terça-feira, 29 de setembro de 2009

Vítimas de violência são infectadas por superbactéria hospitalar

Exames revelaram infecção de médico baleado e mulher ferida por pedra.
Secretaria de Saúde nega incidência de batéria em suas unidades.

Daniella Clark Do G1, no Rio

Foto: Arquivo pessoal

Segundo o Hospital Barra D´or, Ciléia Cordeiro já estava com a bactéria quando deu entrada na unidade (Foto: Arquivo pessoal)

Duas vítimas da violência do Rio foram infectadas por uma superbactéria hospitalar: o médico Paulo Athayde Lopes, de 53 anos, baleado em 26 de agosto durante um assalto na Zona Sul do Rio, e a professora Ciléia Cordeiro, de 27 anos, atingida no rosto em setembro por um bloco de concreto numa tentativa de assalto na Linha Amarela. Ambos passaram por hospitais públicos do município, antes de serem transferidos para unidades particulares.

A informação foi divulgada nesta terça-feira (29), na coluna de Ancelmo Gois, no jornal O Globo, e pelos hospitais particulares onde as vítimas estão internadas.

Segundo a Clínica São Vicente, onde Paulo Athayde está internado em coma induzido desde 27 de agosto, uma cultura de secreção traqueal feita no dia em que o médico deu entrada no hospital revelou que ele já portava a bactéria acinetobacter.

No entanto, segundo a assessoria de imprensa do hospital, apesar de estar recebendo tratamento para eliminá-la, o médico continua infectado. Ele permanece internado em coma induzido e, ainda segundo a assessoria, seu estado de saúde é estável. O hospital informou ainda não ter como identificar onde o médico foi infectado.

Foto: Reprodução TV Globo

O Dr. Paulo Athayde, que está em coma induzido desde setembro: exame identificou superbactéria (Foto: Reprodução TV Globo)

Antes de dar entrada na Clínica São Vicente, Paulo Athayde foi atendido no Hospital municipal Miguel Couto, no Leblon, na Zona Sul do Rio. Procurada pelo G1, a Secretaria municipal de Saúde informou que desconhece a existência dessa bactéria na unidade e que o médico teria permanecido apenas duas horas no hospital.

Secretaria alega que exame não indicou bactéria

Já Ciléia Cordeiro ficou internada de 6 a 11 de setembro no Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, subúrbio do Rio. A secretaria informou que também não há registro da superbactéria na unidade.

De acordo com a assessoria de imprensa, a professora foi monitorada durante o período de internação e não teria apresentado febre ou nenhum dos sintomas da bactéria. Ao ter alta, a professora teria passado por uma série de exames que, segundo a secretaria, não identificaram a bactéria em seu organismo.

A assessoria de imprensa do Hospital Barra D’Or, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, informou apenas que a paciente já chegou à unidade com a bactéria. Ciléia, que continua internada, saiu do coma induzido e já respira sem a ajuda de aparelhos.

Bactéria é resistente a vários medicamentos

Segundo o infectologista Edimilson Migowski, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), essa superbactéria é frequente em hospitais que fazem uso de antibióticos. Sua incidência é maior, no entanto, em locais com menores condições de higiene e com maior sobrecarga de trabalho.

Migowski explica ainda que Paulo Athayde, por ser médico, poderia ser portador da bactéria sem apresentar os sintomas, por ser “imunocompetente”.

Segundo o especialista, a acinetobacter é resistente a vários medicamentos e pode levar a uma infecção generalizada em pacientes imunodeprimidos, causando, eventualmente, até a morte.
“São dois fatores complicadores, o perfil de resistência da bactéria a antibióticos em alguém que já tem um quadro comprometido”, explica.

G1 > Edição Rio de Janeiro

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