segunda-feira, 30 de março de 2009

Polícia promete 'quebrar a firma' do tráfico de drogas na Rocinha

Usuários de alta renda e os policiais corruptos atrapalham.
Ação na favela no último dia 25 causou grande desfalque à quadrilha.

Aluizio Freire Do G1, no Rio

O objetivo é quebrar a firma. Essa é a estratégia que a polícia pretende manter nas próximas operações para descapitalizar e enfraquecer o que seria o maior entreposto de drogas do Rio, a Rocinha, na Zona Sul da cidade.

Os policiais acreditam que a descoberta, na ação da última quarta-feira (25), de que os traficantes misturavam cimento branco e outros produtos químicos à cocaína também atrapalhou os negócios comandados por Nem, o suposto chefe do tráfico. (Foto dele aparece no vídeo ao lado sobre operação na Rocinha)

“Agora, todos sabem, inclusive os traficantes de outras favelas, que compram lá para revender, e os usuários, que a Rocinha tem uma droga de péssima qualidade. Os revendedores estão levando gato por lebre e os viciados estão pagando para cheirar cimento”, provoca o delegado Ronaldo Oliveira, chefe do Departamento de Polícia da Capital.

“É assim que a gente vai desarticular o braço mais importante desse bando, com muitos prejuízos, até o topo da pirâmide desabar e o chefe do tráfico despencar e cair nas nossas mãos. Isso vai acontecer em breve”, acredita Oliveira.
Na operação de quarta-feira na Rocinha, Antônio Francisco Bonfim, o Nem, que seria o chefe do tráfico há mais de três anos na favela de São Conrado, desde as mortes de Orlando José Rodrigues, o Soul, e Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, conseguiu fugir com seus principais homens.

Prejuízo pesado

Mas o desfalque foi grande: os policiais estouraram dois laboratórios de refino de cocaína, que tinham capacidade para produzir até 200 quilos por semana da droga misturada, apreenderam cerca de 300 quilos de pólvora, utilizada para a recarga de armamento e a fabricação de explosivos, uma tonelada de maconha, avaliada em R$ 500 mil, 15 armas, 15 motos, e seis pessoas foram presas. Três suspeitos morreram.
A ação, embora não tivesse como único objetivo a prisão de Nem, foi planejada para dar uma resposta à ousadia dos traficantes da Rocinha que tentaram invadir a Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, no fim de semana.
Um grande tiroteio espalhou terror por cinco bairros da região. No confronto com a polícia, cinco pessoas morreram e outras 19 foram presas.
A Ladeira dos Tabajaras e Rocinha, pela proximidade de áreas nobres da Zona Sul, como Ipanema, Leblon, Copacabana, Botafogo, Humaitá e Lagoa, são os pontos mais cobiçados pelo tráfico de drogas.

Segundo investigações da polícia, o objetivo de Nem, que teria articulado a tentativa de invasão, cedendo homens e armas, seria tomar a Ladeira da facção rival para aumentar seu campo de atuação. A próxima meta seria invadir a favela Pavão-Pavãozinho, no mesmo bairro.

Central de distribuição de drogas

“A Rocinha é o maior centro de distribuição de 90% da droga que chega ao Rio. De lá, eles refinam, armazenam e distribuem para outras favelas. Com mais de três anos à frente da quadrilha, esse traficante (Nem) já consolidou sua posição como chefe, tem os contatos dos matutos (intermediário entre os produtores de drogas e os grandes compradores) e sabe para quem vender. Vamos desmontar essa rede”, aposta o delegado Marcus Vinicius Braga, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod).
Os investigadores sabem, contudo, que isso não será tarefa fácil. Numa estimativa conservadora, a polícia acredita que Nem conta com uma quadrilha de pelo menos 200 homens e cerca de 150 fuzis, além de outras armas.

Chefe do tráfico anda cercado de seguranças

Eles apontam, pelo menos, outras duas resistências invisíveis que impedem a evolução do trabalho sério da polícia e que costumam classificar de "operações de enxugar gelo": os usuários, que financiam o comércio da venda de drogas, como desabafou o secretário de Segurança José Mariano Beltrame, e os policiais corruptos, que recebem propinas e vendem armas apreendidas para os próprios traficantes.
Nas investigações policiais sobre Nem da Rocinha, ele é apontado como um traficante vaidoso, mas extremamente cuidadoso, evitando circular sem seguranças, mesmo na favela. No carnaval, financiou o bloco da comunidade, que forneceu as camisetas para os integrantes.
Em seu time, o "Rua Quatro", só jogam "craques" da bola e aliados de outras favelas. No fim do ano, no campeonato que disputou a taça com a "Família Valão", sua equipe venceu. Durante o jogo, à noite, a quadra ficou cercada de homens fortemente armados. Na comemoração, a cerveja foi liberada para os convidados, mas ele desapareceu com seus amigos e mulheres para tomar uísque em seu lugar mais seguro na Rocinha.

G1 > Edição Rio de Janeiro

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