sábado, 8 de agosto de 2009

Sarney escapa das acusações por enquanto

Presidente da Comissão de Ética, que já tinha arquivado quatro ações, rejeitou ontem os outros sete processos. Partidos de oposição vão recorrer

Rio - O presidente do Conselho de Ética do Senado, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), comprovou ontem que está se lixando para a opinião pública. Depois de ter arquivado, na quarta-feira, quatro denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP),Duque decidiu rejeitar ontem as outras sete ações que pediam ao Conselho para investigar o peemedebista.

O senador fluminense, já rotulado de engavetador-geral, também mandou engavetar representação proposta contra ele, pelo PSOL. Escândalos no Senado têm decepcionado artistas, que reforçam campanha contra Sarney. O ator Castrinho, por exemplo, acredita que falta respeito.

Castrinho: ‘Sarney vive a velha máxima, só que ao contrário: ‘Hay gobierno? Soy a favor’ (Se há governo, sou a favor). Foto Márcio Mercante/Ag. O Dia

Com a decisão, as 11 ações contra Sarney foram arquivadas, o que pode livrar o presidente do Senado de ser investigado, por enquanto. Mas cabem recursos no Conselho de Ética e no plenário. Paulo Duque não se deu nem ao trabalho de ir ao Senado ontem para apresentar sua decisão.

Como não havia reunião do Conselho de Ética, ele mandou seu chefe de gabinete, Zacheu Barbosa Teles, entregar os pareceres à secretaria-geral. Em julho, ao ser escolhido presidente do Conselho, Duque já havia declarado que não se importava com a repercussão de suas decisões. “A opinião pública é volúvel. Ela flutua”, declarou na época.

Na quinta-feira, ele voltou a demonstrar a mesma despreocupação. “Não temo nada. Já até marquei com minha família onde vou almoçar no Dia dos Pais”, afirmou ele.

A oposição reagiu à decisão. “Vamos recorrer dos arquivamentos. Esperamos que o PT, que tem cadeiras no Conselho de Ética, não concorde com o arquivamento em série”, disse o líder do DEM, José Agripino Maia (RN).

O DEM e o PSDB devem apresentar recurso conjunto na segunda-feira, para tentar desarquivar as 11 representações contra Sarney. Sem o apoio do PT, porém, a medida é praticamente impossível porque, dos 15 integrantes do Conselho de Ética, dez são da base aliada do governo, que vem dando sustentação para a manutenção de Sarney no cargo.

A justificativa de Duque para arquivar ontem as sete representações foi de que todas as denúncias são baseadas apenas em recortes de jornais e não comprovam as “pretensas irregularidades” que teriam sido cometidas por Sarney. Entre as acusações contra o presidente do Senado estão a de uso de atos secretos para nomear parentes e apadrinhados e de ligação com a fundação que tem seu nome, que foi acusada de desviar R$ 500 mil de recursos recebidos da Petrobras.

Apesar da decisão de Duque, o dia no Senado ontem foi de ressaca, após a baixaria ocorrida na quinta-feira, com o bate-boca entre os senadores Tasso Jereissatti (PSDB-CE) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Em discurso, Pedro Simon (PMDB-RS) voltou a defender a saída de Sarney e a criticar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por estar apoiando o peemedebista. “José Sarney consegue resistir no cargo graças à ação do presidente Lula, que não mediu esforços para garantir o aliado”, criticou. Cristovam Buarque (PDT-DF) e Álvaro Dias (PSDB-PR) apoiaram. “Subscrevo o discurso”, afirmou Dias.
Nas ruas, a indignação contra a crise no Senado continua.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, sugeriu ontem, em nota, que todos os senadores renunciem ao mandato. Para Britto, a crise não se resume à figura do presidente da Casa, José Sarney. “O Senado não pode ser confundido com os que mancham o seu nome. Precisa ser preservado, pois é o pilar do equilíbrio federativo”, afirma Britto. Na opinião dele, o Senado está em estado de calamidade institucional e as recentes trocas de insultos entre senadores configuram quadro intolerável, que constrange e envergonha a nação.

Castrinho acha que não há mais respeito

Castrinho, o Leonel Pavão, de ‘Poder Paralelo’, da Record, aderiu à campanha ‘Fora Sarney!’: “Perdeu-se o respeito pela família, pelo dinheiro público, pelo povo. Em 55 anos como político, os regimes políticos mudaram e Sarney vive a velha máxima, só que ao contrário: ‘Hay gobierno? Soy a favor’ (Se há governo, sou a favor).

Ele se dobra ao pior inimigo para não perder as vantagens”.
O ator José de Abreu, o Pandit, de ‘Caminho das Índias’, lembra que Sarney não é o único a usar a Casa como propriedade sua. Ele defende o fechamento do Senado. “Hoje ninguém sai de casa. Falta mobilização na rua”, diz.

O funcionário público João Paulo Barbalho Martha, 52, concorda. “É muito vergonhoso a gente ver um homem, que já foi até o presidente da República, dando tamanha derrapada na ética”.

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