quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Idoso morto com oito tiros durante operação da polícia em Acari

por Isabel Boechat

violência

         Manchas de sangue e projéteis no beco onde o aposentado foi morto. Foto: Pablo Jacob / Extra

“Paguei o salário da polícia para ela matar o meu pai”. O desabafo de Elson Peixoto, filho do aposentado Ébis Peixoto da Silva, de 69 anos, foi feito pouco após o idoso ser morto com oito tiros, na manhã de ontem, durante uma operação da Polícia Civil na Favela de Acari.

Segundo testemunhas, policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) chegaram à Travessa Enora, dentro da favela, e atiraram contra bandidos em fuga. O aposentado acabara de entrar no beco, a caminho de um mercado próximo, e foi atingido.

— Havia outras pessoas aqui na travessa. Eles (os policiais) começaram a atirar e gritaram: “Sai da rua, morador”. Nós conseguimos correr, mas como Ébis era idoso, preferiu se encostar no muro. Os policiais devem ter achado que era um bandido. Depois que ele caiu, um dos policiais colocou as mãos na cabeça, falando palavrões — contou uma testemunha.

               Ébis Peixoto da Silva. Foto: Reprodução / Fabiano Rocha

Os moradores contaram ainda que os policiais, com luvas cirúrgicas, recolheram a maioria das cápsulas do chão e tentaram tirar algumas balas do corpo da vítima. Depois, fizeram o funcionário de uma loja de material de construção pegar um carrinho de mão e levar o corpo de Ébis até o blindado da Core. O aposentado já chegou morto ao Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes.

Segundo a Polícia Civil, agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense fizeram uma operação na favela de Acari, com o apoio da Core, para cumprir mandados de prisão e verificar denúncia de um depósito de armas no local. De acordo com o delegado adjunto da Core, Pedro Medina, os agentes foram recebidos a tiros pelos traficantes e, só depois do tiroteio, viram o idoso caído no chão. As armas dos policiais serão periciadas.

Pai de dez filhos na favela, o idoso havia posto sua casa à venda. Queria ir para outro local, menos perigoso. Segundo Elson, o frentista aposentado — que atualmente vendia salgados na favela — estava feliz pouco antes de ser morto: uma senhora iria ver a casa na tarde de ontem.

Elson Peixoto, filho de Ébis, no local onde o aposentado foi morto. Foto: Pablo Jacob / Extra

— Ele iria comprar uma casa na Rua Jasmin, no bairro Miguel Couto, em Nova Iguaçu. Ele não queria mais viver aqui — explicou Elson. — Não foi um acidente. Não foi um tiro, foram vários. Isso está errado. Nossa família mora na favela por necessidade, e não por malandragem.

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa (Alerj) quer esclarecer as circunstâncias da morte do idoso durante a operação em Acari.

— A morte de um senhor de 69 anos não pode ser tratada de forma corriqueira. Não podemos achar que o problema da segurança pública será resolvido em função de que algumas áreas sejam consideradas pacificadas — declarou o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Marcelo Freixo.

Caso de Polícia - Extra Online

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