quinta-feira, 6 de agosto de 2009

MP e PM fecham clínica que torturaria internos em MG

Belo Horizonte - O Ministério Público (MP) e a Polícia Militar (PM) de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, fecharam durante o final de semana uma clínica de recuperação de dependentes químicos onde aconteceriam sessões de espancamento durante o tratamento dos pacientes. A operação na clínica Vida Nova foi divulgada hoje.
De acordo com o Ministério Público, os internos sofriam agressões com barras de ferro, fios desencapados e pedaços de paus com frases que remetiam aos espancamentos. O promotor de Justiça Adriano Bozola explica que a interdição aconteceu após um dos internos conseguir driblar o esquema de segurança da clínica e denunciá-la ao MP.
"Os dependentes químicos só podiam conversar com os familiares ao telefone por três minutos. Durante todo o tempo, eles eram monitorados pelo viva-voz e, se denunciassem os maus tratos, eram submetidos a tortura", revela.
Em uma das conversas, a mãe de um dos pacientes teria percebido a voz do filho diferente. Como morava na cidade goiana de Quirinópolis, pediu a uma tia de Uberlândia que visitasse o rapaz. No encontro, também monitorado, o interno conseguiu mostrar alguns hematomas. A mãe viajou até Minas Gerais e tirou o filho, que logo em seguida fez a denúncia ao MP.
De acordo com o promotor, na casa, que fica na periferia da cidade, aconteciam várias sessões de agressões e humilhações contra os internos. Um dos procedimentos, de acordo com o depoimento de outros jovens que também foram vítimas das agressões, consistia em molhar os internos e as camas deles enquanto estavam dormindo.
"Também havia um buraco no quintal onde eles eram colocados de madrugada e recebiam água gelada", afirma o policial militar Alexandre José Oliveira, que estava na equipe que deu apoio ao MP.
Os policiais e promotores encontraram no local pedaços de pau usados nas agressões que tinham nomes irônicos, como "seus direitos?", "ó, coitado", "abri mentes" e "perna de pau".
Segundo a força-tarefa, na clínica também existia um quarto de castigo. "Os internos ficavam isolados por sete dias em um cômodo chamado arquivo morto. Lá, eles eram obrigados a urinar e defecar em uma garrafa pet", conta Bozola.
"Seis internos, mais experientes do que os outros, foram eleitos para serem monitores dos demais. Eles eram os únicos que tinham a permissão de usar tênis. Todos os outros calçavam no máximo chinelo. E os monitores também eram forçados a vigiar e bater nos colegas", conta Bozola.
Quarenta homens, entre eles dois adolescentes, estavam internados na casa de recuperação Vida Nova. Destes, oito estavam bastante feridos, com hematomas, queimaduras e até fraturas. Todos passaram por exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) da cidade.
A clínica é particular e cobrava, por semestre, R$ 7 mil por pessoa. O MP apura ainda denúncias de que os familiares eram forçados a assinar uma nota promissória que dizia, caso o contrato de seis meses fosse interrompido, que o contratante teria que pagar 10% do valor total. "Além do material usado para agressão, vários cheques foram apreendidos no local", diz o promotor.
O dono da clínica, Nelson Rodrigues da Silva, a mulher dele e outros seis monitores foram presos e encaminhados ao Presídio Professor Jacy de Assis. Silva disse à polícia que a origem das lesões estava nas atividades praticadas pelos internos, como futebol e capoeira. Afirmou também que brigas entre eles eram inevitáveis, assim como algumas técnicas - sem agressões - para desintoxicá-los.

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