Bancos de leite à míngua
Doações diminuem drasticamente entre dezembro e março, deixando bebês sem o alimento natural. Crianças prematuras, que precisam ganhar peso, são as mais prejudicadas com a falta
Rio - Época de festas para a maioria, o fim de ano é um problema para os que dependem dos bancos de leite. Nesse período — em que a preocupação com presentes e preparativos para as comemorações ocupam a agenda e as atenções de todos —, o número de doações, ato de vital importância para muitos prematuros e crianças com alergia alimentar, cai acentuadamente. O banco de leite do Instituto Fernandes Figueira (da Fiocruz), que recebe 500 litros de leite mensalmente, conseguiu apenas 100 litros nos primeiros 15 dias de dezembro — uma baixa dramática.
“Nessa época do ano, a gente chora aqui. Apelamos para amigos que têm consultórios e perguntamos se conhecem mulheres que estejam amamentando e poderiam ser fornecedoras. Também pedimos para as mães tentarem trazer outras doadoras. Não chega a faltar leite para os bebês internados. Mas se vem uma criança de 1 ou 2 anos com alergia alimentar e que vai precisar de leite até não se sabe quando, não temos como garantir isso”, lamenta Daniele Aparecida Silva, engenheira de alimentos no banco de leite.
Daniele conta que o problema da redução de doações não é exclusivo do instituto: “Não é um serviço pago. Então, a gente conta com a solidariedade das mães que têm leite suficiente e podem doar. Nas férias, muitas mulheres viajam e todos os bancos de leite têm essa dificuldade entre dezembro e março. O pior é que somos referência e não temos para onde encaminhar as crianças”, explica Daniele.
A engenheira destaca a importância do leite materno para as crianças, principalmente as prematuras. Sem ele, o ganho de peso é menor: “O organismo humano é preparado para receber leite humano. Se você dá um leite que não é materno ao recém-nascido, principalmente ao prematuro, o gasto energético que ele vai ter para conseguir absorver esse leite industrializado é maior do que o que ele vai ganhar com o leite. E ele não ganha peso”, explica Daniele. Ela acrescenta ainda que o leite materno é de fácil digestão e protege contra doenças.
Mães pedem ajuda para seus bebês
Mãe do pequeno Gabriel de Souza Silva, prematuro de seis meses, Ângela Nerícia de Souza Silva, 43 anos, conhece o poder do leite materno e da solidariedade. Ela, que tem outro filho, com 15 anos, não tem leite suficiente para oferecer a Gabriel, com um mês de vida e apenas 1,2Kg.
“Fiquei muito preocupada porque ele agora precisa de 16ml de leite de duas em duas horas, e eu consigo menos de 5ml. Meu outro filho mamou até os quatro anos, mas agora eu não tenho leite. Felizmente, há mulheres que sabem da importância desse tipo de doação. Gabriel precisa muito delas. Ganhando peso, ele vai ter alta rápido”, anima-se Ângela.
Mas, já prevendo dificuldades à frente, a mãe de Gabriel estimula o peito para tentar obter leite quando ele receber alta. “Caso contrário, vou continuar precisando do leite doado”. Ângela se arrepende de não ter sido doadora: “Fico triste. Quando tive meu primeiro filho, não sabia de bancos de leites. Poderia ter doado, porque leite não me faltava”.
Filho de Tatiana Medeiros, 23 anos, Luiz Gustavo também se alimenta graças à solidariedade de mulheres que nunca o viram. “Ele precisou ficar internado porque teve um problema respiratório e acabei ficando sem leite”, conta Tatiana.
PARA SALVAR VIDAS
PRIMEIRO PASSO
Telefonar para o Bombeiro Amigo do Peito (0800-26-88-77) e dizer que quer ser doadora. A atendente vai explicar, por telefone, como a doadora deve coletar o leite.
PERFIL ACEITO
Logo depois, um médico telefona para perguntar sobre condições de saúde e exames pré-natais. Pessoas com doenças como hepatite e HIV não podem ser doadores.
ARMAZENAGEM
Uma vez por semana, uma ambulância do Corpo de Bombeiros vai buscar o leite armazenado pela doadora, que deve ser guardado no congelador. O material passa por testes, é classificado, pasteurizado e depois fornecido.
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