sábado, 26 de janeiro de 2008

Prefeitos de Magé e Aperibé em inquérito

Os dois são acusados de receber R$ 100 mil de esquema fraudulento. Núbia Cozzolino foi parar em delegacia por irregularidade em carro

A prefeita Núbia na 105ª DP (Petrópolis): motorista do carro em que estava não tinha carteira. A dela estava vencida. Foto: Alan Alonso

Rio - O Ministério Público (MP) decidiu transformar os prefeitos de Magé, Núbia Cozzolino (PMDB), e de Aperibé, Paulo Fernando Dias (PMDB), o Foguetinho, nos novos alvos da Operação Uniforme Fantasma. O procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, abrirá inquérito contra os dois por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, peculato, improbidade administrativa e crime contra a Lei de Licitações e de responsabilidade. Testemunha contou que os dois recebiam até R$ 100 mil em espécie de empresários envolvidos em fraudes de licitações. Ontem, Núbia foi parar na 105ª DP (Petrópolis) por irregularidades no carro em que estava.

O inquérito é conseqüência da Operação Uniforme Fantasma, deflagrada quinta-feira, com o apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas e Inquéritos Especiais (Draco-IE). Vinte e e uma pessoas foram presas, entre eles secretários municipais. Cinco já foram soltos. Eles são acusados de participar de esquema de desvio de dinheiro de seis prefeituras através de contratos com ONGs e compra de uniforme escolar, que eram entregues em quantidade insuficiente, como aconteceu com Bruno Henrique de Oliveira Martins, 12 anos, aluno da rede municipal de Magé. Ele chegou a perder aula por não ter mais de uma camisa de uniforme. Em 10 meses, Magé, Pádua, Rio Bonito, Paraíba do Sul, Angra e Japeri perderam R$ 100 milhões.

Há sete foragidos, entre eles o ex-prefeito de Magé, Charles Cozzolino, irmão da prefeita de Magé. A polícia tem informações de que ele circulava no Audi apreendido quinta-feira. O automóvel foi usado por acusado de matar o vereador Dejair Corrêa, em Magé, ano passado. A vítima era adversário político dos Cozzolino. O inquérito sobre o assassinato foi transferido para a Draco-IE.

Ontem, a polícia apreendeu documentos da Prefeitura de Magé que estavam guardados em um salão de beleza desativado. A denúncia foi feita à Ouvidoria do Ministério Público (telefone 127). O local é da irmã de Núbia, Núcia Cozzolino Bergara, secretária municipal de Fazenda e também foragida. Núcia teria recebido informações sobre a ação da polícia quarta-feira e, por isso, conseguido fugir.

MOTORISTA SEM CARTEIRA

Núbia foi parar na 105ª DP (Petrópolis). Policiais do 26º BPM (Petrópolis) receberam denúncia sobre Gol branco suspeito de rondar a rodoviária. Por isso, pararam o carro LPA- 2613, da Prefeitura de Magé, em que ela estava com sobrinha e dois assessores. A sobrinha, Mariuxa de Oliveira de Zilanda, 18, dirigia apesar de não ter habilitação. O automóvel não possuía homologação do GNV. Nenhum tinha documento. A habilitação de Núbia estava vencida desde 18 de fevereiro de 2003. Ela alegou que passou a direção a Mariuxa pois se sentira mal e fora atendida em posto médico. O delegado José Renato Chernicharo vai pedir documentação ao posto. Se for mentira, pode ser condenada a até um ano de prisão. Pena que a sobrinha pode sofrer também. Núbia contou que foi a Petrópolis visitar advogado.

Ontem, vários acusados pelas fraudes prestaram depoimento na Draco-IE, que cumpriu mandado de busca e apreensão na Prefeitura de Japeri. Segunda, a secretária de Educação dessa cidade, Rosany Gomes, vai depor. Contra ela, não há mandado de prisão.

PRESA DANIELE ERRADA

Quinta-feira, por engano, Daniele Araújo Borges foi presa e depois liberada pela Justiça. Ela foi confundida com outra mulher, também chamada Daniele, que trabalharia na Secretaria de Ação Social de Magé. Na secretaria funciona esquema de inserção de funcionários fantasmas na folha de pagamento. A líder dessa fraude seria Renata Tuller, ex-secretária da pasta.

