Bons velhinhos se preparam para o Natal
Todo ano, os papais noéis da Escola São Nicolau se arrumarem juntos em hotel.
Eles chegam a faturar R$ 1 mil visitando casas de família na noite de Natal.
Toda véspera de Natal, há uma sala na cobertura de um hotel na Praça Tiradentes onde nenhuma criança pode entrar. Das 15h à meia-noite, o espaço fica reservado para cerca de 15 papais noéis, que passam boa parte da véspera de Natal ajeitando o visual de bom velinho para não decepcionar as crianças – e seus pais exigentes – que os esperam ansiosamente em suas casas.
A concentração é organizada pela Escola São Nicolau, que treina e agencia profissionais para trabalhar em residências na noite de Natal. Os destinos são, na maior parte das vezes, a Barra da Tijuca ou bairros da Zona Sul do Rio. Lá, os papais noéis dão o ar da graça, por cerca de duas horas, a um preço de R$ 400. Metade desse dinheiro vai para os bons velinhos que, visitando até cinco residências na noite de natal, chegam a faturar R$ 1 mil.
Durante as horas de concentração, os bons velhinhos - na maior parte profissionais aposentados - dão conta da árdua tarefa de entrar dentro de uma fantasia de quase dez itens: são botas, barbas, tocas, luvas, calças, blusas, óculos, casacos e outros apetrechos. Entre uma peça e outra, os bons velinhos, muitos dos quais já estão no ramo há mais de cinco anos, aproveitam para trocar experiências.
Os profissionais mais antigos dão conselhos aos novatos. Eles ensinam como andar, como contornar as perguntas-sem-resposta das crianças e até como impostar a voz para atingir um belo “ho-ho-ho”. Tanta dica, no entanto, é excesso de zelo. Todos os papais noéis são diplomados; eles passam por um curso de 16 horas para se capacitar para o trabalho.
“Quanto tempo tem sua barba?” era uma das perguntas mais ouvidas. Tanto rebuliço em torno do assunto tem justificativa. A barba e o cabelo brancos naturais são características valorizadas no ramo. Os papais noéis 100% originais são mais procurados e acabam faturando mais. Outro traço físico importante é a silhueta arredondada. Papais noéis magrinhos não são muito requisitados.
“As crianças estão cada vez mais exigentes. Elas puxam a barba para ver se é de verdade”, diz Jorge Augusto Dias, de 41 anos, o papai noel caçula do grupo, que pretende começar a deixar a barba crescer em janeiro para o próximo Natal. Apesar de admitir que o dinheiro é um atrativo, Jorge garante que o que mais o motiva são as crianças “A energia que elas passam não tem igual. Fazer esse trabalho me dá fôlego para enfrentar as dificuldades e problemas do ano seguinte.”, explica ele.
Depois de se arrumarem, os papais noéis são levados de táxi – não de rena – para seus destinos. Antes, no entanto, eles recebem uma senha, que precisam decorar para poderem entrar na casa que os contratou. “A senha é dada por segurança, para evitar que alguém mal-intencionado se passe por um de nós e consiga entrar na casa de um de nossos clientes fantasiado de papai noel”, explica o diretor da escola, Limachem Cherem, que faz o trabalho há 14 anos. Sua empresa atende a cerca de 50% dos shoppings da cidade, no período de Natal. Na agenda, Cherem tem também clientes famosos. Já contrataram seus serviços atores como Claudia Raia e Tony Ramos. O jogador de futebol Bebeto e a jogadora de vôlei Leila também estão nessa lista.
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