituição do crime.

Impressionado com o tamanho e o peso da barra de ferro, um dos irmãos de André, Leandro Alves Ribeiro, se revoltou: “Quem tem coragem de usar um ferro assim para agredir alguém só pode estar querendo matar.”

MÃE DIANTE DA VIOLÊNCIA

A pensionista Maria Alice Lima Pinheiro, 66 anos, mantém a rotina de ver o filho André Luiz todos os dias. Mas, no lugar dos beijos e das brincadeiras diárias, ela o encara sedado na cama de um CTI desde o dia 23. Após acariciá-lo ontem, no Hospital Pasteur, no Méier, Maria Alice relatou a O DIA a dor de ver o filho desfigurado e em coma, vítima da violência de Itamar, que não tolerou ser xingado depois de avançar um sinal na Tijuca.
“Estou tentando me manter de pé neste momento que é, sem dúvida alguma, o mais difícil da minha vida. Mas não está sendo nada fácil aceitar a barbárie que fizeram com meu filho. Esta é a primeira vez que a violência do Rio bate à nossa porta. E espero que seja a última. O André é o ponto de equilíbrio da nossa família. Vê-lo nesse estado, com a cabeça toda machucada e inconsciente, está nos fazendo sofrer muito”, desabafou.

Amparada pelo filho Leandro, Maria Alice também falou da dificuldade de se acostumar com a ausência de André e da fé na sua recuperação. “Como ele está morando conosco há um ano, já me acostumei com ele chegando do trabalho, me beijando, brincando com os irmãos como se ainda fossem crianças. Mas a minha fé é grande. Tenho certeza de que ele vai ficar bom para a alegria de todos nós”, afirmou Maria Alice, que falou sobre a prisão de Itamar. “Ele está colhendo aquilo que plantou. Mas estou tão focada na recuperação do meu filho que não estou conseguindo sequer ter raiva deste homem”.

ITAMAR MENTIU EM DEPOIMENTO

O depoimento do zelador-de-santo ‘Nego’ à polícia complicou ainda mais a situação de Itamar. Preso por tentativa de homicídio, ele havia dito que tinha jogado a barra de ferro usada na agressão pela janela do carro, quando passava pela Praça da Bandeira, no dia do crime. Ao apresentar o objeto, Nego confirmou que foi o próprio Itamar quem lhe entregou a arma e pediu-lhe que a guardasse sem dar qualquer tipo de explicação.

“Isso prova que o Itamar mentiu em seu depoimento, o que não chega a ser uma surpresa para nós”, destacou o delegado, que também se assustou ao receber a barra de ferro. “Isso aqui é uma arma. Só o fato de ele andar com essa peça dentro do carro já mostra que é uma pessoa cheia de más intenções e que não pode ficar solta, pois oferece sérios riscos à sociedade”, encerrou o policial.

Preso na carceragem da Polinter do Grajaú, Itamar está sendo mantido numa cela isolada dos outros presos. Internado no CTI do Hospital Pasteur, no Méier, André Luiz continua sedado e respirando com a ajuda de aparelhos.

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