segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Domingo foi de buscas intensas por brasileiro desaparecido na África

Segundo namorada, trabalho contou com 60 pessoas na montanha.
Equipe internacional de especialistas dorme só quatro horas por dia.

Do G1, no Rio, com informações do Fantástico

 

A namorada do economista carioca Gabriel Buchmann, de 28 anos, desaparecido na África desde 17 de julho, disse que este domingo (2) foi o dia de buscas mais intensas no Maláui. Segundo Cristina Reis, que está no local, o trabalho de resgate contou com 60 pessoas na montanha, em terra, divididas em quatro grupos.


“Um (grupo) está no topo da montanha, que é o grupo liderado pelos canadenses. E aí tem três outros grupos que estão ao longo dos rios, abaixo da montanha. Hoje a gente contou com helicóptero e tivemos a felicidade de ser um ótimo piloto. Eles mantêm-se muito motivados. Eles dizem que essas buscas são realmente demoradas, que tem que ter paciência, que o local é grande”, contou Cristina, ao conversar com a mãe de Gabriel pela internet.

As buscas incluem equipamentos especiais para enxergar à noite, usados por voluntários que trabalham até de madrugada.

Gabriel começou a caminhada para o monte Mulanje, no Maláui, na quinta-feira, 16 de julho, às 11h30. Chegou ao abrigo Chiseto ao anoitecer. Ali, decidiu dispensar o guia e foi dormir. Na sexta-feira (17), partiu sozinho com a intenção de subir no Pico Sapitwa, a três mil metros de altitude. O abrigo foi o último lugar em que o economista foi visto.
“De repente, o tempo mudou completamente: chuva, neblina, muito frio. Então o que se supõe é que, nessa volta, o Gabriel tenha se perdido na floresta, tenha se perdido na trilha”, diz a mãe.

Como é o trabalho das equipes

Para ajudar nas buscas, a família e os amigos do rapaz descobriram pela internet uma equipe internacional de especialistas em resgates complicados.
O American Rescue Team International (Arti) foi formado para atuar no terremoto da cidade do México em 1985. Desde então, já salvou vítimas de desastres naturais, desabamentos, explosões, acidentes aéreos, naufrágios. O time trabalhou no salvamento e na recuperação de corpos nas torres gêmeas atacadas por terroristas em Nova York. Também faz resgates de pessoas perdidas ou acidentadas em montanhas, como Gabriel.
O canadense Doug Copp, fundador da equipe, conta que eles trabalham de maneira especial. Vasculham tudo, inclusive lugares considerados improváveis. A base da equipe fica no alto da montanha e muda de lugar a cada dia. Para ganhar tempo, dormem só quatro horas.

O Arti enviou o Malauí cinco canadenses e um argentino, que atuam em cooperação com as equipes locais.

Para povo local, montanha é morada de espíritos

O Monte Mulanje é um lugar difícil para encontrar pessoas perdidas. A montanha é enorme, larga e alta. Tem picos rochosos, precipícios, inúmeras cavernas e grutas, vales com rios, áreas de campo e de floresta fechada. Há cobras, insetos venenosos e alguns mamíferos selvagens, como antílopes.

“A região é muito complicada, muito complexa. Tem grandes pedras, tem centenas, tem milhares de cavernas que se formam. São feitas várias hio´poteses. Ele pode estar machucado, ele pode ter se ferido. Ele pode estar inteiro e preso em algum lugar”, disse Joaquim Chaves de Melo, tio de Gabriel.

Gabriel Buchmann não é o primeiro a se perder por lá. Um documentário feito por uma cineasta malauiana conta outros casos. Em setembro de 2003, a holandesa Linda Pronk saiu sozinha do mesmo abrigo em que Gabriel esteve para ir até o pico. Foi procurada durante semanas, mas jamais a encontraram.
O povo local tem uma explicação própria para o que pode ter acontecido. Para eles, a montanha é a morada dos espíritos. Uma senhora diz que quando a moça sumiu ninguém ofereceu sacrifícios nem comida às almas. Em vez disso, mandaram helicópteros. Desgostosos, os espíritos ficaram com Linda.
Um nativo se perdeu em 1992. “Peguei a trilha errada”, ele diz. Conta que ouvia vozes, muitas vozes, mas não via ninguém. Foi encontrado desmaiado 21 dias depois. Ele acha que teve contato com os espíritos da montanha. Segundo a crença local, o espírito de quem morre nos vilarejos próximos sobe para o Monte Mulanje.

Mãe tem esperanças

Gabriel viajava havia um ano por países da Ásia, Oriente Médio e África e estava se preparando para começar o doutorado em políticas públicas em uma universidade americana.
“O que eu tenho recebido aqui no blog é que as equipes estão otimistas, não é? O lugar é muito complexo, mas as equipes estão otimistas. E o fato dessa equipe profissional de primeiro nível dos canadenses deu um novo ânimo pra todo mundo”, conta a mãe de Gabriel.
No último sábado (1º), o Corpo de Bombeiros do Rio apresentou 11 homens que irão à África, na próxima segunda-feira (3), ajudar no resgate. Em entrevista a Rádio CBN, o tenente-coronel Borges disse que os quatro oficiais e sete soldados que vão ajudar a procurar o economista são especialistas em resgate em montanha. Eles vão levar equipamentos especiais.

G1 > Edição Rio de Janeiro

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