segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

ESTADÃO - PERDENDO AS ESTRIBEIRAS e COMEMORANDO O NATAL EM 27 DE OUTUBRO




JORNAL – O ESTADO DE SÃO PAULO
OPINIÃO – 1 de dezembro de 2007.


PERDENDO AS ESTRIBEIRAS

Nunca antes no seu governo o presidente Lula encontrou tanta resistência no Congresso a algo que considera vital para os seus interesses, como agora no caso da prorrogação da CPMF até 2011. O Planalto, ao contrário do que afirma todos os dias o presidente, não tem garantidos os 49 votos de que necessita, em duas rodadas, para a aprovação da respectiva emenda constitucional. Isso explica, primeiro, o verdadeiro terrorismo de Estado a que se lançou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ameaçando com um "ajuste irracional" do gasto público se o imposto do cheque não passar no escrutínio inicial marcado para a próxima quinta-feira. Outro espantalho agitado pelo governo é o de que, sem a CPMF, "será preciso mudar a política monetária" - eufemismo do senador Aloizio Mercadante para designar a interrupção da tendência de baixa da taxa de juros (como se, para o bem ou para o mal, o Banco Central obedecesse a comandos do Planalto).
O receio da derrota explica também, mas não justifica, as mais recentes manifestações públicas de Lula, incompatíveis com a sua função. Claro que não é a primeira e nem será a última vez que ele rebaixa o cargo com surtos de apoplexia, quase sempre acompanhados do seu complemento: a apoteose mental. Mas agora, com o risco do fracasso subindo-lhe à cabeça, se divorciou por completo do respeito elementar, se não aos adversários - como mandam as regras do jogo democrático -, à própria verdade histórica. Perplexos com sua expressão iracunda nos telejornais da quinta-feira, muitos telespectadores talvez não tenham notado as distorções da verdade que cometeu em pelo menos duas passagens de sua fala, ao comemorar o término da restauração de um trecho de 8 quilômetros da BR-259, em Colatina, Espírito Santo. De uma feita o seu alvo foi o Democratas (DEM). De outra, o ex-presidente Fernando Henrique.
Prosseguindo com a série de ataques ao partido que se recusa a negociar seu voto, iniciada nas entrevistas desta semana a emissoras de televisão, chamando-o pelo antigo nome, PFL, primeiro Lula disse que o partido se opõe ao imposto porque não vai precisar dele, já que jamais chegará ao governo, para em seguida insinuar que tem parte com a sonegação. "Quem tem medo da CPMF é quem sonega imposto", trovejou. É certo que o imposto do cheque é insonegável, mas, se o combate à burla tributária fosse o verdadeiro objetivo do governo para manter o imposto, bastaria reduzir a sua alíquota do atual 0,38% para um valor meramente simbólico, 0,01% por exemplo, que o resultado seria rigorosamente o mesmo, em termos de identificação de sonegadores. Assim, a prorrogação da contribuição passaria tranqüilamente com votos de todos os partidos, inclusive os do Democratas. Mas não é disso que se trata, e sim de facilitar o esbanjamento de recursos públicos.
O que Lula não entende é que, depois que a coerência doutrinária do Partido dos Trabalhadores foi para a lata de lixo, o antigo PFL é o único partido coerente e fiel ao seu programa neste país do mensalão. A raivosa reação de Lula ao partido que vai votar contra o governo é idêntica à de seu amigo Chávez contra os venezuelanos que vão votar "não" à sua constituição fascista.
Mas pior do que a agressão ao ex-PFL foi a história que inventou sobre o ex-governador Vitor Buaiz, "o meu grande companheiro que comeu neste Estado (Espírito Santo) o pão que o diabo amassou... acreditando que o presidente Fernando Henrique Cardoso iria ajudá-lo, e não ajudou". Na verdade, o diabo que amassou o "pão" que ele comeu naquela ocasião não foi o presidente Fernando Henrique, mas sim o Partido dos Trabalhadores.
Buaiz, o primeiro governador petista, eleito em 1994, foi expulso do partido por fazer um governo desatrelado dos seus velhos dogmas, o que incluía manter relações fluentes com o governo Fernando Henrique.
O desapreço de Lula pela verdade dos fatos, que qualquer pessoa interessada pode conferir sem problema, tem no seu desenfreado triunfalismo o complemento do gênero "pior que a emenda". Almoçando em Vitória, na sede do governo, ele alcançou um novo patamar em matéria de autocelebração. Agora ele simplesmente profetizou que, "melhor que este Natal, só o que (sic) nasceu Jesus Cristo". A prosseguir nessa euforia, não tardará a propor que os brasileiros passem a comemorar o Natal no dia 27 de outubro, sua data natalícia.

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