sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Tragédias marcam a família Gracie

Tragédias marcam a família Gracie

A morte de Ryan, a perda mais recente da família, abalou a dinastia de lutadores.
Numa luta obstinada, o clã difundiu a técnica do jiu-jitsu no mundo.
Aluizio Freire Do G1, no Rio

Os Gracie não estão acostumados a derrotas. Mas a hipótese de que Ryan Gracie sucumbiu ao vício das drogas nocauteou o clã.

A morte do jovem e polêmico atleta, aos 33 anos, no último fim de semana, calou os campeões que evitam comentar o assunto e ainda tentam se refazer da tragédia. Apesar do destaque no noticiário policial, o episódio trouxe de volta a importante trajetória dos principais personagens que construíram um nome que hoje é sinônimo das mais sofisticadas técnicas do jiu-jitsu no mundo. As mortes são os maiores adversários da família.

Em uma reportagem do ano de 2000, o Fantástico mostrou as disputas dentro da família para usar comercialmente o nome Gracie (VEJA O VÍDEO). A reportagem também apontou as disavenças de Ryan com outros lutadores do jiu-jitsu do Brasil. O Fantástico também exibe documentos informando que Ryan tinha várias passagens pela polícia, inclusive por tentativa de homicídio.

Acesse o site do Fantástico

Morte na cadeia

Ryan Gracie foi encontrado morto na carceragem do 91º Distrito Policial, na Vila Leopoldina, na madrugada de sábado (15). O médico psiquiatra Sabino Ferreira de Farias, que tratou o lutador na delegacia, disse que um exame feito em Ryan deu positivo para o uso de cocaína e maconha. Ryan estava preso por tentativa de roubo.

Para acalmar o paciente, o psiquiatra deu uma combinação de medicamentos. Um laudo do Instituto Médico-Legal (IML) irá determinar a causa da morte.

Importância dos Gracie

“É inegável a importância dos Gracie nas artes marciais. Eles criaram uma técnica que ganhou espaço e respeito no mundo inteiro. É motivo de orgulho para todos nós saber que hoje existem brasileiros treinando agentes do FBI, os mariners americanos e outras organizações de segurança com conhecimentos adquiridos com os mais notáveis atletas dessa família”, diz Marcelo Alonso, editor da revista Tatame, que ressalta a importância dos Gracie na edição especial sobre os 14 anos do Ultimate Fighting Championship (UFC).

"O jiu-jitsu é como uma religião para a familia Gracie. É um mecanismo especial de sobrevivência, de segurar o futuro não só da familia, mas também da arte. Todos os Gracie ensinam aos parentes, desde criança, a tradicão, as técnicas e a filosofia da luta. Eles revolucionaram a arte marcial no mundo. Antes do jiu-jitsu ficar famoso no UFC, todos pensavam que a luta era controlada por socos e chutes. Depois da prova indiscutível de eficiência do jiu-jitsu, todos os conceitos foram definidos e hoje em dia todo lutador de vale-tudo tem que saber jiu-jitsu", afirma Kid Peligro, autor de Gracie Way, livro que conta a trajetória dos campeões.

Com seus 70 anos de história, os Gracie conseguiram difundir a técnica criada pelo patriarca Carlos Gracie no mundo inteiro. Ele aprendeu jiu-jitsu com o japonês Conde Koma, em 1917, e adaptou a luta para as mais avançadas modalidades de defesa pessoal.

No Brasil, quem conquistou o respeito em torno do nome Gracie foi Hélio, irmão mais novo de Carlos. Conhecimento transmitido de pai para filho, as lutas com a grife Gracie lotaram as arenas e transformaram as exibições em espetáculos de alto nível.

A dupla de gigantes

O mérito de levar o reconhecimento dos lutadores da família para o exterior cabe aos irmãos Rorion e Royce. Filho mais velho de Hélio Gracie, Rorion abandonou o curso de direito e, em 1978, resolveu divulgar o jiu-jitsu nos Estados Unidos.

Com dificuldades financeiras, Rorion criou seu próprio marketing, dando aulas em garagens e desafiando oponentes para divulgar seu trabalho e conquistar credibilidade no meio. O maior destaque, no entanto, ele conseguiu com o lançamento do vídeo Gracie in Action, quando recebeu apoio de empresários para realizar a primeira edição do UFC, em 1993. A partir dali, foi Royce que, nos ringues, mostrou ao mundo a eficiência da arte marcial criada por seu pai.

Royce repetia a obstinada defesa dos ideais da família iniciada por Hélio, que desafiou oponentes de vale-tudo entre os anos 30 e 50. Hoje, aos 95 anos, recolhido em seu sítio em Itaipava, na Região Serrana do Rio de Janeiro, Hélio se orgulha de ter transmitido os segredos do jiu-jitsu para seus discípulos.

Conquistas e tragédias

A família, no entanto, sofreria outros abalos. Carlson, filho mais velho de Carlos, foi o sucessor de Hélio. Campeão invicto por duas décadas e vencedor de 19 lutas, Carlson morreu no ano passado, aos 72 anos, de parada cardíaca provocada por complicações renais. Seu grande mérito foi popularizar o jiu-jitsu, transformando a técnica dos Gracie em domínio público.

Mesmo com as conquistas de Carlson, outro nome já se destacava na família: Rolls. Bom lutador, e, sem ter oponentes, competia em diversas modalidades. Ele chegou a revolucionar o jiu-jitsu com a mistura de outras técnicas. Rolls morreu em 1984, em um acidente de asa delta.

Outro do clã que morreu de maneira trágica foi o lutador e modelo Rockson Gracie, filho mais velho de Rickson Gracie. Morto em um hotel de Nova York, nos Estados Unidos, Rockson acabou enterrado como indigente. A família só anunciou a morte do rapaz dois meses depois. Um laudo do Medical Examiner's Office revelou que uma combinação de drogas e medicamentos matou o jovem, que era primo de Ryan.

Com o tempo, o nome Gracie Jiu-Jitsu passou a fazer parte da antologia das artes marciais e surgiram outros campeões na família. Um desses destaques é Rickson, irmão mais velho de Royce, considerado o maior ídolo na modalidade.

Outro símbolo que começa a ganhar espaço nos espetáculos milionários dos tatames é Roger Gracie. Com quase 2 metros de altura e pesando 100 kg, é o atual campeão mundial absoluto de jiu-jitsu. Entre vitórias e tragédias, a saga dos guerreiros continua.

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