terça-feira, 3 de junho de 2008

Disque-Denúncia recebeu 16 ligações sobre milícia do Batan

Favela de Realengo onde jornalistas foram torturados no dia 14 continua ocupada pela PM.
Deputados federais vão se reunir com Beltrame para debater o combate às milícias.

Alba Valéria Mendonça Do G1, no Rio.

Desde domingo (31) até a manhã desta terça-feira (3), o Disque-Denúncia recebeu 16 ligações com informações sobre supostos integrantes da milícia que torturou e manteve com o refém a equipe de reportagem do jornal “O Dia”.

As denúncias com nomes e alguns detalhes sobre a atuação dos suspeitos estão sendo encaminhadas para avaliação dos policiais da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco).
No dia 14 de maio, uma repórter, um fotógrafo e um motorista foram espancados, torturados e humilhados por aproximadamente 20 homens que usavam toucas ninja e que se diziam policiais, na Favela do Batan, em Realengo, na Zona Oeste da cidade. A equipe de “O Dia” e um morador foram torturados por sete horas e meia e depois deixados na Avenida Brasil.

Favela ocupada pela PM

Dezenas de policiais do 14º BPM (Bangu) estão reforçando o policiamento na Favela do Batan, desde a noite de sábado (30). Em uma operação realizada no domingo (31), policias encontraram numa casa que seria o quartel general da milícia dezenas de botijões de gás e material clandestino para instalação de TV a cabo. Nesta terça (3), o ambiente, segundo o batalhão, está tranqüilo na comunidade.

Políticas públicas contra milícias

Deputados federais da Comissão de Segurança Pública da Câmara terão uma reunião na tarde desta terça-feira (3), com o secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Gilson Pitta, o chefe de Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, e o delegado da Draco, Cláudio Ferraz. Na reunião, serão discutidas as medidas adotadas para solucionar o caso. Os parlamentares querem obter informações que contribuam para a adoção de novas políticas públicas e conduzam à forma de enfrentar as milícias.
O delegado Cláudio Ferraz disse na manhã desta terça-feira (3), que as investigações sobre a milícia que torturou a equipe de reportagem estão bem adiantadas. Ele afirmou que as vítimas já haviam prestado depoimento à Polícia e que ainda estão muito abaladas e sob proteção fora do Rio de Janeiro.
“Eles enfrentaram uma situação desesperadora e ficaram realmente muito abalados. Vieram momentos que nunca mais vão esquecer. Não há necessidade de exames de corpo de delito ou laudos médicos, pois sabemos que torturadores costumam usar técnicas que não deixam marcas pelo corpo”, disse o delegado que espera que em até 30 dias consiga prender todos os envolvidos.

Milícia está "vendendo" favelas ao tráfico

Na segunda-feira (2), o delegado Cláudio Ferraz afirmou que a milícia estaria devolvendo o controle das favelas ao tráfico, em troca de dinheiro. Ele disse ainda que as milícias estão fazendo um censo de moradores de áreas ocupadas, cujos resultados seriam repassados para políticos envolvidos com suas ações.
Segundo Ferraz, os grupos deram demonstrações de que não estão preocupados com a segurança dos moradores. Depois de dominar, explorar e ameaçar as comunidades, eles passaram a ganhar mais dinheiro, devolvendo o controle das favelas ao tráfico de drogas.
O delegado acrescentou que os milicianos têm também ligações com a política. “Nós temos, dentro da experiência no combate a esse tipo de crime, uma aproximação muito grande da atividade política. Então, eles exercem um domínio muito forte sobre a comunidade. Nesse caso específico, nós temos a informação de que eles estavam até providenciando um censo. Esse censo visaria no futuro, na época da eleição, uma negociação para que um determinado político que houvesse fechado um acordo com as lideranças milicianas pudesse ser o beneficiário dos votos nessa região”, explicou Ferraz.

G1 > Edição Rio de Janeiro .

Nenhum comentário: