domingo, 16 de agosto de 2009

Gripe Suína: Volta às aulas com mudança de hábitos

Escolas reabrem amanhã. Orientação é para alunos evitarem abraços e usarem álcool gel

POR CELSO OLIVEIRA, RIO DE JANEIRO

Rio - Milhares de alunos das redes pública e particular retornam às aulas amanhã com uma preocupação a mais, além de estudar e passar de ano: evitar o contágio pelo vírus da gripe suína, que já matou 37 pessoas no estado e obrigou o governo a prolongar as férias por duas semanas, decisão seguida pelas escolas privadas e pela rede municipal. Nas creches e turmas da Educação Infantil da rede municipal do Rio, o recesso ainda vai demorar um pouco mais: as crianças só voltam dia 24.

A lista de recomendações para minimizar o risco de contaminação no ambiente escolar é grande (veja ao lado). Mas, para especialistas em saúde pública, o momento de se prevenir acontece muito antes de o sinal dos colégios soar amanhã anunciando a entrada do primeiro turno.

Os cuidados devem começar em casa.
“Pais e mães precisam criar nos seus filhos o hábito de levarem lenços de papel na mochila.

É fundamental para tapar a boca na hora de espirrar ou tossir”, aconselha Marcos Lago, chefe do Departamento de Pediatria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Depois de tanto tempo sem se ver, já que as aulas deveriam ter sido retomadas dia 3, é normal que o reencontro dos alunos seja farto em beijos e abraços calorosos. Mas essa tentação, afirmam os especialistas, deve ser evitada. Marcos Lago sugere até que haja uma distância mínima de segurança de um metro entre as carteiras na sala de aula.

“Muitas coisas são difíceis de coibir, mas os professores, principalmente, devem ficar atentos e fazer palestras de pelo menos 15 minutos no início de cada aula. Assim eles relembram as medidas de prevenção e tentam identificar algum aluno com sintomas”, ensina.

Na chegada do estudante à escola, após tocar em corrimãos ou maçanetas e usar o transporte público, lavar as mãos com água e sabão não é suficiente para o epidemiologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edimilson Migowski.

Ele aconselha que as unidades ofereçam álcool em gel, de preferência com 2% de glicerina, para recepcionar os jovens e para ser usado também nos intervalos.

“Vivemos uma ‘tempestade’ que passará, pois a circulação desse vírus ocorre por seis semanas, ele não veio para ficar. Esse é o momento de a escola comandar as mudanças de hábito”, sugeriu Migowski.

Medo até na hora do lazer

Teatros e cinemas registram queda no mês de julho. Restaurantes e academias reforçam higiene

A gripe suína não mudou apenas a rotina escolar. O carioca está criando hábitos mais higiênicos em casa, no trabalho, no transporte público ou nos momentos de lazer.

Nem os preços populares dos ingressos seduzem o público de teatro. A epidemia espantou plateias de sete salas da prefeitura. No projeto de música ao vivo ‘Sete em ponto’, no Teatro Carlos Gomes, Centro, reedição do famoso ‘Seis e meia’, a queda foi de 30%. “Tomara que isso passe logo porque é muito investimento de verba e energia”, afirmou Ana Luísa Lima, gerente de Artes Cênicas da prefeitura.

Os cinemas também registraram redução em julho, em relação a 2008, mas bem menos: pouco superior a 2%. O Sindicato das Empresas Exibidoras, porém, não credita a pequena redução à gripe suína, mas à programação.

A turma da malhação também sua para se prevenir. Na academia Estação do Corpo, na Lagoa, que tem 4 mil clientes e 250 funcionários, mais de 20 dispositivos com álcool em gel foram espalhados pelas salas. A rede A!BodyTech também intensificou a limpeza de aparelhos em suas unidades.

NOVO ‘APERITIVO’

Nos restaurantes, o álcool em gel acabou virando ‘aperitivo’. “Sempre uso nas mãos antes de comer”, comentou a vendedora Elizabelle Provenzano, 27.

O gerente do Catete Grill, Marcelo Tomasi, disse que a substância nunca foi tão usada. “Não recebemos mais no último pedido porque esgotou no fornecedor”, lamentou. A casa registrou pequena queda. “Com a doença, as pessoas temem locais fechados”, frisou.

Esses cuidados, porém, não são seguidos por todos os empresários do ramo. Pesquisa feita pelo sindicato da categoria, mês passado, em 50 estabelecimentos da capital, apontou que as casas não estão passando orientações sobre prevenção. “Faremos parceria com o poder público para dar palestras”, avisou o presidente do Sind-Rio, Alexandre Sampaio.

Precaução no exercício da fé

Até a fé foi colocada à prova diante do vírus, que virou ameaça em atos simples como receber a hóstia. Na Igreja de São Jorge, no Centro, sabonetes em pedra foram substituídos por álcool em gel e já é normal desejar a “paz de Cristo” sem apertos de mão.

Devoto do Santo Guerreiro, o músico José Carlos da Silva, 56, não teme ser infectado. Antes do trabalho, benze-se com água benta, onde todos botam a mão. “Não é uma gripe que vai me fazer parar. E o santo me protege”, crê.

“Mesmo no frio, abrimos os janelões e ligamos os ventiladores na missa”, contou a sacristã-mor Luci de Faria, que colou nas paredes informativo sobre a doença.

“A frequência não mudou. Nossos fiéis são fervorosos”

“Nossa frequência de fiéis não mudou por causa da gripe, até porque os devotos de São Jorge são muito fervorosos e não deixam de vir.

No último domingo, por exemplo, a missa estava bem cheia. Até agora não tivemos nenhum caso de membro dessa irmandade doente, mas tomamos precauções, assim como os padres que celebram aqui também.

Na hora da consagração da hóstia, eles passam álcool em gel nas mãos. Também usamos no balcão onde vendemos as lembranças ao público.
LUCI VICENTE DE FARIA, Sacristã-mor da Igreja de S. Jorge

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