A Justiça revogou também a prisão de Luiz Ramos Bastos, que se apresentou ontem; Raquel Tuler; da secretária de Saúde de Santo Antônio de Pádua, Carla de Souza Neves; e da secretária de Educação de Paraíba do Sul, Maria Adelaide Capella, que será mantida no cargo. Segundo o MP, eles colaboraram com as investigações. Ao contrário do divulgado ontem pela polícia, Luís Roberto Benevenuto é citado nas investigações, mas não foi preso.

O prefeito de Angra, Fernando Jordão, (PMDB), negou que o preso Elias Augusto Marcolino seja funcionário da prefeitura, como informou o MP. Segundo Jordão, desde 2005, o Município comprou material de papelaria no valor de R$ 75.054 de duas empresas de Marcolino.

ESCUTA: ‘É MUITA GENTE PRA ROUBAR’

Nesse trecho, o empresário André Wertonge Teixeira negocia o aluguel de um tomógrafo por R$ 600 mil com Tico (Adilson Corrêa Teixeira), assessor da prefeita Núbia, de Magé, e reclama do secretário de Pádua Tarcísio Padilha, também acusado de atuar nas fraudes.

André: A máquina custa R$ 300 mil. Ele (Tarcísio) quer R$ 140 mil. No mole. Sem fazer nada. Negócio da China.
Tico: Tá ganhando praticamente todo o dinheiro.

André: Imagina o que ele não ganha em Magé com a prefeita? Falam mal da gente. Mas aqui o cara ganha dinheiro rindo.
Tico: Sem preocupação.

André: É muito dinheiro. Pra mim sobra R$ 6 mil.
Tico: Tá doido. Se aborrecer por causa de R$ 6 mil. O município é pequeno, não tem renda. Não tem porque roubam tudo. Nunca vi isso. Compra a coisa direito e deixa para o povo que paga imposto. Por isso a prefeitura não funciona. É muita gente para roubar.

A secretária de Educação de Paraíba do Sul, Maria Adelaide Capella, pede à empresária Patrícia Gonçalves que mande a cotação por e-mail dos uniformes.

Secretária: Você já mandou a cotação?
Patrícia: Não.

Secretária: Está correndo contra o tempo. Como teve que cancelar a licitação, precisava fechar para ontem.
Patrícia: Manda pro Luiz (Roberto Benevenuto) ou pra mim.


DESCASO: ALUNO RECEBEU CALÇA ERRADA E SÓ UMA CAMISA

Aluno do 4º ano da Escola Municipal Benito Cozzolino, em Piabetá, Bruno Henrique de Oliveira Martins, 12 anos, sofreu na pele as conseqüências do desvio de verbas para compras fraudulentas de uniformes. Estudante da rede pública municipal de Magé, uma das cidades mais lesadas pelas quadrilhas, tudo o que ele recebeu no início do ano passado foi uma calça tamanho GG, um pequeno caderno e uma camisa, que logo ficou surrada. Por falta de uma segunda camisa, ele chegou a perder dias de aula.

“Durante todo o ano, ele usou a bermuda do ano anterior, que está curta demais, o que gerou gozação dos amigos”, disse a mãe, Sônia Regina Gonçalves de Oliveira, 51 anos. “O último par de tênis que meu filho recebeu foi em 2006. E não durou nem uma semana”, contou.

A mãe de Bruno conta que, desde que a prefeita Núbia Cozzolino assumiu, em 2007, a qualidade e quantidade de material escolar caíram. “Os estudantes ganhavam mochila, duas camisas e todo o material escolar”, lembra Sônia, que tentou, em vão, trocar a calça.

“O Bruno chegou a perder três dias seguidos de aula porque não parava de chover e a única camisa dele não secava. Ele ia com outra e mandavam voltar para casa porque o uniforme estava incompleto”, disse ela, que comemorou a prisão de envolvidos na fraude em Magé.

Um comentário:

Blog André Vieira disse...

E por mais safadesa que sejá a secretaria de educação de paraiba do sul ainda está no cargo e os alunos da rede municipal ainda não receberam uniformes foi pedido o numero de sapato calça e camisa mais ainda não recebemos nada

Andr´pe Vereador Mirim de Paraiba do sul